Leniton Araujo (foto: Dea Villela)
Anualmente, a Dunas promove dois eventos relevantes no calendário nacional de Rally. Um deles, o Rally dos Sertões, relevante pela dificuldade, pelo tamanho e pelos participantes. O outro, relevante por representar a comemoração dos laços de amizade criados e mantidos durante um ano de provas Off-road.
Este evento não poderia ter título mais apropriado: Rally dos Amigos.
Amigos pilotos, amigos mecânicos, amigos motoristas de carreta e motor homes, amigos cozinheiros….
As equipes podem ser concorrentes, as motos podem ser concorrentes, os pilotos podem concorrer à mesma posição, mas todos são grandes amigos. Celsinho, de Husqvarna, e Lenilton, de KTM, grandes amigos só não conseguem evitar zombar um do outro sobre suas motos!
A ida para Itatinga foi uma comemoração. Na estrada, as carretas, motor homes e carros de apoio das diversas equipes se encontraram e se cumprimentaram como se não se vissem há meses! Todos saudosos! Jesus e Mauri, Zé Roberto, nós, Oswaldinho, Claritas, Paulinho…
A chegada não foi diferente, os amigos estavam todos reunidos na porta de seus motor homes, contando as histórias do ano. As próprias e as dos amigos:
As famílias também estavam presentes: as mulheres dos pilotos, os filhos dos pilotos, os amigos dos filhos dos pilotos, etc… Os amigos (tios) zombavam dos pais que são derrotados pelos filhos. E os filhos contavam como derrotam os tios e os pais. Celsinho e Caio zombando um do outro é uma delícia! Os irmãos Tiago e Diogo azucrinando a vida dos irmãos tio Marcio e tio André é uma diversão a parte!
As crianças menores estavam todas babando com tantos heróis juntos, com tanta moto, com tanto motor! Aquele é o Jean Azevedo? Aquele, do Dakar? É ele mesmo? É o presente de Natal adiantado! Tiago e Diogo estavam hipnotizados com as motos!
Mesmo quem não podia pilotar porque estava em recuperação médica das provas do ano, estava lá. É fato que gostariam de estar em suas motos e quadris. Mas a felicidade por estar com os amigos ultrapassava qualquer expectativa de diversão. Leandro, Robert e Bernardo eram só sorrisos! A foto fala por si só.
A CBM nunca esteve tão presente. Mas faltou o Silvio… Nos ajudou tanto durante o ano e não pudemos agradecer. Kilca, como sempre, atencioso com todos. Perguntou-nos sobre o ano que passou e informou-nos sobre os planos para 2008. De nosso lado, recorremos ao Kilca com as dúvidas sobre as novas regras, sobre as provas o de sempre: perturbamos Kilca a mais não poder!
Enfim, a prova mais esperada do ano não decepcionou: foi um sucesso como sempre!
Vamos ao detalhes.
Neste ano, o abastecimento das motos foi mais organizado. Nos dois pontos em que era permitido suprir motos, quadris e pilotos, a Dunas separou uma área destinada a este apoio.
Alocadas na ponta de uma curva em cotovelo, as áreas de apoio estavam fora do alcance dos demais concorrentes e de fácil acesso aos respectivos apoios.
Adicionalmente, as áreas foram demarcadas com fitas, de forma a tornar mais claro e mais fácil a identificação do ponto exato de abastecimento.
Através destas medidas, a Dunas separou a área de risco potencial da área da prova. Qualquer acidente eventualmente ocorrido nesta área de abastecimento não atingiria os demais pilotos. De igual forma, com esta separação, a Dunas evitou a exposição desnecessária dos apoios aos pilotos da prova, diminuindo as chances de atropelamento.
Parabéns pela iniciativa e pela melhora!
Contudo, infelizmente, não podemos dizer o mesmo dos apoios…
Mais uma vez, os apoios tomaram bebidas alcoólicas desde cedo, misturando elementos que não combinam juntos: (i) álcool e crianças e (ii) combustível e cigarro. Uma mistura que ainda não surtiu efeitos graves, mas, se surtir, será desastroso.
A chegada de uma moto era alarmada de longe e sem saber de qual piloto se tratava, diversos apoios corriam com tambores de combustível na mão. Em volta do abastecimento, apoios fumavam cigarros despreocupadamente. E crianças no meio disso tudo.
Com todo este ambiente desordenado e afoito, pilotos eram levados a mais stress, esquecendo-se de desligar a moto/quadri. Pudera, ao invés de trazer facilidade, apoios geravam dificuldades.
Apoio significa suporte, desoneração. Apoio não pode ser fonte sequer, potencial de problema. Apoio não pode ser ônus para o organizador.
É fato que nenhuma destas situações é provocada ou mesmo é consciente. Estão todos na prova com o intuito de ajudar. Mas por tratar-se de uma festa, animam-se por demais e esquecem-se que o apoio deve ser, antes de mais nada, incólume, livre de potenciais problemas.
Assim, fica a dica de oportunidade de melhoria para o próximo ano que os apoios ajudem um pouco mais, evitando trazer ao piloto e ao organizador eventuais problemas.
Se nós, apoio, retirarmos este ônus do piloto e do organizador, estes poderão dedicar-se a fazer mais e melhores provas. E nós, apoio, poderemos ajudá-los em mais e melhores provas, num círculo virtuoso.
Vamos mostrar às nossas famílias o que realmente acontece numa prova de Rally: gente séria trabalhando arduamente para um sucesso comunitário, unindo diversão e responsabilidade.
Neste ano, a preocupação com o percurso e com a segurança dos pilotos foi ainda maior. A Dunas, através de seu course designer, Du Sachs, foi ainda mais específica e explícita na explanação sobre o percurso da prova.
É fato que o Du é sempre muito cuidadoso no trato dos percursos que desenha. Mas, desta vez se que é possível foi ainda mais.
O percurso foi explicado em detalhes para que todos os pilotos, experientes ou não, tivessem a exata noção do que iriam encontrar.
Cada perigo foi esmiuçado, desde o deslocamento inicial até o final da prova. As curvas em cotovelo foram objeto de descrição individual. As erosões nas descidas também. As lombas nas descidas foram chamadas à atenção diversas vezes.
Briefings como este, acrescem a qualquer prova, seja ela uma prova mista como esta, com pilotos de Rally e Cross, seja ela uma prova como o Sertões, composta apenas por pilotos de Rally. Estes briefings permitem uma combinação que poucos conseguem: segurança e diversão.
O resultado está nos números: 200 pilotos concorrendo e apenas dois acidentes, nenhum deles grave. E, pelo que soubemos, o socorro foi eficiente.
É fato que este é um esporte de risco. Mas o risco é uma opção. Se ele é relatado de forma genuína, o piloto opta por correr este risco ou não. A opção é do piloto. Se o risco é relatado de forma fictícia, o piloto deixa de ter esta opção e passa a correr o risco do organizador e não dele, piloto.
Assim, parabéns à Dunas pelo critério na escolha de seus profissionais e pela preocupação com a segurança de seus eventos e ao Du pela seriedade e eficiência com que sempre trata o percurso de provas.
Infelizmente, ainda não consegui retirar de meus relatórios a opinião negativa sobre o cumprimento de horários e agendas.
O briefing que estava marcado para a sexta-feira à noite foi cancelado e só foi avisado às equipes no próprio dia em que ia acontecer. Assim, pilotos se deslocaram desnecessariamente para Itatinga para cumprir uma agenda que não foi cumprida ou notificada de forma adequada (que não iria ser cumprida).
Por isso, mantenho meu discurso:
Ademais, 90% dos pilotos inscritos em provas de Rally, não são profissionais de motociclismo. São profissionais que trabalham durante os dias úteis e que fazem sacrifício para prestigiar as provas do Campeonato Brasileiro de Rally. De forma que o tempo em que permanecem no local das provas deve ser sempre o menor possível: devem chegar até o dia da vistoria e ir embora assim que terminar a prova. Caso contrário, devem sacrificar a presença em alguma outra prova do Campeonato. Esta é a realidade de 90% dos pilotos inscritos em provas de Rally.
Esta realidade obriga as equipes a organizar uma logística tal em que o piloto é poupado de todas as formas durante todo o Rally. Isto ocorre através de boa administração do tempo em que deve permanecer à disposição da organização, como por exemplo, na vistoria, no exame médico, nos briefings, etc.
O atraso e a mudança na agenda da prova prejudicam esta administração. Prejudicam as equipes e pilotos organizados. E manda uma mensagem que talvez não seja a adequada, qual seja, a de favorecimento e estímulo aos pilotos e equipes desorganizados.
Neste ano, as meninas da Dunas foram impecáveis no cumprimento dos horários do Rally dos Sertões, por isso, não vou sugerir a correção do problema, pois tenho a certeza de que elas já sanaram o problema de forma eficiente.
Há alguns anos a Dunas é um sucesso de organização do backoffice do Rally dos Sertões. Neste ano, as meninas se superaram e foram impecáveis! Por isso, me surpreendi quando me deparei com um problema há muito superado pela Dunas: desorganização.
Como é de nosso costume, semanas antes de cada prova questionamos os organizadores a respeito da documentação de pilotos e apoio e tentamos cumprir os prazos e condições com razoável antecedência.
Nesta prova, procedemos da mesma forma e fomos informados que não havia necessidade de inscrição do apoio.
Contudo, durante o briefing, fomos avisados que não poderíamos fazer apoio sem prévio cadastramento e adesivagem dos carros. Assim que soubemos da notícia, nos dedicamos a verificar como se daria este procedimento e a cumprir as condições determinadas pelo organizador.
Mas o procedimento só poderia ser feito após o briefing, isto é, todas as equipes estariam, ao mesmo tempo, tentando cumprir suas obrigações. Foi o que aconteceu: 200 pilotos concentrados em volta da Ane, tentando obter o adesivo necessário ao apoio. Resultado: pilotos e Ane impacientes, com razão.
A Dunas não costuma agir desta forma. Tudo é feito de forma ordenada e com antecedência.
Assim, acredito que este tenha sido um acidente, que será sanado com competência no próximo evento.
É importante ratificar que as críticas feitas neste relatório não podem retirar o brilho das qualidades desta prova e do mérito que tem a Dunas em organizar eventos e promover o esporte.
As críticas servem ao único propósito de melhorar algo já está muito bom. Servem ao único propósito de ajudar o esporte.
Como já mencionei em outros relatórios, a Dunas é exemplo de organizador e propulsor do desenvolvimento do esporte Off-road nacional. Suas provas são bem organizadas, são seguras e de elevada qualidade técnica.
É exatamente o que nós, amadores, buscamos no esporte!
Estão são as minhas considerações sobre o Rally dos Amigos 2007.
Até a próxima!
Este texto foi escrito por: Dea Villela
Last modified: dezembro 15, 2007