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Elite Sherpa se prepara para subir o Everest

Redação Webventure/ Montanhismo

Escadas instaladas por Sherpas no Everest (foto: Arquivo Pessoal/ Waldemar Niclevicz)
Escadas instaladas por Sherpas no Everest (foto: Arquivo Pessoal/ Waldemar Niclevicz)

Com a intenção de chamar a atenção da mídia para o importante papel dos Sherpas no montanhismo himalaiano, uma equipe composta por sete escaladores de elite, todos Sherpas, se prepara para subir o Everest nesta temporada de 2007.

O termo Sherpa se refere a um grupo étnico das montanhas do Nepal, mas é muito utilizado também para se referir à todos aqueles que dão suporte às expedições no Himalaia.

Somando todas as ascensões à montanha entre os membros da equipe, são 47 vezes, todas chegando ao cume da montanha de 8.848 metros. Só com Appa Sherpa, um dos líderes da expedição, foram 16 vezes. O outro líder, Lhapka Gelu Sherpa, 12 vezes e em 2003 este subiu a montanha em pouco menos de 11 horas.

A temporada ainda está começando, mas vários times de Sherpas já estão trabalhando na montanha, contratados pelas expedições estrangeiras, preparando toda a infra-estrutura necessária para as tentativas de cume dos escaladores.

Quilômetros de corda precisam ser fixados, um grande número de escadas instaladas para superar as gretas, e toneladas de garrafas de oxigênio e equipamento transportados para os acampamentos que separam o campo base do cume. Todo este trabalho é feito pelos Sherpas. Isso até nos faz refletir sobre quem realmente está escalando a montanha…

“Os Sherpas precisam fazer tudo para as expedições, desde cozinhar até fixar cordas e montar os acampamentos”, comenta o veterano de 47 anos de idade Appa Sherpa, que assim como a maioria dos Sherpas começou a trabalhar cedo, na sua adolescência. “Sem o suporte que os Sherpas dão, seria muito difícil escalar as montanhas”, conclui.

Além do trabalho técnico, os Sherpas muitas vezes acompanham escaladores estrangeiros nas suas tentativas de cume, e têm sido conhecidos por realizar esforços sobre-humanos para trazer os clientes de volta em segurança.

Além de trazer mais consciência ao papel dos Sherpas, o time pretende levantar fundos para as escolas na região do Everest.

Pelo fato dos Sherpas irem e virem o tempo todo na montanha, o trabalho se torna extremamente perigoso, já que ficam expostos por mais tempo aos riscos potenciais. No ano passado, três Sherpas morreram na cascata de gelo do Khumbu, uma área de alto risco a 5.500 metros, entre o Acampamento Base e o Acampamento 1.

“Escaladores estrangeiros tem que passar pela cascata de gelo apenas cinco ou seis vezes, mas os guias e carregadores Sherpas tem que fazer o percurso através de uma das mais perigosas áreas da montanha mais de 20 vezes, carregando equipamento”, comenta Lhapka Sherpa, de 39 anos de idade. “Você pode ser o escalador mais experiente do mundo e ainda assim ter um acidente sério na cascata de gelo, e quanto maior o número de viagens, maior o risco”, acrescenta Appa Sherpa.

Escaladores estrangeiros gastam milhares de dólares nas suas tentativas no Everest, e as pessoas tem motivações diferentes ao arriscarem suas vidas para chegar no cume, mas para os Sherpas, o motivo para tamanho risco é simples. “Estrangeiros fazem isso pela aventura, mas a maioria dos Sherpas o faz por pão e manteiga, para sustentar a família”, diz Appa. “Não temos muitas opções na nossa região. Não podemos nem mesmo cultivar arroz, somente batatas”, conclui.

A competição por trabalho é dura. Os Sherpas de elite chegam a receber até 7.000 dólares em uma temporada – uma fortuna em um país onde a renda anual per capita gira em torno de 240 dólares. Cerca de 300 Sherpas estarão trabalhando no Everest esta temporada. Geralmente, carregadores e cozinheiros que permanecem abaixo do campo base recebem menos de 10 dólares por dia, mas com poucas opções de trabalho, a oportunidade se torna atrativa.

Muitos acreditam que o número de expedições comerciais no Everest deveria ser limitado, mas os Sherpas enxergam isso de outra forma. “Gostaríamos que mais expedições viessem ao Nepal, porque mais pessoas locais conseguiriam trabalho como carregadores ou guias, criando oportunidades para as famílias terem uma renda. Podem também vender refeições e oferecer alojamento”, comenta Lhapka.

Apesar de estarem no auge de sua profissão, nenhum dos líderes da expedição diz que quer encorajar seus filhos a seguirem nos seus passos. “Quero que meus filhos recebam educação, e que se tornem médicos ou engenheiros. Eles não querem escalar montanhas. Me dizem toda vez: papai, não vá às montanhas”, diz Lhapka.

Este texto foi escrito por: Filippo Croso

Last modified: abril 25, 2007

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