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Vitor Negrete dá dicas do Monte Aconcágua até Plaza de Mulas

Redação Webventure/ Montanhismo

Plaza de Mulas é o acampamento base da Rota Normal, ou rota norte do Aconcágua, a maior montanha das Américas com 6.962m. A Rota Normal é a rota mais fácil para se atingir o cume da montanha e consequentemente, a mais transitada e popular.

O trekking de Plaza de Mulas é muito bacana. Por outro lado, dependendo das condições climáticas, também pode ser duro e difícil e exige cuidados no planejamento e escolha dos equipamentos. O trekking percorre o mesmo caminho das expedições que pretendem escalar a Rota Normal. Pode-se entrar em contato com todo este mundo de expedições, montanhistas de diferentes partes do mundo, mulas, helicópteros e tudo mais.

O trekking é indicado para pessoas que não tem a pretensão de chegar ao cume mas querem sentir a vibe do Aconcágua, sem precisar de equipamentos caros e sofisticados e sem gastar muito dinheiro. Subir até Plaza de Mulas também pode ser uma preparação para uma futura tentativa de escalada da montanha.

Subindo até Plaza de Mulas cada um pode avaliar se gosta da montanha, se fica bem adaptado à altitude, e pode usar a experiência para se sentir mais seguro em relação a rota, logística e equipamentos necessários.

Aproximação – Existem dois vales para aproximação para a escalada do Aconcagua. O vale do rio Horcones e o vale do rio Vacas. Cada um destes vales tem uma entrada para o parque provincial do Aconcágua, sob responsabilidade da Dirección de Recurso Naturales Renovables da Província de Mendoza, que administra o parque e que mantém e controla o serviço dos Guarda Parques. Para a Rota Normal, entra-se por Horcones.

No Acampamento de Confluência, nosso primeiro acampamento, a rota de divide em duas: Horcones Superior que leva a Plaza de Mulas e Horcones inferior, rota que leva a Plaza Francia, o acampamento base da Parede Sul. A entrada pelo vale de Vacas leva ao Glaciar dos Polacos.

Mesmo quem pretende caminhar até Plaza de Mulas precisa retirar o permisso para Trekking no posto de emissão de permissos do Parque do Aconcagua, em Mendoza. Já faz alguns anos que este permisso deve ser retirado pessoalmente. O valor do permisso é de oitenta dólares para estrangeiros e de 80 pesos para os argentinos.

Para quem quer fazer o trekking, indico o seguinte roteiro:

  • Reserve pelo menos dois dias para Mendoza, para conhecer a cidade, que arrebenta em culinária e tem os vinhos mais famosos da Argentina, e para os preparativos que envolvem compra de alimentos, retirada do permisso, aluguel de algum equipamento que faltou. Também acho extremamente interessante entrar em contato com os serviços de mulas ainda em Mendoza, para confirmar as condições e preços da temporada. Indico duas empresas: a do Hotel Refúgio Plaza de Mulas e a Aymara;

  • Procure sair bem cedo para Puente Del Inca, a localidade mais próxima da entrada do parque. Ainda existe a possibilidade de ficar em Los Penitentes. Chegando em Puente del Inca procure logo o local de entrega de carga para as mulas e combine a hora em que vai deixar as suas coisas. Se você tiver tempo é interessante passar um dia em Puente del Inca e realizar alguma caminhada leve. Isto ajuda na aclimatação.

  • Entre bem cedo no parque, faça o registro de entrada na barraquinha dos guarda parques (2850m) e caminhe uns 7km até Confluência (3320m), seu lugar de acampamento. Na sua mochila, leve somente o que você vai precisar para o Acampamento de Confluência.

  • No dia seguinte caminhe em direção a Plaza Francia e volte até Confluência, onde deixou o acampamento montado. Esta caminhada deve ser tranquila. Você não precisa chegar até o local de acampamento de Plaza Francia, que fica bem longe. Percorrendo a trilha você verá a imponente face sul do Aconcágua se descortinando por detrás do cerro Mirador, de onde a expedição francesa que subiu a parede pela primeira vez em 1954 observou a montanha.

    Quando você contratar a sua mula em Puente del Inca, peça para ela subir somente no dia em que você planeja percorrer o trecho de Confluência a Plaza de Mulas, assim, quando você sair de Confluência, deixa um pacote com seus equipamentos (barraca, saco de dormir, fogareiro, etc) que serão recolhidos pela mula, que durante o dia irá te ultrapassar e chegará a Plaza de Mulas antes que você.

    É preciso ter claro que, fazendo isto, você ganha em peso, ganha velocidade, mas precisa percorrer os 23km até Plaza de Mulas neste dia, pois todas as suas coisas estão na mula.

    Uma opção conservadora para a subida, mas pouco usual, é a de levar uma mochila com barraca, saco de dormir, algumas roupas, head lamp, fogareiro, combustível e comida e acampar em Ibañes (3960m), no final da lendária Playa Ancha, para dividir a jornada de Confluência-Plaza de Mulas em dois dias.

    Em Ibañez, cuidado: monte a barraca fora da linha de queda de pedras da encosta. Uma outra opção para o envio de carga, mais cara, é a de contratar duas mulas, uma para levar suas coisas até Confluência e outra para levar as suas coisas de Confluência até plaza de mulas. Existem várias alternativas, pense em qual se adapta melhor a você a ao seu bolso.

    Lá, a rota naturalmente segue para a direita e já se pode ver ao fundo o Cerro Cuerno. Continuando se chega aos escombros de um antigo Refúgio de Guarda Parques, conhecido como Colômbia (4050m). De Colômbia existem duas rotas de subida. Uma que vai diretamente até Plaza de Mulas, pela direita e outra, pela esquerda, que sobe pela cuesta brava e leva até o Hotel Refúgio Plaza de Mulas.

    O Acampamento de Plaza de Mulas (4.270m), o da rota da direita é formado por barracas de todos os tamanhos e as diferentes empresas que operam no Aconcagua têm as suas bases com barracas- restaurante e barracas dormitório.

    Neste lugar também fica a barraca dos médicos do Parque. É um lugar movimentado e agitado, onde não existe conforto. De outro lado, o Hotel Refúgio Plaza de Mulas impressiona pelo seu tamanho, construção e solidez.

    É um hotel com quartos, hall, salas e até mesa de ping-pong. No Refúgio se pode alugar um quarto com pensão completa e até adquirir banhos, que saem algo em torno de dez dólares americanos. Escolher entre os dois lugares depende do estilo de cada um. Normalmente um telefone público fica habilitado no Hotel.

    No hotel ou no acampamento – Alojado em Plaza de Mulas, tire pelo menos um dia de descanso, comendo bem e ingerindo muita, muita água. O ideal é beber pelo menos uns 4 litros de água. O que não é uma tarefa fácil. Para controlar, leve duas garrafas pet de refrigerante vazias e prepare algum suco ou isotônico nelas e vá bebendo até terminar com as duas durante o dia.

    Plaza de Mulas pode ser a base para caminhadas e para outras subidas. Caminhe e curta este lugar pitoresco e até controvertido chamado de Plaza de Mulas, na base do Aconcágua.

    Para a descida contrate uma mula, saia bem cedinho e vá em uma tacada só até Puente del Inca. Tenha fé, é possível. Quando voltar a civilização vai estranhar que as pessoas caminham sem usar bastões.

    AVISO: A subida do Monte Aconcágua apresenta riscos. Problemas com a aclimatação, mal julgamento das situações, falta de preparo físico e psicológico e equipamentos impróprios podem levar a sérios danos, inclusive à morte. Um texto nunca fornecerá todas as informações necessárias. A experiência de um profissional é insubstituível.

    Para tanto sempre aconselho que todos realizem suas primeiras escaladas com uma empresa ou com guias experientes. Entretanto, defendo o direito de cada um decidir como quer escalar e que desta forma, também, esteja preparado para imprevistos e outras consequências mais sérias. Quando você percorre estas rotas, assume a responsabilidade pela sua segurança.

    O roteiro proposto considera pessoas fortes, em perfeito estado físico e com boa aclimatação. Uma consulta detalhada com seu médico é indispensável para esta viagem.

    Vitor Negrete é um dos brasileiros que mais conhecem o Monte Aconcágua. Escalou a montanha 5 vezes. Juntamente com Rodrigo Raineri escalou a Face Sul, escalada inédita para brasileiros até hoje; subiu duas vezes pela Rota direta do Glaciar dos Polacos, uma em solo (sozinho e sem usar cordas) e na segunda vez guiou Ana Elisa Boscarioli, uma das poucas brasileiras a chegar ao cume por esta rota.

    Foi chefe da expedição que levou Rodrigo Raineri, Antonio Carlos Soares e Roman Romancini e a ele ao cume do Aconcágua no Inverno de 2004 pela rota Normal e subiu também em solitário pela Rota Normal no verão. Guia cursos de escalada em cascatas de gelo na entrada do Parque do Aconcágua, no inverno. É Personalidade e colunista do Webventure.

    Este texto foi escrito por: Vitor Negrete

    Last modified: fevereiro 16, 2005

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