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Minha Aventura: Desvendando o Caminho Sagrado dos Incas

Redação Webventure/ Trekking

Ponte sobre o Rio Urubamba (foto: Hernan Loayza/Família Gribel)
Ponte sobre o Rio Urubamba (foto: Hernan Loayza/Família Gribel)

O texto abaixo foi extraído do Diário de Bordo da Expedição Trilha Inca, escrito por Adriana Gribel. Adriana é membro da Família Gribel, família brasileira de montanhistas que realizou a expedição recentemente.

A Trilha Inca é a mais famosa rota de trekking da América do Sul. Os incas construíram uma enorme rede de caminhos para se comunicarem com as quatro regiões de seu vasto império, conhecido como Tawantinsuyo, que em quéchua [língua indígena da região dos Andes] significa “Quatro Nações”. A rede se chamava Qhapaq Ñan (caminho do soberano) ou Caminho Inca. Era formada por trilhas empedradas, aptas para o trânsito de duas ou três pessoas com suas lhamas. Os rios eram atravessados por pontes suspensas e as ladeiras íngremes eram vencidas por meio de escadarias e rampas.

Ainda existem no Peru muitos restos do Qhapaq Ñan que continuam sendo usados pelos camponeses. Ir a Machu Picchu percorrendo os 51 km da Trilha Inca nos permitiu regredir a um passado milenar e percorrer cenários geográficos tão deslumbrantes quanto diversos, pois ao longo da trilha passamos por inúmeros sítios arqueológicos do Império Inca. Como se chega a Machu Picchu pelo alto e por trás da construção, a visão é fantástica, única, completamente diferente de quem sobe pela entrada dos turistas.

Por conter tantos sítios arqueológicos, a Trilha Inca é fechada ao turista normal para garantir a preservação desses monumentos. O Instituto Nacional de Cultura do Peru, órgão que controla e protege a trilha, só autoriza o ingresso diário de 500 pessoas na trilha, incluindo trekkers, carregadores e guias. É necessário, portanto obter uma autorização especial para ingressar na trilha e sempre com guias credenciados. Ao longo do caminho existem quatro postos de fiscalização para controle de passaportes e com balanças para controlar a carga máxima permitida aos carregadores quechuas, que é de 30 kg.

Aproveitamos o primeiro posto de controle para pesar nossas mochilas. Os pesos foram:
– Mariana: 7,8kg
– Adriana: 14,4kg
– André: 18,3kg
– Eduardo: 20,5kg
– Renato: 20,8kg

Desafio das altitudes – Outra peculiaridade desta trilha é que ela começa a uma altitude de 2.650m, passando por 4.215m e chegando a 2.400m em Machu Picchu, sendo que na média permanece a uma altitude superior a 3.000m. Isto requer uma aclimatação à altitude antes de iniciar a trilha. Por isso, para realizar esta aclimatação, viajamos alguns dias por cidades bolivianas e peruanas antes de iniciar o trekking. Fomos a La Paz, capital da Bolívia (3.600m), Huarina, Tiquina e Copacabana, cidades bolivianas à margem do Lago Titicaca (3.810m), Puno, cidade peruana à margem do Lago Titicaca (3.810m) e Cuzco (3.360m).

Outro cuidado na aclimatação é mascar folhas de coca, tomar chá de coca e chupar balas de coca, o que auxilia a diminuir o mal da altitude. Durante toda a viagem mascamos folhas de coca. O sabor não é agradável. O macete que usamos foi mascar as folhas junto com um pedaço de chiclete. Além de melhorar o sabor, os pedaços das folhas grudam no chiclete e não ficam sobrando na boca.

O mal da altitude ou “mal da montanha”, como também é conhecido, é o efeito provocado por inspirar menos oxigênio. A pressão atmosférica no nível do mar é de 1.000 milibares. A cada 1.000m que vamos subindo, perdemos 10% desta pressão. Cuzco, por exemplo, está a 3.360m de altitude e tem uma pressão atmosférica de aproximadamente 680 milibares, 30% menos de oxigênio que o nível do mar. Um dos aspectos mais debilitantes do mal da altitude é dormir mal. Há evidências conclusivas de que dormir mal provoca irritabilidade durante o dia. Outros sintomas do mal da altitude são dores de cabeça, náusea, insônia, perda de apetite, irritabilidade, leve vertigem e respiração ofegante.

Mariana sentiu muito a falta de oxigênio. Quando chegamos a Warmiwañuscca, ponto mais alto da trilha com 4.215m de altitude, tivemos que ficar lá mais ou menos uma hora, esperando a Mariana se recuperar. Depois desceríamos até Pacaymayu, onde acamparíamos. O André e o Renato foram na frente. Eu e o Eduardo ficamos para trás acompanhando a Mariana. Em um momento ela teve que usar oxigênio suplementar para se sentir melhor. Conhecemos Eloy, guia de um grupo de europeus, que nos deu uma erva chamada “muña”, que dizem que amassada e embebida em álcool é usada para cheirar e abrir a respiração.

Menu diferenciado – Por ter convivido com os quechuas durante a expedição, pois nosso guia, carregadores e cozinheiro eram quechuas, pudemos conhecer muito da cultura inca e até da culinária mestiça inca-espanhola. Comemos muitas coisas exóticas como:

– Lomo saltado servido com arroz branco: picadinho de carne de boi com cebola, tomate e pimentão vermelho cozidos, temperado com coentro e canela, misturado com batatas fritas;
– Pollo saltado: é como um salpicão com peito de frango desfiado, cenoura e vagem cozida e batata frita;
– Um cone feito de massa de pastel, recheado com um creme de ovos que parecia uma espuma de tão leve;
– Buffet: mandioca cozida empanada, servida com pimenta recheada com legumes picados. A pimenta era empanada pela metade e coberta com queijo ralado. Esta pimenta é do tamanho de um pimentão. Algumas são picantes como um pimentão, mas outras são muito mais picantes como as nossas pimentas;
– Gelatina morna;
– Arroz chaufa: risoto de legumes e presunto.

Em Cuzco tivemos a oportunidade de comer também esta comida mestiça, mas preparada com mais requinte, como o Cuy del guinea (porquinho da Índia) assado com batatas. Também comemos um Lomo (filé) de alpaca grelhado com risoto de quínua. A alpaca é um mamífero sul-americano parecido com a lhama. É menor que ela e sua pelagem é mais longa e macia. O hábito de cuspir que é comum na lhama também é comum na alpaca, que o utiliza para mostrar agressividade ou como método de defesa. A quínua é um cereal típico dos Andes. De sobremesa comemos massa folhada com morangos e creme brullé feito de quínua. É simplesmente delicioso. Outro prato foi o Carpaccio de Alpaca.

Ao longo de toda a trilha éramos os únicos brasileiros. Encontramos montanhistas de vários países como Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Holanda e Nova Zelândia, entre outros. Agradecemos a Tenco Realty, Master Turismo, Supermercado Verde Mar, Drogaria Araújo e Camelbak. O Apoio destas empresas foi fundamental para a realização desta expedição.

As próximas expedições, a serem realizadas em 2007, serão rumo a Kilimanjaro, ponto mais alto da África com 5.895m, e Mont Blanc, a mais alta montanha da Europa Ocidental com 4.810m.

Este texto foi escrito por: Adriana Gribel

Last modified: janeiro 14, 2007

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