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Mario Roma fala sobre o Cape Epic um mês antes da largada

Redação Webventure/ Biking

Belas paisagens no caminho (foto: Divulgação)
Belas paisagens no caminho (foto: Divulgação)

Falta exatamente um mês para começar um dos maiores desafios do MTB mundial, o Cape Epic, que na edição 2007 terá quatro brasileiros competindo e mais um na equipe de apoio. Serão 900 quilômetros em oito etapas cruzando a África do Sul, entre a cidade de Knysna até as proximidades da Cidade do Cabo.

Mario Roma e Julio Paterlini irão fazer uma dupla na categoria Master, enquanto Adriana Nascimento e Tomás Sawaya, de 50 anos, vão estrear na categoria mista. O mineiro Eduardo Soares fará parte da organização da prova, o que garante a sua inscrição no Cape 2008, que além do desafio é também uma das provas com inscrição mais disputada do planeta.

Mario Roma é o único que já competiu, em 2005, ao lado de Paulo Noto. Para este ano, com a companhia de Paterlini, especialista em provas de longa distância (no asfalto), o português pretende garantir uma boa colocação para o Brasil. “Estou com um bom volume de pedal, e conto com a experiência do Julio em provas longas. Nosso objetivo é 100% competitivo. Terminar é obrigação, vamos disputar por posições”, comenta o ciclista.

Segundo ele, com treino e dedicação, qualquer pode participar da prova. “O Cape Epic é uma prova barata pelo tamanho. Quem tiver 2.500 Euros, que pagam todas as despesas, irá passar oito dias inesquecíveis”, recomenda. Gostou? Saiba mais detalhes sobre a prova e o mito do Cape Epic na entrevista exclusiva que o ciclista concedeu ao Webventure.

Webventure – O que é mais difícil na prova?
Mario Roma
– Dormir na tenda depois de pedalar o dia todo.

E pedalar é o de menos?
Não digo que é o de menos, mas o tempero do Cape é dormir na tenda. O acúmulo dos dias complica. Cada prova tem as suas dificuldades, e a do Cape é o acampamento. Não tem como ele ser mais organizado, mas todo dia dormir mal em uma tenda e depois pedalar cinco, seis horas, chega um momento em que deixa de ser confortável.

Como é o desgaste durante a prova?
O Cape tem uma grande quilometragem em um ambiente quente e seco, o que aumenta o desgaste. A cada 30 quilômetros tem um posto de água. Neste ano teremos 16 mil metros para subir e 60% deles são nos primeiros dias. Quem não administrar bem esses dias quando a pessoa está mais forte e tem a tendência de acelerar não termina. Ficou mais perigoso por causa disso. Acho que 80% das pessoas que desistirem serão nos primeiros dias. Provavelmente no terceiro dia vai faltar oxigênio para muita gente, e não se pode esquecer, ainda tem mais cinco dias pela frente.

O Cape é o tipo de prova em que existem dois marcos: primeiro terminar, depois ser bem colocado. Quais são suas expectativas de competição para a edição 2007?
Vou com o objetivo bem competitivo, da minha parte, estou com um bom volume de pedal, e conto com a experiência do Julio em provas longas. Nosso objetivo é 100% competitivo. Terminar é obrigação, vamos disputar por posições. E vai ser bem difícil. Em 2005, na categoria Master, a equipe que ganhou tinha sete camisetas amarelas do Tour de France. São “aposentados” muito fortes. O nível dos 10, 15 primeiros é muito alto. Tem campeões olímpicos, mundiais, pessoas com um histórico muito forte.

A seguir, o ciclista Mario Roma conta detalhes sobre o Cape Epic e dá dicas para quem quiser participar da prova que também são úteis para várias provas do calendário nacional.

O que os iniciantes precisam saber sobre o Cape?
O mais importante carregar pouca coisa. Tudo é transportado dentro de um saco. Um casaco de frio para noite é importante, já cheguei a pegar zero grau. E de dia é muito calor. Aquelas calças que viram bermuda ajudam muito. Depois alimentação, e algumas ferramentas para a bike. Nem tem como levar muito, com o passar dos dias começa a virar um problema. Coisas pequenas acabam virando um grande incomodo.

Como é o treinamento para uma prova como essa?
O treinamento é feito em cima de volume. Precisa preparar o corpo para pedalar oito dias seguidos e cerca de cinco, seis horas por dia. A largada é oito da manhã e o dia termina cinco da tarde. O corpo inteiro precisa estar resistente, ter elasticidade e aeróbica. Duas semanas antes da prova é preciso reduzir o ritmo, tirar o volume de pedal e passar a fazer natação e outras atividades que não causam lesões. É bom chegar com “fome” de pedalar no Cape. Precisa estar forte e ao mesmo tempo descansado. Na minha opinião, em fevereiro já se deve estar pronto para a prova, com todos os equipamentos e bem treinado. Depois disso, não recomendo mudar nada.

É uma prova de 30% técnica. Mesmo assim, qualquer pequeno acidente te deixa fora dela. Administrar o cansaço também ajuda na técnica. Descer uma pirambeira em alta velocidade e com o corpo cansado é muito perigoso. Em outros momentos é preciso empurrar a bike, e as pessoas que não estão acostumadas sofrem lesões. Treinar a empurrar a bike na mão é extremamente recomendado.

O que tem de estar na bagagem?
A bicicleta que eu aconselharia depende da idade. Se for jovem, de 25 a 30 anos, recomendo uma Hard Tail que tem bastante tração, velocidade. Agora acima de 35 anos eu recomendo uma Full, que são a maioria no Cape Epic, dá mais conforto durante os oito dias e dão mais segurança nas descidas. E um pneu médio, 1.75 mais ou menos, porque o piso é rápido. É preciso evitar furos com os produtos disponíveis hoje no mercado. Em um dos dias do Cape em 2005 tive oito furos no pneu.

O short é extremamente importante, a pessoa tem que pensar que vai passar oito dias em cima da bicicleta. Não se deve economizar no short. Assim como alguns cremes que se passa nele para não ter assaduras e bolhas. As luvas são muito importantes. Se a mão suar começa a ter bolhas na palma da mão. É bom levar pelo menos uma roupa para cada dia.

Outra dica importante é um bom protetor solar. Evita queimaduras graves, como nas dobras nos braços. Mochila de hidratação também é recomendável. A cada 30 km tem um posto de abastecimento. Se pensar que leva mais ou menos uma hora e meia para percorrer isso, e a pessoa achar que deve se hidratar antes, precisa levar uma mochila dessas. Com tudo isso, recomendo fazer uma lista e checar todo dia de manhã antes da largada. Conforme o tempo passa e o cansaço chega, as coisas mais obvias ficam difíceis. Não é incomum ver gente na largada sem o capacete.

E tudo isso precisa ser simulado nos treinos, para não chegar lá e subir na bike pela primeira vez. O ideal é tentar simular o máximo possível essas situações em um feriado bem quente.

Como é a alimentação?
A comida é bem específica, gels e energéticos. O corpo já deve estar acostumado. Não recomendo mudar de marca no meio da prova. As pessoas precisam se controlar para comer. A partir do quarto dia não desce mais nada. O gel parece um chiclete e a comida não passa. Mas é importante forçar. A comida da organização é baseada em massa e durante as etapas tem frutas.

Como é a rotina no Cape Epic
É bom despertar cinco da manhã, tomar um bom café, que começa às seis. A largada é às oito, daí é pedal direto. Assim que chego vou comer algo. Algumas aldeias na África do Sul servem comidas típicas, e tem muito hambúrguer por lá. Depois já cuido da bike, arrumo tudo e vou cuidar de mim, tomar banho e descansar. O briefing é 19h e já é bom levar água para abastecer. Durante a noite, quando esfria, toda água que fica fora das barracas congela. Às 21h todas as luzes se apagam, é hora de dormir. No dia seguinte, tudo de novo.

Como será o terreno nesta edição?
A cidade em que largamos é dentro de uma floresta, muito úmido, como se fosse a nossa Mata Atlântica. Vamos atravessar uns rios no começo. Esses primeiros dias serão molhados e frios. Nos outros fica mais seco. Vamos atravessar uma cadeia de montanhas que divide o litoral com a parte árida da África do Sul. A partir do terceiro dia o problema começa a ser calor e areia. A tendência é não chover nessa época do ano.

Há falta de segurança na África do Sul?
É bem seguro, a organização fica muito atenta. Para se te uma idéia, eles espalham antenas de celulares por todo o percurso. Pega celular no Cape Epic. A organização está acima da medida quanto a segurança. Sempre passam ambulâncias, carros da prova, dificilmente se sente sozinho.

Um dos maiores problemas da região em que passa o Cape Epic são as abelhas. Principalmente para quem tem alergia, que é o meu caso. Eu carrego uma injeção antialérgica. É muito fácil ser picado e geralmente é no pescoço, no rosto. De resto é bem seguro. Passamos por leões dentro de um parque nacional, mas eles são sempre alimentados cedo e nunca tem perigo. Todos os animais são bem patrulhados. E toda água de torneira durante o percurso é potável.

O que é importante é administrar o tempo e o desgaste. Também não é bom demorar muito para chegar, pois sobra menos tempo para descansar, arrumar tudo, cuidar da bicicleta. É melhor ter uma velocidade constante do que parar toda hora para descansar. Quem chega tarde já não toma um banho bom, não descansa bem.

Qual é o investimento para uma prova como essa?
O Cape Epic é uma prova barata pelo tamanho. Custa cerca de 1.500 Euros a inscrição, e uma vez lá não precisa de mais nada. A África do Sul é um país barato para tudo que se precisa, um bom hotel custa em torno de R$ 50 por noite. Quem tiver 2.500 Euros, que pagam tudo, irá passar oito dias inesquecíveis.

Veja o relato de Mario Roma sobre o Cape Epic 2005, publicado em 31/05/05

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: fevereiro 24, 2007

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