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Nova pedra é acessada em Andradas

Redação Webventure/ Montanhismo

Pedra do Elefante e abaixo o Filhote do Elefante. A via está na extremidade direita da pedra (foto: Lukas Büdenbender)
Pedra do Elefante e abaixo o Filhote do Elefante. A via está na extremidade direita da pedra (foto: Lukas Büdenbender)

Andradas não pára de surpreender com as possibilidades que oferece em termos de escalada em rocha. Atualmente o local já é uma das principais referências no sul de Minas Gerais para a prática do esporte, junto com Itajubá e Pedralva. Em Andradas é possível escalar em mais de 10 pedras diferentes, em vias de qualidade, que começaram a ser abertas em 1994. Pode-se escalar na Pedra do Pântano, Pedra do Elefante, Pedra do Boi, Pedra do Campestrinho, New Paredão, Pedra da Onça, Pedra do Divino, Falésia dos Lobos, Pedra Rajada, e desde o feriado de 7 de setembro de 2007 pode-se escalar também na recém inaugurada Filhote do Elefante. Esta pedra se encontra logo abaixo da Pedra do Elefante, e embora não chame muito a atenção, devido à imponência do Elefante, é uma pedra muito grande, com mais de 400 metros de base por 200 metros de altura no seu ponto mais alto, e que oferece possibilidades interessantes.

Neste feriado estive lá com o Lukas Büdenbender, também de São Paulo, e fomos lá para averiguar a possibilidade de abrir uma via nova, que vislumbramos da estrada. Fizemos um reconhecimento, para achar o acesso mais prático, conversar com os moradores locais daqulea área e pedir permissão de acesso, e ver a parede mais de perto. Encontramos duas possibilidades muito interessantes, e partimos no dia seguinte para a conquista.

O Lukas nunca tinha aberto uma via de escalada, e no dia anterior passei para ele os procedimentos envolvidos e ele se familiarizou com os equipamentos. Nos dois dias que se seguiram abrimos 110 metros de via, num total de 4 enfiadas de aproximadamente 30 metros. Todas as enfiadas foram abertas pelo Lukas, e eu na segurança.

Na primeira enfiada o Lukas bateu todas as proteções na mão, com um batedor, para sentir o espírito da tradição e refletir sobre a satisfação e o envolvimento maior que se tem ao abrir um furo com um batedor. Compreendeu que devido ao tempo e esforço maior (em relação à furadeira, que experimentou depois) o escalador se torna mais comedido ao colocar uma proteção fixa na pedra, e se envolve mais profundamente com a rocha, pois o trabalho manual e o esforço remetem à um dom artístico de esculpir a pedra, muito diferente da sensação de linha de montagem racional e eficiente de fábrica que a máquina proporciona.

Mas o grande desafio é a nossa relação com o tempo… e nesse ponto a furadeira nos seduz… as outras três enfiadas foram abertas com a furadeira. Mas isso não tirou o brilho dessa nova via no Filhote do Elefante. Perfeita para iniciantes é um paredão positivo, com alguns trechos delicados, com agarras, aderência, buracos e algumas fendas, boas como agarras mas que não servem para proteção móvel. Em dois dias de tempo perfeito, porém muito seco e quente, chegamos a um platô grande com árvores, a aproximadamente 2/3 do cume. Por enquanto o grau sugerido é 3º IV, mas a continuação da via passa na quinta enfiada por um trecho vertical de 8 metros com fendas horizontais fundas, proteção móvel e agarras perfeitas… não é preciso nem dizer que a imagem dessa continuação não sai da cabeça. É dessa parte da via também que veio o nome “Levaram as gavetas mas a gente trás os móveis”…

Essa via me trouxe a reflexão que escalada e montanhismo não se trata de grau, nem da via como objeto de consumo, muito menos de ego ou de reconhecimento. Não importa se irão repetir a via, ou se essa irá entrar nas “10 mais de Andradas”. O que conta é o sentimento de descobrimento, de entrar no desconhecido com respeito profundo pela montanha, de confiar no companheiro e estar em sintonia com ele, de todas as vistas que presenciamos, dos momentos engraçados, de tensão e cansaço que passamos, da conexão com a nossa essência, acreditando no que estávamos fazendo e a conexão com a pedra, a natureza e a energia que circulava em volta. Esse é o sentimento de escalada e montanha que acredito valer a pena, que sustenta toda essa atividade que nos eleva à planos de magia.

Para os que forem para Andradas e quiserem entrar em uma via tranquila e bonita, tenho certeza que irão se divertir.

Este texto foi escrito por: Filippo Croso

Last modified: setembro 13, 2007

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