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Rafael Campos comenta o mundial de corrida de aventura

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Foto oficial do mundial 2007 (foto: Arquivo Pessoal)
Foto oficial do mundial 2007 (foto: Arquivo Pessoal)

Foram seis dias de prova para Mitsubishi Quasar Lontra, única equipe brasileira a participar do Mundial de Corridas de aventura. Fabrizio Giovannini, Tessa Roorda e Erasmo Cardoso, o Xiquito, comandados por Rafael Campos, ficaram em 18° lugar na prova disputada pelo interior da Escócia. Apenas as cinco primeiras equipes não foram cortadas, em uma corrida fria, com navegação e visibilidade difíceis, e com mais de 500 quilômetros.

A vitória ficou com os americanos do Team Nike, com quatro dias 22 horas e sete minutos. Cortados, os brasileios sofreram mais para terminar a prova. Ainda em recuperação na Escócia, o capitão da Quasar, Rafael Campos, afirmou que “deu para emagrecer uns bons quilos. Os dedos das mãos e pés estão adormecidos ainda, doendo, mas aos poucos estão voltando ao normal, e os pés estão desinchando”. Os outros três brasileiros já voltaram para casa, Rafael vai continuar no país, mas fazendo turismo. “Gostei muito daqui, é muito bonito”, disse.

Para ele, o frio foi o principal agravante da prova. “Em alguns dias fez quatro, cinco graus, com chuva e vento. A sensação térmica era terrível. Passamos pelo menos trinta horas tremendo sem parar ao longo da prova”, lembrou. Para os brasileios que enfrentaram pela primeira vez uma prova longa e fria, foi pior. “O Xiquito baiano passou frio demais! Parecia uma bola de tanto agasalho andando para lá e para cá. Falava sempre ‘vamos andar pelo amor de Deus, eu não agüento mais passar frio!’”, contou Campos. Veja o restante da entrevista:

Webventure Por que vocês já começaram a prova com penalização?
Rafael Campos
Nós largamos sabendo que tínhamos de pagar quatro horas de penalização, referente ao prólogo, já que chegamos duas horas atrás da primeira equipe, isso mais duas horas por termos esquecido de levar as cordas, que era equipamento obrigatório.

Webventure – Logo no início da prova vocês se desentenderam com a organização, como foi isso?
Teve a largada de caiaque, depois fizemos uma portagem de dois quilômetros, e ainda um trekking, quase uma pista de navegação. Terminando essa pista, a organização pediu para algumas equipes ficarem lá e pagarem as penalizações. Sabíamos que se ficássemos lá iriamos ser cortados. Os fiscais disseram que era isso mesmo. Estava muito frio, então procuramos uma garagem e fomos dormir lá. Um tempo depois, outra parte da organização percebeu que mais da metade das equipes seria cortada se permanecesse lá, então deram a ordem para seguir a prova e pagarem a penalização mais para frente. Como estávamos em uma garagem dormindo, eles não nos acharam ou não procuraram direito o fato é que foram nos achar 2h30 da manhã, e nos falaram para prosseguir. Nisso faltava meia hora para o corte, e tínhamos 1h30 de remo pela frente. Na próxima perna, de trekking, ficamos 40 minutos conversando com o fiscal, mas a decisão da organização foi nos manter cortados.

Isso mecheu com a motivação?
Naquele momento deu uma abalada e algumas outras equipes que eram para estar atrás de nós nos passaram, o que não foi nada bom.

Como foi a navegação?
A prova tinha cinco cortes, e só cinco equipes conseguiram fazer o percurso inteiro, sem corte nenhum. Chegamos até a liderar esse grupo dos cortados, em um dia que estávamos andando bem, já tínhamos passado dois cortes. Mas teve uma etapa de trekking no terceiro dia em que perdemos muito tempo. Havia muita neblina, com uns 15 metros de visibilidade, em um campo sem trilha. E o PC não é sempre uma pessoa, nesse caso era um ponto eletrônico, do tamanho de uma caixa de cigarro. Passamos seis horas para encontrá-lo. E o ruim é que esse trecho era muito molhado, muito frio e chovia o tempo todo. Não dava para parar e descansar. Um minuto para pegar comida na mochila já começávamos a gelar. E com essa perdida a nossa comida começou a ficar racionada. Foi um trecho preocupante, porque precisávamos sair dali sozinhos.

A prova foi técnicamente difícil?
Foi, e em todas as modalidades. No MTB teve muito uphill, downhill, trechos sem trilha, algumas costeiras onde era preciso passar sobre as pedras e single track. No trekking também, exigiu muito na navegação, muita subida e descida. Para nós que pegamos cortes, a prova acumulou 14 mil metros de subida. Os que fizeram o percurso inteiro devem ter pego uns 20 mil. O caiaque também foi difícil tecnicamente, porque pegamos mar com vento contra e marolas grandes. Em um dos trechos tivemos que carregar o caiaque por 12 quilômetros. Em outro, fomos rio acima com ele, não dava para remar, então fomos pela margem, com muito mato e pântano, tinha que arrastar o caiaque.

Um dos pontos mais emocionantes da prova foi uma tirolesa em cima de um abismo, como foi a passagem de vocês por lá?
Era em cima de uma fenda alta, mas passamos de noite e não deu para ver o tamanho direito, o que foi bom até. Pior que isso foi um trecho anterior. Vínhamos de mountain bike e tivemos que pular em um poço, ao lado de uma cachoeira de uns seis, sete metros. A temperatura da água era de seis graus. Já estava com frio pedalando, quando parei, piorou, e ainda estava molhado. A solução foi pular pelado, para não molhar mais ainda a roupa. E isso já eram 22h.

O que é pior em uma prova dessa, o frio ou a dificuldade técnica?
O tempo frio e molhado dificultou bastante. A parte técnica exigiu muito, mas estávamos preparados. O maior problema foi a falta de experiência em alguns detalhes, como, por exemplo, arrastar caiaque em um pântano. Pelo fato de não termos experiência nesse tipo de situações, acabávamos perdendo muito tempo nas transições, programando se a quantidade de comida e roupa seria suficiente. Duas pessoas da equipe nunca tinham feito prova longa sem apoio, gera mais dúvidas.

Como você avalia o desempenho da equipe?
Pelo nível que foi a prova, se comportaram bem. O Fabrizio já tinha experiencia, a Tessa e o Xiquito nunca tinham feito uma prova fria, longa e sem apoio. Eles foram corajosos de conseguir terminar. Em alguns momentos, passamos por situações assustadoras, daquelas que não se sabe se vai sair vivo. Eles foram bem valentes. O que falta é um pouco de experiência, para saber o levar de roupa, alimento, e principalemnte equipamento.

Pelo mundial de 2008 ser no Brasil, você acha que levamos vantagem nesse sentido?
A vantagem que vamos ter será o clima. Não sei se será com ou sem apoio. Se tiver apoio, levamos vantagem, porque temos apoio próprio, e que é muito bom. Se for sem apoio, acabamos nos igualando com as equipes de fora.

O Xiquito passou muito frio?
O Xiquito baiano passou frio demais! Parecia uma bola de tanto agasalho andando para lá e para cá. Falava sempre “vamos andar pelo amor de Deus, eu não agüento mais passar frio!”

Este texto foi escrito por: Daniel Costa

Last modified: junho 6, 2007

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