Em um trabalho inédito no país, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) apresentou, no fim de dezembro, os mapas de cobertura vegetal dos biomas brasileiros, durante a abertura da 12ª Reunião Extraordinária da Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), em Brasília.
O estudo revela que a cobertura vegetal nativa dos biomas: Amazônia, Cerrado, Pampa, Pantanal e Caatinga, apresentam áreas com percentuais acima de 40% em relação às suas coberturas originais. Historicamente, apenas a Amazônia e a Mata Atlântica vêm sendo objeto de programas permanentes de monitoramento da evolução da cobertura vegetal.
“Há muitos anos se desejava um estudo como este. Hoje temos um mapeamento nacional, que será analisado e aprimorado continuamente”, afirma João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Porém, ajustes ainda estão sendo feitos e os resultados definitivos dos estudos serão apresentados ainda este ano.
Pior resultado – A Mata Atlântica é o bioma que apresenta o pior resultado, com apenas 27,44% de cobertura vegetal nativa. Em primeiro lugar está o Pantanal, com 88% de cobertura vegetal nativa intacta, seguido da Amazônia, com 85%, Caatinga, 62%, Cerrado, 61%, e o Pampa, com 41%.
O estudo teve a participação de técnicos do Ministério do Meio Ambiente, do IBGE, da Embrapa, de universidades, órgãos federais e entidades. Os mapas oferecerão subsídios para a formulação de políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade brasileira, pois cada bioma foi tratado como um projeto independente. “É uma contribuição de enorme valor, que ajudará a identificar as áreas críticas”, explica Capobianco.
Os resumos dos mapas podem ser acessados no site do Ministério do Meio Ambiente, diretamente no link: http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=72&idMenu=2338&idConteudo=4472.
Pantanal – Com área total de 150.355 Km², o Pantanal se situa na região Centro-Oeste e está inserido na bacia do Rio Paraguai. As paisagens pantaneiras formam um grande mosaico que, mesmo ocupado há mais de 250 anos, abriga grande diversidade de espécies de plantas e animais adaptados à dinâmica do clima e aos pulsos de inundação da região. Foram compostas para o bioma 17 imagens de satélite da série Landsat, do ano de 2002, e 20 cartas topográficas na escala de 1:250.000. Verificou-se que 88,7% da cobertura vegetal nativa do bioma encontra-se preservada enquanto 11,7% são áreas de uso antrópico (ação do homem). As áreas mais preservadas estão no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, 85,3% e 91% respectivamente.
Amazônia – A Amazônia abrange uma área de aproximadamente 4.196.943Km². Apesar de sua dimensão, da riqueza de espécies que abriga e da diversidade de habitats que oferece, há grandes lacunas no conhecimento sobre sua flora, fauna e processos ecológicos. O mapeamento foi feito a partir de 198 imagens Landsat, captadas de 2001 a 2004. A partir de 261 cartas, na escala de 1:250.000, foi possível mapear as classes de vegetação (tipos de fisionomia, distribuição espacial) e classes de uso (vegetação secundária, pasto, cultura). O trabalho revelou uma área de cobertura vegetal nativa de 85%; destes, 80,76% compostos por florestas, 2,5% por água e 3% por vegetação secundária, indicando uma área antropizada (ação do homem) total de 9,5%, concentrada no Pará, Mato Grosso, Rondônia e Maranhão.
Caatinga – A Caatinga se estende por quase todos os estados do Nordeste e por parte de Minas Gerais. Estima-se que pelo menos 932 espécies foram registradas na região, sendo 380 endêmicas (típicas da região). A área do bioma compreende 844.453 Km², cobrindo 9,92% do território nacional. Dentre os biomas brasileiros, é o menos conhecido cientificamente. Foram processadas 54 cenas do satélite Landsat, resultando na produção de 48 cartas. Os mapas do bioma estão na escala de 1:250.000. O estudo revelou que a área preservada compreende o equivalente a 62,69% da cobertura original. Esse percentual não inclui a região norte de Minas Gerais, e as faixas de contato com os biomas Mata Atlântica e Cerrado, mapeadas por outras equipes.
Cerrado – Com extensão de aproximadamente 204,7 milhões de hectares, o Cerrado se estende pela Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo, Tocantins e Distrito Federal. Ele é considerado o segundo bioma brasileiro mais rico em biodiversidade. O mapeamento revelou que a porcentagem da cobertura vegetal do Cerrado é de 61,1%. Esse percentual é maior do que outros levantamentos feitos, como o da ong Conservação Internacional, que em 2004 indicava 55% de área intacta. Uma das principais razões dessa diferença está na resolução espacial dos dados de sensoriamento remoto. Os resultados da Conservação Internacional se baseiam em imagens de satélite com uma resolução espacial de 1 Km, menos precisa do que a resolução do satélite Landsat, usada no mapeamento, de 30 metros.
Foram analisadas 114 cenas do satélite Landsat ETM+ (ano-base 2002). Esse satélite permite mapeamentos temáticos na escala de até 1:50.000. Com essas imagens foram confeccionados 172 mapas na escala de 1:250.000, um nível de detalhamento inédito. Piauí, Maranhão, Tocantins e Bahia são os estados onde o percentual do bioma é maior.
Pampa – O bioma compreende os campos da metade-sul e das Missões do Rio Grande do Sul, cobrindo uma área aproximada de 176.496 Km². No mapeamento, foram usadas 22 imagens de satélite Landsat 5 TM e 7 ETM+, ano base 2002. Foram confeccionadas 23 cartas-imagem na escala 1:250.000. O mapeamento revelou que o bioma apresenta um total de 41,32% de cobertura vegetal nativa. Desse total, 23,03% correspondem a formações campestres, 5,19% a formações florestais e 12,91% a formações de transição. Das áreas consideradas não remanescentes, 58,68%, há 9,99% de corpos d’água naturais ou artificiais.
Mata Atlântica – A Mata Atlântica é considerado o mais ameaçado dos biomas. Nela se concentram 70% da população brasileira, distribuída em 15 estados. Apesar da devastação, a Mata Atlântica ainda conserva uma parcela significativa da diversidade biológica do país, com altíssimos níveis de endemismo. Abriga inúmeras populações tradicionais e garante o abastecimento de água para mais de 120 milhões de pessoas.
A inovação do mapeamento está na identificação dos remanescentes de formações não florestais, além das áreas antrópicas, em toda a área de abrangência do bioma. O estudo apontou a presença de 27,44% de remanescentes (22,44% florestais e 5% não-florestais). Esse total agrega áreas acima de aproximadamente 15 hectares, incluindo vegetação original e secundária em estágio mais avançado.
Os resultados diferem da referência atual estabelecida pelo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica (da Fundação SOS Mata Atlântica, 2002) por algumas razões: o estudo anunciado pelo MMA adota o Mapa dos Biomas Brasileiros de 2004, enquanto o atlas adota os limites do domínio da Mata Atlântica extraídos do Mapa de Vegetação do IBGE, elaborado em 1993. As escalas de mapeamento são diferentes e o conceito de remanescentes adotado no mapeamento é mais abrangente do que no atlas.
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: janeiro 3, 2007