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Blog da X-Press: Um dia de Atenah

Redação Webventure/ Corrida de aventura

Manu no vertical (foto: Arquivo pessoal)
Manu no vertical (foto: Arquivo pessoal)

A equipe X-Press, formada por um grupo de jornalistas que participa de provas de aventura, estréia um blog no Webventure, onde contarão os perregues e desafios em participar das competições. No primeiro relato, Manoela Penna traz o relato da última etapa do Circuito Adventure Camp.

Agora eu entendo a Shubi. Correr em um quarteto de mulheres é, realmente, uma coisa completamente diferente, linda, louca, divertida… exaustiva.

Com os meninos (Fel, Cappi e Piva) decididos a passar metade do dia 25 pedalando no MTB 12 Horas, em São Paulo, resolvi encarar a última etapa do Adventure Camp em Paraty com uma equipe nova. A “pilha” começada na praia de Geribá graças a duas ou três cervejinhas depois do Ecomotion/Pro saiu do papel e virou a X-PRESS Girls, com a participação, além de mim, de Camila Coimbra, Juliana Calderari e, até segunda ordem, de Andréa Cavalheiro.

Treina daqui, arruma uma estrobo dali, agita carro acolá, e ainda pensa na hospedagem, etc, etc, etc. Até bicicleta a gente precisava descolar. Lição número um: vida de capitã de equipe não é mole, não.
Quarta antes da prova, ainda faltavam duas estrobo vermelhas, dois cobertores de emergência, uma lanterna, além dos coletes e dos equipos de vertical (mas eu contava com esses últimos na Clínica do Camp). Isso tudo era o de menos depois que veio a bomba: Andréa mandava um email dizendo, gentilmente, que não correria com a gente. A matéria que ela tinha sugerido pro Zona de Impacto do SporTV cresceu, a responsa também, e não ia dar pra assoviar e chupar cana, pra filmar e subir ladeira, pra escolher os melhores takes e remar aquele duck dos infernos.

Solução – Ah, para isso existem padrinhos. Os equipamentos iam ser cortesia da Cami, da Oskalunga. Já a quarta “elementa”… foi o Marcinho, da Selva, quem nos salvou. “Uma aluna, que já correu umas provinhas”. Esse foi o briefing que ele passou sobre Lílian Araújo – desmascarado no meio da trilha do Mamanguá, quando essa mocinha indefesa confessou que já tinha ralado em dois Ecomotion/Pro, um EMA… e pára por aí se não a gente entra em colapso.

Passamos os dias que antecederam a prova tentando pegar por osmose a categoria da turma da Oskalunga, que dividiu o QG da casinha de Paraty Mirim conosco. Uma coladinha pra plotar o mapa, uma dica de MTB, e até um carregaducktabajara com design exclusivo by professor Lico Pardal para a gente. Testamos a engenhoca (um carrinho de feira preso ao duck por elásticos, muito style) na encolha, funcionou, demos boas gargalhadas e já tínhamos certeza de que essa era a nossa arma super secreta pra prova.

Conhecemos a Lílian, efetivamente, na hora do briefing. O astral bateu, vimos que a idéia era mesmo garantir bons momentos na prova, desfrutar o visual e completar. Claro, a meta também era: 1) não ser a última equipe a chegar e 2) não ser a última equipe de mulher a chegar. Fora isso, qualquer coisa estava valendo.

Lição número dois: trace metas possíveis de se alcançar. Não adianta querer dar um passo maior do que a perna.

Já com os barcos na água começaram as gargalhadas. Não dava pra remar as três com uma sentada no meio. Jú foi jogada na água. Machucou a coxa. Pulou pra dentro do barco de volta; Lílian então foi fazendo hidroginástica rebocada pelo extensor, Camilinha foi meditando e cantando na proa… e lá se foram preciosos 30, 40 minutos de prova até entendermos qual a melhor maneira para botar o duck pra andar. Atrás da gente, só paisagem. Estávamos em último.

Remando com apenas “dois motores” (Jú e eu), passamos umas dez equipes. Chegamos relativamente bem no PC1 (até porque, uma vez que você está em último, não pode mais perder posições, só ganhar!) e todas serelepes começamos a armar nossa arma secreta. Ai, que falta faz um homem!

Acessório do duck – Em menos de 50 metros da famigerada portagem (já estávamos quase em último de novo… perdemos um tempão às voltas com a geringonça que desmontava toda hora), demitimos o carrinho de feira. Jú rapidamente sugeriu uma nova tecnologia de botar o duck em cima dos remos e prender com o elástico. Foi tudo às mil maravilhas, só quem não gostou foi o ossinho do pescoço, que está doendo até hoje.

Foi nessa portagem rebolativa (sim, fomos desfilando) que as meninices começaram. Dr. Clemar passa de carro, estamos no meio da trilha. Há um recuo à esquerda. Pergunto pra equipe: “Gatinhas, vamos pra que lado, direita ou esquerda?” (lógico, sabendo que o normal é ir pra esquerda). “Direita!”, respondem. E vamos todas pra esquerda, sem desencontros.

Lição número 3: mulher não precisa de tradução simultânea para saber para qual lado seguir (mesmo que confunda direita e esquerda)!

Até cumprir os três quilômetros com o duck no lombo já fizemos a lista dos mais gatos do mundo (Garcia Bernal e Di Caprio mano a mano), ranqueamos os top delícia das corridas de aventura (…), fofocamos, trocamos telefone de cabelereiro, contato da costureira… e, por fim, posamos para foto antes de botar novamente o barquinho na água.

De novo seguimos duas a duas e ultrapassamos mais umas quatro equipes. Na divisão do quarteto, Camilinha foi no trekking com a Lílian e segui no barco com a Juliana. A caminhada, por sinal, teve direito a chilique da Camila ao ver uma cobra coral. O remo, por sua vez, teve mais doses de risadas ao nos depararmos com ducks alheios andando em círculos. E a Andréa… essa foi vista passeando de transatlântico, filmando tudo e ainda querendo que a gente falasse alguma coisa coerente (já dizia meu técnico Marcão: ou fala, ou faz força! Os dois não dá!!).

Pausa para atendimento médico, água cedida pelo rapaz do PC4 e uma troca estratégica na escalação porque a Jú estava com dor no braço: eu e Lílian com o remo na mão, Jú e Camilinha caminhando e cantando. Com direito a delivery até a entrada da trilha by Lílian, já que as duas loirinhas não se davam muito bem com UTMS, PCS, trilhas, mapas. Foi preciso que nosso reforço estratégico mostrasse o roteiro a seguir.

Ajuda e mais ajuda – A lição número 4? Em uma equipe de mulher, todas se ajudam. E os staff também nos ajudam, o que é mais legal!

O subidão cabuloso (e sua descida correspondente) maltratou coxas, tornozelos e tudo o mais… Mas as unhas sobreviveram. “Nossa, cheguei até aqui sem estragar o esmalte”, comemorou uma X-PRESS Girl, mas não vou dizer qual.

Caminha um pouquinho, bebe água, tira foto, passa repelex, arruma o rabo de cavalo, pega a mangueira emprestada dos caiçaras (sem trocadilho):

“Que bundinhas”, disse um barqueiro ao ver a retaguarda das quatro damas no meio daquele “deserto” de mar e montanha.

“Não se anima que é a almofadinha da calça!”, respondeu Jú, com toda didática que Deus lhe deu.

Alcançamos o PC6, enfim. “E aí, vão desistir?”, pergunta o fiscal. A resposta veio em forma de quatro sorrisos com canto da boca, uma assinatura rápida na planilha, um olhar 43 para os dois marmanjos de outras equipes encostados na parede, entregues ao cansaço e… partiu!

“Vocês são a segunda equipe de menina. Acelerem!”, mudou o discurso, então, nosso amigo Mr. PC6.

A lição número 5 foi ditada pelo Dr. Clemar ainda no briefing: “Nada de dar faniquitos, chiliques ou piripaques no Mamanguá! Dá trabalho chegar até lá pra resgatar vocês”.

Entre o 6 e o 7, tomamos uma Coca, demos cola na navegação para uma equipe perdida (e, claro, ultrapassamos eles com categoria) e chegamos no local anunciando “Gatinhas.com na área”, pra receber uma bela gargalhada do fiscal.

Ao cruzar com um garotão de uns 20 anos, quase desacordado numa sombra receoso de dar mais um passo rumo àquela interminável subida entre o PC7 e o 8, realmente entendi que uma equipe de mulher incomoda, e muito, o orgulho de uns e outros. Oferecemos ajuda (ah, o espírito materno!), botamos pilha, convidamos o moço a vir conosco. Um murmurar de desprezo e deixamos o rapaz comendo poeira, então, fazer o que?

Foram 80 minutos intermináveis. Numa hora tínhamos que carregar duas, três mochilas. Noutra uma só estava com três coletes. De vez em quando havia alguém fazendo companhia à parceira sentada na pedra. Noutras vezes aquela mãozinha empurrando pela lombar tornava possível vencer um trecho que parecia intransponível. Assim chegamos, enfim, à descida para o PC 8.

Mensagem – “Bilhetinho para vocês”, disse um rapaz que esperava a namorada próximo ao ponto de ônibus do fim da trilha.

XPRESS Sundown muita força, está acabando!! Beijos… Ganhamos!

Era a galera da Oskalunga Sundown, equipe irmã, que havia cruzado o pórtico quando ainda buscávamos o PC 6 (covardia…) mas que dava aquela preciosa demonstração de carinho, amizade e companheirismo. Um verdadeiro dopping psicológico.

Sexta lição do dia: mulheres gostam de carinho. Mais vale um bilhetinho do que um quilo de aminoácido.

Seguimos sorrindo para o campo de futebol, eu certa de que não escaparíamos do corte e eu passaria ilesa pelo rapel de 50m que me aguardava. Andamos melhor do que eu imaginava, não fomos cortadas e, embora não estivesse no “contrato”, com Camilinha e Juliana sentindo a perna, era necessário poupá-las do trekking até a pedreira e, com isso, a voluntária para encarar as cordas era eu. Além da Lílian, mas ela é profissional…

Fomos correndo até o 9 (uma das melhores parciais 8-9 do Camp, valeu!!!) e começamos a escalaminhada rumo ao topo. Fomos a última equipe a passar pelo 8 sem corte… Friozinho na barriga, vontade de desistir, a vida passando na cabeça (exagero, confesso… hehehe, é para dar um tom dramático) e estava eu dependurada numa corda pesada pra chegar no chão. O Natale descia na corda ao lado, dando apoio moral. Os “Alayas” faziam serenata. Cantavam músicas para embalar meu rapel e o da Lílian.

E assim temos a sétima lição para lidar com quatro meninas: mulheres precisam de atenção, mulheres gostam de música!

Desconhecidas? Nem tanto – Embora fossemos um quarteto desconhecido, inexperiente e pouco expressivo (lembra, largamos em último) é impressionante o que representa o fato de ser um time 100% feminino. A cada PC, uma festa. “Estávamos esperando por vocês!”, “Chegou o time mais aguardado!”, “Bora, mulheradaaaa!”.

Foi assim até a chegada (com direito a pausa pro xixi, discretamente na moita). Teve massagem na panturrilha no meio do acostamento by equipe médica, o carro da organização escoltou a gente no pedal final, demos entrevista sob o pórtico, tiramos foto com meio mundo, recebemos parabéns das equipes Pró, abraço do Zolino (e fica o pedido para a criação da categoria feminina em 2008), aplausos da turma presente naquele fim de domingo na Praia do Pontal.

É, vida de Atenah não é mole, não!

P.S: Não chegamos em último e fomos a segunda equipe feminina!!!

A equipe X-Press conta com o patrocínio da Sundown Bikes e o apoio da Nissan, Kailash, Capacetes Giro e Bull Terrier

Este texto foi escrito por: Manoela Penna (Equipe X-Press)

Last modified: dezembro 5, 2007

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Redação Webventure
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