Direto de Seabra (BA) – Paulo Polido é o único piloto deficiente físico este ano a competir no Rally dos Sertões. Ontem, na quinta etapa do rali, Paulo disse que o rali tem sido muito bom para ele, uma superação a cada dia.
Mas Paulo não é um piloto comum: com 27 anos, é paraplégico desde os 19 devido a um acidente numa prova de motocross e faz tratamento com células-tronco adultas. Um competidor da vida acima de tudo. Foi com esse tratamento que Paulo consegue hoje andar com ajuda de andador e recuperou boa parte dos movimentos inferiores.
Estou me surpreendendo em relação a tudo, está sendo muito bom. É algo difícil de explicar, só o fato da superação já é importante. Passei pelo quinto dia de prova, então o objetivo é chegar em Porto Seguro.
A quarta especial não foi feita por Paulo, pois ele quebrou em Minaçu/ Palmas, ficando sem a tração do carro, sem o diferencial e as duas homocinéticas. Acabei não fazendo, fui direto para Corrente (PI). Por um lado, dei azar de ter forfetado e por outro dei sorte pois foi uma etapa muito difícil, complicada, referindo à especial do Jalapão.
Adaptações especiais – Para correr o Sertões, o piloto Paulo Polido precisou mudar todas as funções para a mão. O acelerador e o freio ficam abaixo do volante. Ele explica: Quando você puxa, acelera, e quando você empurra, freia. Nós estamos trabalhando a embreagem colocando a base de hidrovácuo, com ar comprimido.Então eu tenho um gatilho rápido na bola de câmbio e quando eu aciono, solta o ar comprimido e puxa o hidrovácuo, que puxa o pedal. O piloto explica que a troca de marcha é quando ele acelera progressivamente e vai liberando a embreagem progressivamente também. O pedal existe, mas é adaptado.
O pai de Paulo Polido, Alcides, é o navegador do carro 237, que corre na categoria Protótipos. A relação com meu pai é muito boa, sempre nos demos bem. Antes do meu acidente, depois do meu acidente e agora estamos bem sincronizados, quando temos dúvidas, os dois param, decidem juntos, diz o filho.
Voltar para o esporte é uma coisa muito boa, diz Paulo Polido, que ficou oito anos fora dos ralis, quando sofreu acidente numa prova de motocross. Estou voltando agora e como competidor é maravilhoso. A adrenalina que vem, de não dormir no dia seguinte, é uma sensação muito legal, vibra Paulo.
Ele conta a história do acidente e sua recuperação: Há 8 anos eu tive o acidente e há 4 anos meu médico ofereceu pra fazer parte desse estudo experimental de células-tronco, que estou participando. Fui o segundo brasileiro a receber o implante e hoje tenho um dos melhores resultados.
Paulo conta que seus movimentos estão voltando: Já tenho a contração voluntária na coxa direita, estou começando a ficar com outros andadores, sinto algumas sensibilidades na altura da virilha, da perna direita já quase no pé e tenho algumas sensações que eu não tinha, como bexiga cheia. Tem um monte de sensações que já estão voltando.
Para o piloto, o rali é uma outra maneira de divulgar essa tecnologia da medicina. Nosso intuito no rali é também divulgar as células-tronco, fazer com que este tratamento seja conhecido. Queremos ajudar a sensibilizar tanto a população quanto os órgãos públicos para ajudar nas pesquisas de célula-tronco adultas e motivas outras empresas privadas, que possam ajudar no patrocínio dessas pesquisas. Dessa maneira, acredito que serão beneficiadas diversas pessoas com Mal de Parkinson, Alzheimer, problemas cardíacos, diabetes, hepatite, etc. O intuito é esse, de conscientizar e sensibilizar as pessoas.
Paulo Polido ainda manda uma mensagem para quem acompanha o Rally dos Sertões: Estou provando para todos que não há dificuldade, se eu estou vindo no Rally dos Sertões, que não tem acessibilidade nenhuma, nada preparado pro portador de necessidade especial, por que o cara não sai de casa na cidade dele para se divertir, namorar, trabalhar, curtir, ter uma vida normal? Por que ele vai deixar o livro da vida dele ter páginas em branco? Muito pelo contrário, temos de fazer uma história bem diferente a cada dia. Com esse meu exemplo de superação, quero chegar em Porto Seguro e mostrar que se eu consigo todo mundo consegue. Parabéns, Paulo.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa
Last modified: agosto 1, 2006