Pico do Itabira em Cachoeiro do Itapemirim (foto: Filippo Croso)
Em dezembro de 2005 publiquei na revista Headwall uma matéria do André Ilha sobre escaladas no Espírito Santo. Após ler recentemente na lista da FEMERJ sobre novas conquistas no Estado, especificamente em Águia Branca, local que a matéria detalhava em profundidade, achei que seria interessante publicá-la novamente, para assim, parafraseando o André, “estimular o maior número possível de escaladores “normais” a fazer vias aventurosas, mas acessíveis, em locais distantes como o ES.”
Também me dá prazer publicar novamente a matéria, porque na edição 12 da Headwall, devido a questões de espaço, tive que editá-la significativamente, o que considero hoje uma pena, pois perdeu muito comparada ao texto original, sem contar as dezenas de fotos enviadas que não entraram.
Nessa nova edição a matéria aparece na íntegra, com muito mais fotos, e na última página anexei um relato sobre duas novas vias abertas em 2007 em Águia Branca, informações obtidas do site da FEMERJ, com a colaboração adicional da Kika Bradford e Mariana Candeia. Boa leitura, e principalmente, boas escaladas no Espírito Santo!
Filippo Croso
O Espírito Santo, com sua rica coleção de imensas agulhas graníticas, sempre mexeu com a imaginação dos escaladores cariocas. No entanto, isto não se traduziu num número proporcional de viagens até lá para explorá-las; pelo contrário, a despeito das expressões de espanto e respeito que estas montanhas espetaculares invariavelmente provocam nas rodas de conversa, apenas muito lentamente é que elas foram sendo subidas, quase sempre em levas, por grupos restritos de escaladores, que foram se substituindo ao longo dos anos para abrir fronteiras da escalada brasileira ainda hoje pouquíssimo visitadas. Mesmo as repetições foram escassas, e muitas montanhas imponentes aguardam, há décadas, sua segunda ou terceira ascensão.
A escala das montanhas e de suas paredes rochosas também não é um elemento facilitador para a popularização destas vias. Não é raro ouvirmos alguém se referindo a uma montanha qualquer em outro local como sendo de “tamanho Espírito Santo”, e há boas razões para isto: vias com diversas centenas de metros são comuns por lá, e a complexidade de muitas delas faz com que não se possa encará-las de forma casual. Para se garantir uma boa margem de sucesso, bem como para não se meter em situações desagradáveis ou perigosas, é aconselhável que se dedique muita atenção à logística a ser empregada.
Por todas estas razões, o Espírito Santo não perdeu nada da sua aura de mistério ao longo das décadas, e continua até hoje a desafiar a imaginação e a disposição daqueles que gostam de novidades e de escalar longe dos centros mais populares, com todas as dificuldades e recompensas inerentes a esta preferência.
Cumes Virgens – A partir de 2000, em viagens anuais para lá, acompanhado por um pequeno círculo de amigos, tive a oportunidade de conquistar algumas montanhas fabulosas, em Águia Branca e adjacências, e cada uma delas, longe de saciar o meu apetite, só me fez contar com ainda mais ansiedade os meses e os dias até a próxima viagem!
A conquista de um cume virgem representa a quintessência do montanhismo. Afinal, foi assim que tudo começou: primeiro na Europa, depois em outros maciços ao redor do mundo, escaladores partiram em busca de elevações onde ninguém havia ainda pisado, atendendo a um clamor atávico por descoberta e superação próprio da nossa inquieta espécie. Atingir o ponto mais alto, vencer as dificuldades que se apresentam, desbravar novos caminhos, trabalhar bem numa equipe em que a própria vida de um membro depende do outro tudo isso possui um simbolismo muito forte, apropriado por outras instâncias do nosso dia-a-dia.
Nos países onde a escalada é mais popular, e praticada há mais tempo, cumes virgens não mais existem ou são uma raridade, salvo uma eventual pontinha subsidiária ou outra. Em toda a Europa, portanto, há muito que o jogo resume-se a novas vias em montanhas e falésias bem conhecidas, algumas francamente saturadas. Mas em outros pontos do globo a busca prossegue, incessante, com o mesmo empenho com que Whymper se lançou ao Matterhorn no século XIX, sendo que hoje uma das regiões mais procuradas nesse sentido é o cinturão de montanhas na China e no Tibete ao longo da fronteira com Butão, Nepal, Índia e Miyanmar (Birmânia), que até recentemente estava fechada para estrangeiros, mas que, com a recente abertura política promovida pelo austero regime chinês, transformou-se em um verdadeiro Eldorado, um Velho Oeste para escaladores de todas as nacionalidades.
No que diz respeito a montanhas intocadas, somos muito privilegiados, pois o vasto interior brasileiro é todo ele um Velho Oeste a ser desbravado, só que ao invés de índios hostis ou guerrilheiros maoístas, encontramos, quase sempre, uma população local simpática e hospitaleira, que recebe de braços abertos essas estranhas pessoas que, com suas pesadas mochilas coloridas, vêm de tão longe para subir aquela pedra grande que muitas vezes nem um nome possui… A incredulidade com relação aos nossos propósitos, bem como quanto às nossas chances de sucesso, não os impede, contudo, de torcer ardentemente pelo êxito da ascensão, e se ele é alcançado (devidamente registrado pelos morteiros que espocam no cume, respondidos por gritos vindos de todas as direções), não raro preparam uma festa para celebrar a façanha, em geral um churrasco regado por generosas quantidades de cerveja e pinga.
Momentos como estes são inesquecíveis, e este artigo visa descrever brevemente como foi a conquista dos sete cumes virgens que tive a oportunidade de atingir no Espírito Santo por meio de escaladas muito diferentes entre si e, portanto, potencialmente capazes de interessar a um grande número de pessoas.
Quando cheguei pela primeira vez aos pés dos Três Pontões de Águia Branca, em julho de 2000, quase não acreditei que os colossais Pontões Maior e Médio não apenas não houvessem sido ainda subidos, mas que fossem completamente desconhecidos de toda a comunidade montanhista! Na verdade, a própria Águia Branca, uma cidade minúscula, quase desprovida de infra-estrutura receptiva, só é conhecida devido à grande empresa de ônibus que lhe tomou o nome emprestado.
Era apenas o quarto dia de uma viagem de mais de quatro meses que eu e Kate Benedict faríamos por diversos estados e que nos levaria até o Maranhão para uma travessia dos Lençóis Maranhenses. Não dava para tentarmos nada naquele momento, pois tínhamos um encontro marcado dali a dois dias em Rubim, no norte de Minas Gerais, com o Tonico Magalhães, para a primeira de uma série de viagens para aquele que provavelmente é, ou melhor, era, o maior depósito de cumes inescalados do país, o plúton granítico de Rubim e Jacinto. Após subirmos a Pedra do Salão por uma via relativamente exigente, e a Pedra da Macambira por uma via bem fácil, retornamos os 600 km até Águia Branca para tentar o Pontão Maior pelo óbvio sistema de fendas largas existente em frente à estrada de terra que lhe dá acesso, a qual começa bem ao lado da ponte da cidade.
Nossa investida, prevista para dois dias, foi abortada no primeiro devido a diversos fatores, o último tendo sido uma forte pedrada que a Kate levou no capacete, mas mesmo assim chegamos bem alto. Em abril do ano seguinte voltei a Águia Branca com o Bernardo Collares, novamente preparado para uma investida de dois dias, agora beneficiados pelo meu conhecimento prévio da via até um ponto já bem avançado. Pedimos permissão para o Sr. Francisco Dicha, que pensávamos ser o proprietário daquelas terras (não era, mas nos autorizou assim mesmo…) e, na manhã seguinte, ainda escuro, subimos o interminável costão de acesso. Após outro costão, mais íngreme, de uns 80 metros, subimos rapidamente a chaminé inicial, de 50 metros. O esforço absurdo para levar nossas mochilas até aquele ponto nos obrigou a rever nossa estratégia: deixamos ali boa parte de nossa água e algum material extra para subirmos mais leves uma decisão que se mostrou muito acertada.
A partir deste ponto subimos uma sucessão de lances de chaminé e fissura entremeados com trechos de caminhada ou trepa-pedra, alguns limpos, outros sujos, e em um pequeno platô deixamos o pouco material de bivaque que havíamos levado e mais alguma água ali passaríamos, sentados e acordados, uma longa noite… Continuamos com mochilas leves, confiantes, pois o cume não devia estar longe e o caminho à frente parecia tranqüilo. Engano nosso.
A canaleta acima, passagem obrigatória para um inacreditável túnel bem redondo e curvo, de uns 15 metros de extensão, que inspirou o nome da via, Túnel do Tempo (5º VI, 360 m), parecia feita de saibro, tornando cada passo inseguro, pois eles despregavam placas inteiras de areia mal consolidada… Logo abaixo de um ressalto eu, que guiava naquele momento, resolvi bater um grampo e, por sorte, a parede da esquerda era de rocha sólida. Feito isso, passei a vez ao Bernardo, que passou no ressalto sem maiores problemas, mas, como a farofa por onde estávamos subindo ficasse ainda pior, ele bateu outro grampo a cerca de 5 metros acima do primeiro. Dali, mais algumas passadas igualmente ruins (um terceiro grampo seria bem-vindo nesse trecho, mas acabamos não o batendo) o colocou no início do túnel, todo feito em chaminé larga, fácil mas desprotegida.
A parada foi feita em uma grande árvore, onde deixamos todo o material de escalada para seguirmos andando rapidamente até o cume, que é bipartido, e subimos os dois, sendo o da direita ligeiramente mais alto do que o outro. Lá nos abraçamos, soltamos dois morteiros e respondemos aos gritos dos moradores das redondezas. Como entrou água na marmita onde estava guardado o livro de cume, transformando-o em uma pasta mal-cheirosa, deixamos apenas ela, vazia, no topo, para atestar nossa passagem por lá. Esta, aliás, foi breve, pois víamos temporais caindo em diversos pontos ao redor e, além disso, já estava ficando bem tarde. O primeiro rapel foi feito por fora do “túnel do tempo”, com um grampo a mais que batemos.
À noite, contrariando nossas expectativas, não choveu e nem fez muito frio, mas mesmo assim não consegui dormir porque o espaço disponível mal dava para ficarmos sentados, e assim mesmo encordados porque o chão era inclinado para fora… Quando chegamos no carro, fomos cumprimentados efusivamente por muitos moradores locais, que nos ofereceram um churrasco para comemorar nosso feito. Não me esqueço da cara de decepção que alguns fizeram quando eu disse que não comia carne vermelha, mas um peixinho providencial, vindo não se sabe de onde, salvou o dia, e depois, chapados de sono e cerveja, voltamos à pousada para um merecido descanso.
No mês seguinte eu já estava de volta a Águia Branca, desta vez acompanhado pela Kate e pelo Alexandre Diniz, para tentar a conquista do Pontão Médio, quase tão grande quanto o seu vizinho mas, ao contrário dele, sem nenhum sistema de fendas que nos proporcionasse uma escalada mais rápida, com proteção móvel. Assim, fizemos uma conquista num estilo mais tradicional, com grampos e cordas fixas, na face oeste da montanha, seguindo em direção à aresta noroeste.
Após pedirmos autorização para a escalada ao Sr. Ademiro Schrieber, proprietário da fazenda que dava acesso à via que pretendíamos seguir o qual também nos recebeu de braços abertos , subimos o longo costão inicial e, em três dias de trabalho intenso, intercalados com um de descanso, concluímos a nossa via, a Face Oeste do Pontão Médio de Águia Branca (4º IVsup, 450 m). Trata-se de uma escalada moderada de agarras, com eventuais passadas em aderência e algum trepa-mato, protegida por 34 grampos de 1/2″ e onde não encontramos fendas para nem uma costurinha sequer em móvel! A via tende sempre para a esquerda, em direção à aresta que, no entanto, não é percebida como tal por ser muito larga, fazendo uma transição suave para a desanimadora face norte, muito lisa e vertical. Duas longas horizontais para a direita, em platôs de vegetação, são a única quebra nesta tendência geral.
Uma vez no cume, de onde se tem uma vista de tirar a respiração do Pontão Maior ali ao lado, além de outros gigantes de granito da região, soltamos nossos morteiros e preenchemos o livro de cume, que foi guardado em uma urna depositada em uma “casinha” feita com lacas de pedra. Em seguida começamos a longa descida, em que removemos todas as cordas que havíamos fixado, chegando à base já à noite.
A Pedra do Coração é uma das quatro montanhas que dominam a paisagem do centro da cidade de Águia Branca, as quais apelidamos, com justiça, de “Os Quatro Fantásticos”. Duas delas já haviam sido atingidas por caminhada, inclusive uma que guarda uma espantosa semelhança com o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, quando visto do cume do Morro da Urca só que bem maior, claro… Das duas que eram virgens, a Pedra do Coração é a maior delas, em altura e principalmente em volume, e este era o objetivo de nosso grupo Yuri Berezovoi, Kika Bradford, Miguel Freitas, Kate Benedict e eu no Carnaval de 2004. Boa escolha, pois enquanto choveu torrencialmente no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, lá tivemos tempo bom todos os dias! A via que escolhemos, a mais fácil possível, partia da fazenda do Chico Trevisani, situada numa curva da estrada que começa ao lado da Pedra Torta, outra montanha notável daquelas cercanias e que é muito subida por moradores locais, tendo inclusive um cruzeiro em seu topo.
Chico Trevisani foi muito caloroso conosco, e não nos deixou partir para a montanha sem que antes percorrêssemos o seu imenso e variado pomar, sempre acompanhados por seu filho Juliano, que não desgrudou os olhos da pedra nos dias em que estávamos escalando, tendo inclusive “adoecido” um dia para não ter que ir ao colégio e, assim, perder algum momento interessante da conquista! A montanha, apesar de suas grandes dimensões, não possuía nome local nem geográfico, mas soubemos que um menininho local, de quatro anos de idade, olhou para a parede e “viu” ali um coração; embora nossa imaginação não fosse tão rica assim, aquilo nos proporcionou a inspiração necessária para batizá-la de Pedra do Coração!
A caminhada de acesso foi o verdadeiro crux da via. O primeiro dia foi quase todo consumido na abertura da trilha no vale que separa a Pedra do Coração do “Quarto Fantástico”, o único que ainda não possui nome e que tem uma vertente pouco inclinada e recoberta de mata. Nesse dia ainda subimos cerca de 100 metros de costões, mas foi nos dois dias seguintes que abrimos a maior parte da via Haja Coração (3º V, 280 m), toda em agarras e aderência e protegida por grampos. É uma escalada tranqüila, que sobe a face menos inclinada da montanha tendendo sempre para a direita, e que termina em um ombro a partir do qual vai-se andando até o cume. Embora a distância a ser percorrida seja relativamente longa, o caminho não apresenta nenhuma dificuldade, alternando longos costões de pedra com trechos de mata pouco fechada.
Soltamos os tradicionais morteiros, deixamos o livro de cume em uma casinhola feita de troncos secos no chão da mata, pois a laca de pedra mais próxima se encontrava a centenas de metros, e descemos tarde, chegando já de noite na casa do Chico para um farto churrasco comemorativo.
O pacato distrito de Cristalina, município de Nova Venécia, já havia assistido a uma das primeiras escaladas feitas no Espírito Santo, quando uma equipe do Centro Excursionista Rio de Janeiro conquistou, em 1960, a sensacional Pedra do Dedo, sem dúvida o objetivo mais atraente daquela localidade. Mas bem próxima ao arruamento do vilarejo destaca-se uma outra montanha de grandes proporções com um óbvio pontão agarrado a uma de suas encostas, como se fosse o dente de algum monstro descomunal. Como ambos não possuíssem nome, Yuri, Kika e eu, agora acompanhados por Christian “Tita” Steinhauser, quando retornamos ao Espírito Santo em novembro de 2004, não pensamos duas vezes para batizá-las de Pedra do Dente (a montanha principal, acessível por caminhada) e Dente de Pedra (o pontão que era o nosso principal objetivo naquela viagem).
Eu e Tita viajamos um dia antes e, por isso, abrimos a curta trilha até à base da parede a partir da casa do Sr. ngelo “Angelim” Oliosi, outro exemplo da hospitalidade capixaba. Nesse mesmo dia ainda exploramos um sistema de fendas largas logo à esquerda do “dente”, mas abandonamos esta alternativa porque não daria uma boa escalada e porque, talvez, só nos levaria até à Pedra do Dente, e não ao Dente de Pedra.
Escolhemos então uma outra linha e, ao longo de três dias intensos, conquistamos a Varridos pela Eternidade (6º V A2, 330 m), uma escalada extremamente variada, com proteção mista, cujo nome evoca um famoso discurso proferido contra a evolução do esporte por um escalador ultra-conservador carioca nos anos 80, discurso este que já havia proporcionado outros bons nomes de vias, como a Fissura do Pseudo-Alpinista, no Dedo de Deus, e a famosa big-wall Tragados pelo Tempo, no Corcovado. Em tom colérico, com o dedo em riste, de pé sobre um banco e perante uma platéia de seguidores que ia ao delírio a cada frase mais forte, o referido orador concluiu sua fala afirmando que “esses pseudo-alpinistas (i. e., todos os que escalavam vias com proteção móvel ou com lances acima de V grau… N. do A.) serão tragados pelo tempo e varridos pela eternidade!”
Começamos, na verdade, pela mesma grota que eu e Tita havíamos reconhecido na véspera, mas após uns 70 metros e uma curta e úmida fissura/chaminé de V, saímos para a direita com duas passadas em A0 e uma série de lances fáceis até chegarmos ao início de um magnífico sistema de fendas. Este foi feito quase todo em oposição e em três enfiadas de corda que levaram grampos apenas nas paradas e um único para proteção, num ponto (crux) em que a fenda acabava.
A partir daí, já no último dia, concluímos a enfiada-chave da via, uma longa chaminé toda ela numa rocha em decomposição que nos consumiu cerca de 5 horas de avanço muito, muito cauteloso… Dois grampos garantem o trecho mais complicado, feito em artificial, mas o resto foi em livre mesmo, com muitas costuras precárias.
Superada esta dificuldade, uma outra enfiada em chaminé, bem mais fácil e em rocha sólida (ou, simplesmente, “rocha”…), nos levou ao cume deste magnífico pontão, para nossa alegria e, também, para alegria dos moradores de Cristalina que compraram binóculos em Nova Venécia para acompanhar nossa aventura! Ao nosso lado encontrava-se a gigantesca laca, apoiada na Pedra do Dente, que, nos meses certos, proporciona o espetáculo da entrada e saída de milhares de andorinhões que ali habitam.
Livro de cume, morteiros, descida lenta com lanternas frontais e, às 10 da noite, estávamos de volta à casa do Sr. Angelim para celebrar nossa façanha com boas doses de pinga e muitos cumprimentos de sua simpática família.
Na mesma viagem em que conquistamos o Dente de Pedra, quase que por acaso, em um dia de descanso, ouvimos falar de Vila Pavão, município há pouco emancipado de Nova Venécia. Como somos curiosos, fomos até lá para dar uma olhada e fomos brindados com a visão de inúmeras montanhas que nenhum de nós sequer ouvira falar, e após uma minuciosa exploração automotiva, escolhemos nosso próximo objetivo: uma montanha bastante limpa, com dois cumes distintos formando uma sela e um imenso totem que nossa imaginação, agora fértil como a do menininho de Águia Branca, nos fez ver uma cabeça de gorila.
Pedra da Sela é o nome que escolhemos para esta bonita montanha e, apesar do tempo tenebroso, partimos decididos para ela a partir da casa do Joel e da Janiaqui, sua esposa, que gentilmente permitiram nossa passagem. Uma rápida caminhada em pastagens nos levou a um longo costão pelo qual subimos rapidamente até à crista entre a Pedra da Sela e uma outra montanha à sua esquerda. Quanto mais nos aproximávamos de nosso objetivo, mais estreita e íngreme a crista ficava, até o momento em que decidimos nos encordar.
A partir dali, naquele dia e no seguinte, fizemos a Aresta King-Kong (5º Vsup, 160 m), uma ótima escalada em agarras e aderência, protegida por grampos, que segue sempre por uma aresta muito bem definida e bastante estreita em alguns pontos. No segundo dia o tempo estava péssimo, tendo chuviscado diversas vezes, mas felizmente não caiu o temporal prometido pelas nuvens negras que pairavam acima de nós. Visitamos os dois cumes da sela, deixamos o livro de cume devidamente acondicionado em uma “casinha” de pedra mas não pudemos soltar os morteiros, pois o isqueiro fora esquecido na base da via!
Ao contrário da maioria das montanhas da região de Águia Branca, a Pedra da Boneca já possuía este nome quando a vimos pela primeira vez, e quase todos a conhecem na cidade. Para se chegar nela, basta seguir toda a vida a rua da delegacia, virando à direita em duas ou três bifurcações até ficar bem embaixo da Pedra da Boneca e então procurar o sítio do Guilherme e da Agda, que, para variar, nos receberam muitíssimo bem.
Era o Carnaval de 2005, e desta vez nós invertemos: Yuri e Kika chegaram um dia antes e abriram a curta, porém horrorosa trilha até à base do grande sistema de fendas que atravessa a parede principal de ponta a ponta. Quando eu, Tita e Priscila Botto chegamos ao único hotel da cidade, para nos reunirmos aos dois, lá já estavam, também, Miguel “Aderência” Monteza, Adrian Giassone e Daniel Guimarães, que começaram a abrir uma via na Pedra Torta e outra em uma grande parede em frente aos “Quatro Fantásticos”. Pela primeira vez tínhamos dois grupos independentes entre si escalando ao mesmo tempo em Águia Branca!
Nossa via, Sambalelê (5º VIsup (1), 280 m), feita em dois dias, acompanha um belíssimo sistema de chaminés com crux numa seqüência de oposição e agarras, e é quase toda protegida em móvel apenas um de seus cinco grampos é para proteção, pois todos os demais estão em paradas. Esta é uma via muito interessante e diversificada, e mesmo os trechos de chaminé são bem diferentes entre si, além de limpos.
No cume cumprimos todo o ritual: soltamos nossos morteiros e deixamos um livro para o registro de futuros visitantes um deles talvez eu mesmo, pois esta é uma daquelas escaladas que merecem ser feitas de novo.
Para fechar com chave de ouro o Carnaval de 2005 fomos todos os cinco para o Júnior, nome que demos ao grande lagarto encostado na face norte do Pontão Médio de Águia Branca. Visto da estrada o Júnior parece pequeno, mas isto é uma ilusão de ótica causada pelo gigantismo do Pontão Médio, atrás dele, e do Pontão Maior, ao seu lado, e a via que fizemos para chegar ao seu cume (que é bem destacado), Brinquedo Assassino (3º IVsup A2, 75 m), só não foi maior porque caminhamos o máximo que pudemos por um complexo sistema de corredores e chaminés até chegarmos ao colo entre as duas pedras, a partir do qual a escalada tornou-se obrigatória.
A primeira enfiada, fácil, mas pouco protegida, é uma seqüência de agarras em diagonal para a esquerda por baixo do bloco final do Júnior e termina em um bom platô. A segunda enfiada começa com um pequeno artificial de cliff-hangers de buraco e de agarras, com um grampo no meio já pensando em uma futura tentativa em livre, e depois continua em agarras até o topo, aonde chegamos sob a ameaça de uma tempestade terrível, mas que pouca água soltou de fato. Desta vez não houve morteiros, mas o livro de cume foi devidamente depositado no topo, honrando a tradição.
Quanto vale o Pão de Açúcar?
A pergunta não é trivial, e existem diversas respostas para ela. Se cortado em cubos e exportado para os Tigres Asiáticos, onde o granito brasileiro faz muito sucesso como material para revestimentos de fachadas, o Pão de Açúcar certamente valeria um dinheirão, sendo um produto com preço e liquidez garantidos. Entretanto, ninguém duvida de que ele vale infinitas vezes mais tal como está, inteiro, imponente, compondo um dos mais belos cartões postais de uma cidade cujo ponto mais alto talvez seja, exatamente, suas belezas naturais. Desmontá-lo em blocos para a obtenção de um ganho financeiro imediato seria o mesmo que comer a galinha dos ovos de ouro.
Os principais pontões capixabas nada devem ao Pão de Açúcar nem a qualquer outra montanha em termos de beleza e majestade, mas lá a galinha está indo para a panela, e com requintes de crueldade! Incontáveis mineradoras de granito ornamental estão roendo, simultaneamente, as encostas de dezenas de montanhas, causando um impacto cênico indescritível e agredindo seriamente o meio ambiente através da destruição de uma vegetação rupícola muito rica e pouquíssimo estudada, da supressão de remanescentes florestais e devido ao abandono dos rejeitos da atividade minerária de qualquer forma, nas encostas ao redor. A possibilidade de ganhos futuros contínuos e sustentáveis através da exploração do turismo de uma maneira geral, mas em especial do chamado turismo ecológico, é encurtada a cada explosão. O imediatismo prevalece: segundo um morador local, como tantos outros incomodado com o avanço das mineradoras, “os proprietários das fazendas sabem que está tudo sendo destruído mesmo, mas eles ficam calados para poder fechar logo negócio com um graniteiro e sair por aí circulando numa cabine dupla…”.
Em cidades como Águia Branca, grandes carretas com blocos de granito passam com uma freqüência assombrosa, dia e noite (embora mais de noite do que de dia, de forma a evitar uma improvável fiscalização), inclusive sábados, domingos e feriados. É uma sinistra procissão, que todos os dias escoa um volume de rocha incalculável para abastecer tanto o mercado externo quanto o interno, onde a abundante oferta do produto aviltou seu preço de tal forma que pisos, revestimentos e tampos de mesa confeccionados com granitos de diversas cores agora são coisa vulgar.
O Estado do Espírito Santo, inclusive, se orgulha de ser “o maior produtor de pedras ornamentais do Brasil”, o que só é possível graças ao comprometimento irreversível de algumas de suas mais notáveis paisagens. Embora haja um ressentimento da população local com relação ao que os graniteiros fazem, aparentemente não há nenhuma reação organizada contra este sério problema, que está se alastrando numa velocidade avassaladora quem esteve por lá recentemente sabe que isto não é um exagero. Nem mesmo um monumento tombado, a Pedra do Elefante, em Nova Venécia, escapou da dinamite: a tromba do elefante há muito virou brita, embora neste caso a mineração tenha sido suspensa logo após.
Considerando-se o estágio em que chegamos, pode-se dizer que a indústria do granito ornamental é irreversível, mas para que o desastre não seja total, medidas mais do que urgentes precisam ser tomadas para que o fantástico patrimônio cênico e ambiental constituído pelas montanhas e pelos pontões capixabas não se perca de forma tão estúpida.
O primeiro escalador a enfrentar os gigantes capixabas foi o lendário Sílvio Mendes, do Centro Excursionista Rio de Janeiro CERJ, que em 1947, acompanhado pelo seu grande parceiro de escaladas, Índio do Brasil Luz, além de Reinaldo Behnken e Reinaldo dos Santos, subiu o impressionante Itabira, em Cachoeiro do Itapemirim, pela via que hoje leva o seu nome. Feita no típico estilo de Mendes, com longos laça-grampos em “pés-de-galinha”, chaminés úmidas e muita vegetação, repetí-la ainda hoje é um empreendimento para poucos, o que posteriormente motivou Cláudio Vieira de Castro a descrevê-la assim: “aquilo não é uma escalada: é uma ascensão!”
Estimulados por este sucesso, escaladores locais, do extinto Clube Excursionista de Cachoeiro do Itapemirim, lançaram-se imediatamente a um objetivo óbvio: a Pedra da Freira, que juntamente com a vizinha Pedra do Frade forma um dos monumentos geológicos mais conhecidos do estado. Infelizmente, porém, a tentativa terminou em tragédia devido à morte do escalador Amâncio Silva, o que os levou a abandonar o projeto. Este foi um dos primeiros acidentes fatais da escalada em rocha em todo o Brasil. No ano seguinte, com outros três amigos João Borges, Júlio Rodrigues e Sidneides Viana , Mendes voltou a Cachoeiro do Itapemirim e completou a escalada, além de também subir, possivelmente pela primeira vez, a Pedra do Frade, esta bem mais fácil.
Em 1957 um grupo do Centro Excursionista Brasileiro CEB, liderado por Hélio Barroso e compreendendo ainda Carlos Costa Leite e o casal Mário e Dilce Mota, atingiu com facilidade o Pontão Médio de Mimoso do Sul, próximo à fronteira com o Rio de Janeiro. No ano seguinte Ricardo Menescal, Drahomir Vrbas, Patrick White e Hamilton Maciel, do Clube Excursionista Carioca CEC, fizeram uma via bem mais exigente para chegar ao ponto mais alto dos Três Pontões de Afonso Cláudio, na verdade uma única e imponente montanha com quatro cumes distintos.
Foi em 1959 que a primeira escalada técnica de envergadura veio a ser feita no Espírito Santo, na remota Vila de Pancas, à época ainda um distrito de Colatina: a Chaminé Brasília, um colossal sistema de fendas largas e chaminés de larguras variadas, com cerca de 400 metros de extensão, que leva ao topo da Pedra da Agulha, obra de Giuseppe Pellegrini, Carlos Russo, Rodolfo Kern, Bravim Ferreira e Emil Mesquita, do CERJ. Até hoje classificada como sendo de 6º grau, devido à sua extensão e constância, ainda que não possua passagens individuais mais técnicas, a Chaminé Brasília já derrotou muitas cordadas modernas, que foram perdendo gás ao longo das entranhas da montanha.
Em 1960 Menescal, Vrbas, Gilberto Pimentel, Mauro Vilela e Márcio Tomassini fizeram a primeira incursão a um dos conjuntos mais impressionantes e visitados do Espírito Santo: os Cinco Pontões de Afonso Cláudio (ou de Laranja da Terra, após a emancipação), quando atingiram o Pontão Maior pela sua Via Normal, bastante fácil. Os outros quatro pontões, bem como as diversas agulhinhas que se espalham pelo topo do maciço, ainda esperariam muitos anos para serem todos subidos.
Outro grupo do CERJ Cláudio Vieira de Castro, José Luiz Barbosa e Etzel Von Stockert venceu, em 1965, a Pedra do Dedo, em Cristalina, distrito de Nova Venécia, por uma via toda em chaminés, porém bem menor e menos exigente do que a Chaminé Brasília. Mesmo assim, foi apenas em 2001 que ela recebeu a sua primeira repetição, para surpresa dos mais jovens habitantes do local que duvidavam das histórias dos mais velhos, os quais afirmavam que num passado distante um grupo com um “americano” (provavelmente o Etzel, que é carioca, mas de descendência alemã…) já havia estado lá.
De 1970 a 1974, em sucessivas viagens, foi a vez dos demais pontões de Laranja da Terra receberem sua primeira ascensão por grupos de jovens e talentosos escaladores do CEC que incluíram um mito da escalada carioca, Rodolfo Chermont, além de outros nomes de destaque à época. Primeiro foi o Pontão 17 de Julho, uma das pequenas agulhas no topo do maciço, subida por Chermont, Jean-Pierre Von der Weid, Luis “Penacho” Bevilacqua, José Carlos Almeida e Carlos Braga e, em seguida, o famoso Pico da Foca, cuja única via foi, durante muitos anos, a escalada mais difícil do país, além de muito perigosa (hoje amansada por diversos grampos adicionados por cordadas subseqüentes…), obra de Chermont, Braga, Rogério de Oliveira e Augusto Villela. Depois foi a vez do Filhote da Foca, com seu longo teto em artificial móvel, feito por Jean-Pierre, José Carlos, Penacho, Braga e Marcelo Werneck, onde eles sofreram um sério ataque de abelhas e, por fim, a Língua do Boi, basicamente um longo artificial fixo numa montanha cuja base é quase toda negativa, aberto por Jean-Pierre, Penacho, Braga, Werneck e Heckel Capucci.
No único destes anos em que não foram para Laranja da Terra, 1972, os escaladores do CEC não ficaram ociosos: uma expedição com cinco de seus mais ativos membros novamente Jean-Pierre, além de Capucci, George White, Marcos da Silveira e James Desroisier conquistou a Pedra do Fio, em Arapoca, município de Castelo, por uma via ainda não repetida e que deixou intacto um dos dois cumes desta impressionante montanha.
Poucos anos depois foi a vez do CEB voltar a marcar presença, agora com uma via bem mais complexa do que aquela feita anteriormente em Mimoso do Sul: a Pedra do Lagarto é um imenso pontão agarrado às paredes ainda maiores da Pedra Azul, em Domingos Martins, que proporcionou a Francesco Berardi, Antônio Dias, Mário Arnaud e Marcelo Esposel, em 1976, uma via com longos artificiais fixos mas, também, com arrojadas seqüências de chaminés, algumas delas em rocha podre. Dois anos depois, Berardi, Arnaud e Jessé Ferreira voltaram ao Espírito Santo para subir a Pedra Pontuda, em Castelo, por uma via não muito difícil, mas que quase custou a vida de Berardi num acidente de rapel. No mesmo ano, Arnaud, Amauri Menezes e Anídio Corrêa subiram o Pontão Menor de Mimoso do Sul por outra via sem grande complexidade, e desta vez sem sustos.
Contrastando com toda a atividade da década de 70, os anos 80 foram de quase total esquecimento das imensas possibilidades do Espírito Santo, a única exceção tendo ocorrido quando Mário Arnaud e Oswaldo “Santa Cruz” Pereira atingiram, em 1988, o cume de uma agulha rochosa em Atílio Vivacqua, a Pedra de Santa Teresa, no caminho para Cachoeiro do Itapemirim.
Em 1990 Berardi retornou ao Espírito Santo, desta feita em companhia de Mauro Maciel e do veterano Manoel Lordeiro, para conquistar o Bico da Gamela, em Atílio Vivacqua, e em 1997, no mesmo município, Mauro e Flávio Wasniewski atingiram o cume da Pedra do Moitão, também conhecida como Moitão do Norte ou, ainda, Alto Moitão, duas escaladas relativamente fáceis e acessíveis.
Ainda em 1997, Jean-Pierre von der Weid, depois de mais de 20 anos, retornou a Laranja da Terra, agora acompanhado por Ivan Calou, Ricardo de Moraes e Gustavo Telles, para conquistar as duas agulhas remanescentes no topo do maciço dos Cinco Pontões: tanto o Pitoco do Alemão quanto a Agulha Casagrande são escaladas curtas e de dificuldade moderada, que aumentaram ainda mais o leque de opções naquele notável conjunto rochoso, um dos mais impressionantes de todo o país. No ano seguinte, na pequena Ibituba, a mesma equipe subiu o Pontão de Ibituba, agora por uma via difícil e razoavelmente exposta que, como muitas outras neste relato, ainda não foi repetida.
Pouco depois, em 2000, Santa Cruz e cerca de uma dúzia de amigos da UNICERJ escalaram a Agulhinha Juliana, em Estrela do Norte, por uma via com proteção mista (fixa e móvel), enquanto José Renato (“Renatão”), Cosme Barbosa e Gustavo Silvano, do Clube Excursionista Light CEL, em 2002, venceram uma longa parede para chegar ao topo da Pedra da Gaveta, em Pancas, uma escalada que lhes consumiu muitos dias de esforços.
Em 2004 Miguel “Aderência” Monteza, Patrícia Duffles e Alexandre Charão subiram a Pedra da Jaboticaba, em Águia Branca, por uma longa (600 m) e fácil escalada de aderência e agarras, sendo que, neste caso, eles não chegaram ao topo propriamente dito da montanha devido à cerrada vegetação ali existente: o livro de cume foi deixado mais abaixo, sendo, portanto, mais apropriado denominá-lo “livro de encosta”!
Finalmente, em agosto deste ano, Edemilson Padilha, Valdesir Machado, Javier Franco, Eduardo Viana Ralf e Fernanda Rocha atingiram a Pedra do Garrafão, em Ecoporanga, por uma escalada longa e exigente, que lhes consumiu seis dias de esforços.
Embora no passado eu já tivesse viajado para o Espírito Santo para repetir algumas das escaladas acima indicadas, como o Pico da Foca, a Língua do Boi, a Pedra do Dedo e o Bico da Gamela, foi somente a partir de 2000 que passei a freqüentar o estado em busca de seus ainda numerosos cumes virgens, tendo concluído desde então as sete vias descritas no artigo principal, que completam esta cronologia.
Legenda do mapa: 1. Mimoso do Sul; 2. Atílio Vivacqua; 3. Cachoeiro do Itapemirim; 4. Castelo; 5. Domingos Martins; 6. Afonso Cláudio; 7. Laranja da Terra; 8. Ibituba; 9. Pancas; 10. Águia Branca; 11. Nova Venécia; 12. Vila Pavão; 13. Ecoporanga; 14. Estrela do Norte
No feriado de 15 de novembro, Kika Bradford, Bernardo Collares e Mariana Candeia abriram em Águia Branca uma variante da via Sambalelê, na Pedra da Boneca e também iniciaram uma outra via no Pão de Açucar, na mesma região.
A variante, chamada de Bundalelê, ficou em 6º VIsup E3 com 180 metros de extensão, ligando a base da montanha (face leste) ate a P4 da Sambalelê. Desse ponto são mais quatro enfiadas pela via original até o cume da Pedra da Boneca.
A Bundalelê levou cinco grampos e muito material móvel. As paradas foram feitas em árvores, bicos de pedra ou em móvel. O material recomendado para repetir a via é 12 costuras e um jogo de friends com peças médias e grandes (inclusive camalots 5 e 6), com algumas peças repetidas.
A via iniciada no Pão de Açúcar de Águia Branca fica na face leste da montanha, imediatamente à direita dos tetos e segue por uma fenda óbvia que corta a montanha quase até o cume. O trio abriu 20 metros de via que vale a pena para os dias chuvosos (a via fica seca durante um bom tempo devido aos tetos de cima) ou para dias curtos (chegando de viagem ou dias de descanso). Na parte inicial a rocha é bastante podre e durante a conquista a dupla feminina demonstrou bastante coragem parando em cliffs de agarra para bater os grampos, sem fazer um furo sequer de cliff, com direito a cliff estourando e quedas.
A fenda que segue pela via tem aproximadamente 300 metros, cruzando a face leste, e os três acreditam que será muito difícil e demorado para conquistar, pois a parede é 90º ou negativa, e depois que termina a fenda ainda tem quase 200 metros de face para chegar ao cume. Por enquanto a via tem seis grampos e a proteção fica melhor com algumas peças: nuts, camalot 3, 4, 0.5 e 0.75. A primeira enfiada foi graduada em VIIa.
Com o número de vias existentes na região, que já passam de 10, Águia Branca já pode ser considerada uma ótima região para escaladas, sem contar os belos cumes que são possíveis fazer caminhando.
Este texto foi escrito por: André Ilha
Last modified: dezembro 12, 2007