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Minha Aventura: Viajando de moto do pantanal ao Oiapoque

Redação Webventure/ Offroad

Sempre tive o sonho de fazer uma viagem longa de moto, conhecer lugares diferentes e belas naturezas, mas sempre o trabalho tomava todo o meu tempo… Chegou a hora em que tive que “chutar o balde”. Em julho de 2005 resolvi fazer a minha tão sonhada viagem.

Sonhava em ir do Chuí ao Oiapoque, mas como estava fazendo faculdade de Direito e o tempo era curto, pensei: se não posso ir do Chuí ao Oiapoque, vou pelo menos até ao Oiapoque. E assim foi.

No dia 14 de julho de 2005 peguei a rodovia Cuiabá/Santarém (BR-163) numa moto 125cc bross Honda. Eram 06h30 e eu já estava em Guarantã do Norte, a 750 km de Cuiabá. Achei que rodei bem. No dia seguinte fiz algumas filmagens e fotografias e, de novo na rodovia, começava a estrada de terra e subi a Serra do Cachimbo. Entrando no Pará, passei por cada igarapé cristalino, que de em vez em quando parava pra dar uma refrescada, pois o calor e a poeira eram insuportáveis.

Naquele dia a viagem só rendeu 200 km. Fui dormir em Castelo do Sonho, mesmo rodando só poucos quilômetros ainda valeu a pena, lugares muito ímpares que ainda não tinha visto. Mas naquele lugar onde passei a noite o preço de hotel e a cervejinha já eram um pouco mais caros, não tinha sinal de celular e o telefone público era uma dificuldade para completar alguma ligação.

Enfim, no dia seguinte procurei uma loja para comprar uma camiseta de manga longa, pois a minha já era pura poeira sem condições de uso e o moço da loja queria me vender uma malha parecida com aquele uniforme do exercito ou IBAMA (camuflado).

Falei: “O senhor está doido? Quer me ver morto?” É que naquela semana uma operação conjunta com Polícia Federal, Exercito e IBAMA tinham fechado todas as madeireiras da região e se alguém me vise com um uniforme parecido era “chumbo” na certa. Abasteci a companheira (moto) e “pé” na estrada. Por volta do meio dia avistei um monomotor sobrevoando bem baixo, logo adiante uma placa aeroporto e saí da rodovia para tentar trocar algum papo com o piloto.

Chegando lá ele estava com um galão abastecendo o avião, comecei a filmar e logo uma passageira veio ficar ali bem perto de mim. Perguntei pra ela se tinha algum problema filmar, ela falou que não, e assim continuei. Era hora do almoço no pequeno aeroporto, estavam todos ausentes e o piloto já preparado já andava com sua própria gasolina e por alguns minutos ficamos ali papeando.

O piloto achou estranho porque estava de luva e bota e perguntou o que eu estava fazendo ali. Falei que era um doido que saiu do hospício e fui dar uma volta de moto (é que ele não tinha visto a moto), aí ele ficou horas conversando comigo dizendo que também já se aventurara pela transamazônica de moto e me deu umas dicas da região.

Assim, ele levantou vôo e eu rumo à estrada. Ao entardecer um marimbondo entrou pela minha viseira e levei aquela picada, parei a moto de qualquer jeito tirando afobadamente o capacete. Sorte que foi só um, mas me deixou a boca e parte do rosto do lado esquerdo tão inchado que nem me conhecia no espelho!

Parei na próxima cidade, Moraes de Almeida, estava vermelho de pó e com o “beiço” que mal cabia dentro do capacete de tão inchado que tava. O pessoal do hotel me olhou desconfiado e naquele dia tive que tomar uma cervejinha para relaxar. Pedi ao moço do hotel que batesse na minha porta às 5hs para que pudesse pegar a estrada bem cedo pra ver que a viagem rendesse, pois a próxima cidade, que tinha caixa eletrônico, Itaituba na foz do rio Tapajó, ficava distante a 350 km.

Mas, com veneno do maribondo e a cerveja não teve quem me acordasse no outro dia, só faltou arrombar a porta. Quando levantei olhei no relógio eram 11h30, não acreditei e fui olhar as horas na recepção. Realmente tinha dormido demais, o jeito era passar o dia na cidade, o dinheiro tava pouco e não dava pra pagar mais uma diária do hotel, pois como falei antes banco só a 350 km e precisava do dia todo. Até valeu a pena, fui almoçar e procurava sempre um restaurante perto da rodoviária, pois o “din-din” estava curto.

No meio do caminho encontrei um senhor que estava hospedado no mesmo hotel e me contou que na churrascaria tinha um pessoal de jipe e moto que estavam se aventurando naquela região. Fui lá pra conhecer, puxei conversa e um deles fez pouco caso (eram os jipeiros daqui de Cuiabá) e falou pra mim que não estavam juntos com os motoqueiros. Em numa mesa próxima estavam os dois motociclistas, era o Rogério e o xará (Edgar), sendo o Rogério de Cuiabá e xará de São Paulo.

Eles estavam vindo de Santarém, estavam numa expedição em quatro motociclistas, um ficou em Manaus, outro ficou no barco e seguiu viagem direto para Belém, pois estava já muito tempo longe da família. Trocamos algumas informações do trecho e nos despedimos. Como era domingo teria que passar o dia inteiro naquele lugar, fui conhecer um vilarejo na rodovia do ouro, passando por vários lugares de clube de lazer onde o pessoal se refresca nos finais de semana.

A energia na vila era no motor e cada casa tinha o seu. Aconteceram tantas surpresas que se eu for contar tudo não vou sair daqui. Até conheci um colega de adolescência no baile a noite. No dia seguinte como fiz mais amizade com o proprietário do hotel, e já estava duro, paguei com cheque e ele me apresentou o dono do posto de gasolina que também paguei com cheque. Tudo resolvido, já dava pra chegar até a cidade que tinha o tal do caixa eletrônico. Naquele dia, pé na taboa e consegui percorrer os 350km até Itaituba.

Achei um hotel bem em conta, quando amanheceu resolvi ficar um dia naquela cidade pra conhecer melhor e fazer umas comprinhas de roupas, pois as que tinham estavam muito sujas e precisava lavar. Passando o dia naquela cidade pude pegar muita informação e me disseram que quase ninguém usa a estrada para ir para Santarém, meu próximo destino. Tinha uma lancha que saia às 18h e chegava à meia noite, mas não levava a moto, então a solução era ir de barco, que saia no mesmo horário, só que chegava no outro dia por volta das oito e era uma viagem mais gostosa.

Então, como já estava cansado e com medo de não fazer mais outros 350km no mesmo dia e o medo que o pessoal me colocou daquele trecho, como assalto e outros coisas a mais, resolvi ir de barco. Fiz muita amizade e chegando ao porto de Santarém tinha um monte de gente querendo carregar bolsa, ajudante pra descer a moto, passageiro para o táxi, etc…

Fui direto pra um lugar chamado Alter do Chão, que maravilha!!!! Lugar de inúmeras praias bonitas, água quentinha e cheia de turistas do mundo inteiro. Eu pensava que era apenas uma simples cidade na margem do rio Tapajós com o Amazonas, para servir os barcos e grandes navios que levam os diversos produtos do Brasil para o exterior.

Enfim, por lá fiquei mais dois dias, pois o lugar era tão bonito que foi difícil ir embora. Peguei outro barco que ia para Macapá, mas comprei a passagem até Almeirim, distante antes 400 km e assim como sempre conheci muita gente no barco.

O capitão era meio fechado, mas peguei tanto no pé até ele ceder um pouco e entrar na brincadeira. Contei inúmeras piadas, filmei e fotografei tudo o que tinha direito, tomei todas na noite posterior (ainda dentro do barco) e fui dormir na parte debaixo, no meio de tantas mercadorias, onde era mais aberto e estava mais fresco.

Resolvi então pagar a diferença de passagem e ir direto a Macapá, pois a viagem tava muito boa naquele barco. Chegando a Santana, 20 km antes (onde era o porto de Macapá) desci a moto e tinha mais um monte de gente tentando faturar uns trocados dos viajantes. Paguei R$5 para descer e lá na portaria, bem mais em cima, tinha um senhor com um talãozinho na mão querendo me cobrar mais algum trocado.

Ele saiu meio resmungando, já que eu já tinha pago ao descer, ele retrucou, mas mesmo assim montei na moto rumo à capital do Amapá (20 km). Adorei a cidade, tirei umas fotos e quando fui filmar não deu 3 minutos e lá se foi a bateria. Tomei um café com uma segurança que trabalhava num antigo porto que tem um bondinho para levar turistas uns 500 m pra dentro do rio e volta (braço do porto).

Eram 7h da manhã e tinha muita gente fazendo caminhada. Despedi-me daquela moça educada e fui direto para a rodovia que liga a capital à cidade de Oiapoque.

Foram mais ou menos 230 km de asfalto e depois chão novamente. Passei numa cidadezinha chamada Tartarugalzinho, onde tirei uma foto bem em frente à prefeitura, onde ficou bem estampado o nome do lugar, que é motivo de risos pra quem vê, falando que aquela foto é montagem.

Depois de algumas horas a mais, por volta do meio dia, parei numa cidade chamada Amapá (o mesmo nome do estado) para almoçar e aproveitei para carregar a bateria da filmadora. Fiz uns telefonemas para casa para matar um pouco a saudade, já estava a 180 km para chegar ao Oiapoque, mas consultando o mapa vi que tinha um lugar chamado Almeriana no oceano atlântico, uns 15 km aproximadamente dali.

Perguntei para os moradores e ninguém soube me informar desse lugar. Eu perguntava “Não é possível, tem aqui no mapa. Não tem essa estradinha que liga até lá”?

Pois não tive sucesso, ninguém conhecia e também não achei a tal estrada. Seguindo em frente parei num cruzamento onde tinha um posto de gasolina e me informei novamente do lugarejo e ninguém conhecia. Perguntei: “E Goiabal, também tem aqui no mapa e fica a uns 23 km daqui”. Aí o pessoal conhecia e me informou como chegar lá.

Para despistar, pois tinha medo de assalto, falei que ia passar na volta, pois meu destino era Oiapoque. Eu nunca falava onde era o meu destino e quem me perguntava dava o parecer que ia para o outro sentido. Era já meio entardecer, passei por uma ponte que tinha caído e estavam refazendo a ponta, onde a moto teve que passar por uma prancha bem estreita e molhada, pois tinha chovido alguns minutos antes.

Fui embora seguindo por uma estrada bem estreita e pedindo informação a quem encontrava. Em certa altura da estrada ficou somente pântano dos dois lados, onde tinha muitos búfalos. Quando eu estava quase chegando, apareceu um monte de búfalos bem no meio da estrada e não tinha como passar por fora, já que era tudo pântano. Parei a moto, buzinei pra ver a reação dos bichos, mas nada deles se levantarem.

A gasolina não dava mais pra voltar e estava ficando escuro. Eu queria ver o mar e pensei… “Que se dane” e fui! No momento que eu avançava a moto eles iam levantando e eu no zig-zag passei pela manada. Chegando à vila avistei de longe umas casinhas, pessoas brincado de bola e filmei um pouco. A praia era bem rasa e a água era barrenta e cheia de grandes raízes que ali se estabeleciam, arrastadas pelas águas.

Eu me aproximei das casas e parei numa venda, ou melhor, num botequinho de madeira que vendia somente bebidas. Não tinha naquele lugar nenhuma pensão, posto de gasolina, nada vezes nada.

Pensei comigo mesmo que pra tudo tem um jeito e ali fiquei. Chegou um rapaz com sua esposa e filho, depois outro senhor com o apelido de reboque (por beber umas pinga brava), que me pediu um gole de pinga. O dono e o pessoal que chegava falaram pra não dar para ele, porque ia perturbar. Tadinho… quis comprar pra ele uma garrafa inteira, mas fiquei na minha e fiz o que me tinham pedido.

Logo fiz amizade com o pessoal, bem disfarçadamente depois de uns goles de cervejas pedi uma garrafa de pinga, falei que era pra mim e por debaixo da mesa dava pro “véinho”. A certa hora da noite o rapaz que estava com sua esposa e filho me chamou pra dormir na casa dele. Como eu não tinha lugar pra dormir, aceitei de imediato.

No dia seguinte acordei bem cedo e aproveitei pra dar uma caminhada na praia, voltando da caminhada parei numa casa em frente onde passei a noite. Tinham dois garotinhos, o André e o Thomas, que tinham em média seis e sete anos. Eles acharam engraçada a câmera de filmar, nunca tinha visto uma, filmei eles e depois colocava pra verem a filmagem.

Logo em seguida chegou uma senhora carismática (avó deles) com um balde de leite e me ofereceu um copo. Na curiosidade de tomar o leite de búfala eu aceitei, achei tudo igual à de uma vaca, bom… resumindo naquela manhã continuei a viagem rumo ao meu próximo destino: Calçoene (trevo aonde vai pro Oiapoque e o único posto da região) com o pouco da gasolina que me restava no tanque, pois nesta vila não tinha onde comprar.

Fui bem devagar em marcha leve pra economizar e consegui chegar até o posto. Abasteci e continuei minha viagem, onde passei por algumas reservas indígenas e por atoleiros. Quando faltavam 30 km para chegar, peguei uma chuva forte, subi uma serra que era pura lama, teve um lugar que a moto deslizava tanto que parecia que mão ia subir. Num ponto da serra tinha umas crianças brincado na chuva, que logo se aproximaram e me faziam inúmeras perguntas. Juntaram na traseira da moto e começaram a empurrar me ajudando a sair de uma valeta. Quando foi por volta das 17h cheguei ao meu destino, a tão sonhada Oiapoque.

Na volta contarei em breve… Só posso adiantar que passei por Manaus e peguei a BR-319 que liga Manaus a Porto Velho, uma rodovia abandonada onde não tem qualquer recurso num percurso de 600 km, onde se deve comprar gasolina antes. Ainda à noite, não se devem arriscar quem está de moto, pois a onça come o “cabloco” se ele bobear… Ah! Tive que dormir no meio da mata… .Em breve terminarei essa história.

Este texto foi escrito por: Edgar Gripp

Last modified: julho 12, 2006

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