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Brasileiros realizam sonho e chegam ao cume do Aconcágua

Redação Webventure/ Montanhismo

Mari foi pela primeira vez ao Aconcágua (foto: Arquivo pessoal)
Mari foi pela primeira vez ao Aconcágua (foto: Arquivo pessoal)

Ele é o ponto mais alto e mais imponente de todo hemisfério sul. O Aconcágua, localizado no Parque Provincial do Aconcágua, em Mendoza, na Argentina, tem 6.962 metros de altitude e é destino certo de muitos aventureiros entre os meses de dezembro e março.

Para os mais experientes, há as rotas Glaciar de Polacos e Face Sul do monte, que exigem técnicas de escalada em gelo e rocha. Mas para quem está começando, pode-se tentar chegar ao cume pela rota noroeste, ou normal. Ela exige um ótimo preparo físico, pois é um longo e exaustivo trekking, sem técnicas de escalada, mas com muito frio, ar rarefeito e alterações de altitude.

O sucesso da expedição depende também do clima. Com um tempo bom dá para fazer toda a expedição ao cume e a descida em torno de 20 dias, ou até menos. Foi o que aconteceu com a alpinista Helena Coelho, que pela sétima vez foi ao Aconcágua, mas desta última como guia, levando quatro pessoas ao monte, sendo duas estreantes na aventura.

“Nós saímos do Brasil no dia 26 de dezembro e no dia 06 de janeiro já estávamos no cume. No dia 07 começamos a descida e no dia 08 de janeiro já estávamos em Mendoza. Acabou sendo rápido porque mesmo com a neve que estava na região quando chegamos, que era muito maior do que em outras vezes, o tempo abriu e ficou muito bom. Tivemos sorte porque pegamos essa janela de tempo muito bom e a previsão dizia que entre os dias 07 e 08 de janeiro o tempo começaria a ficar ruim, então nos apressamos para aproveitar”, explicou Helena.

No grupo guiado por Helena estava Mari Garros, design floral natural do Maranhão, mas que mora em Ilhéus (BA). Ela resolveu que subiria ao Aconcágua mesmo sem qualquer experiência no esporte.

“Meu marido já tinha o projeto de ir ao Aconcágua desde quando namorávamos e então em 2005/06 ele foi, mas não fez o cume. E eu sempre o apoiando nos treinamentos, mas nunca pensava em ir”, disse Mari. Mas em uma conversa com um grupo de montanhistas, a designer combinou que iria até o campo base para acompanhar o marido. Foi aí que começaram os treinamentos. “Durante a preparação decidi que iria até o cume. Só que eu nunca fiz nenhum tipo de exercícios, era super sedentária. Foram oito meses de treino no período da manhã e da tarde. Fazíamos corridas muito fortes. Fizemos treinos na Chapada, a travessia maranhense, em que fui sozinha com meu marido e sem guia, fiz treinos com a Helena Coelho e acabei me dando bem. Logo eu que nunca desci do salto alto”, brinca Mari.

A principal dificuldade encontrada pela maranhense não foi a altitude, e sim as bolhas que se formaram em seus pés. “A aclimatação não foi problema pra mim. A Helena nos aclimatou bem e eu me senti ótima lá. Não tive muita dor de cabeça, nem enjôo, nem náusea, a não ser no dia no ataque ao cume, mas acho que foi um mingau de aveia que não me caiu bem. O problema mesmo foram os calos e as bolhas. Eu achei que não agüentaria, dava até vontade de chorar de dor. No dia do ataque, uns corredores de aventura que estavam por lá me deram uma pomada para eu passar nas bolhas e melhorou bastante e eu consegui seguir”, contou.

A maioria das expedições contam com um número muito maior de homens, até pelas adversidades que a aventura impõe, mas Mari diz que diante do desafio de subir ao cume, a falta de recursos pouco importou. “Até o dia do ataque eu nunca havia dormido em uma barraca pequena. A gente estava nos acampamentos e tinha banheiro e tudo mais. A partir dali teríamos que usar o famoso saquinho, mas eu nem me importei. A emoção era muito forte”, contou aos risos, completando ainda que durante a expedição estava em seu período menstrual, mas que nem conseguiu sentir cólicas nem incômodos graças a tensão e ansiedade de alcançar seu objetivo. “Não me atrapalhou em nada. As mulheres estão me perguntando o que fazer nessa situação mas eu posso afirmar que não atrapalha de jeito algum”.

“Para chegar lá precisa ter muita determinação e disciplina. A prova de que é possível está aqui. Uma perua que nunca desceu do salto e chegou ao cume do Aconcágua! Mas para mim foi uma experiência muito rica e não parou aí. Este ano começo a me preparar para escalar o Denali (ou Monte McKinley, montanha mais alta da América do Norte, fica localizada no Alasca e tem 6.194 metros de altura), e ainda tenho o projeto do Everest e quero completar os Sete Cumes”, confessa Mari sobre a vontade de escalar a maior montanha do mundo e os outros seis pontos mais altos de cada continente, formados por: Kilimanjaro (5.895m), na África, Monte Elbrus (5.642m), na Europa, Maciço Vinson (4.892m), na Antártida, Pirâmide Carstensz (4.884m), na Oceania, além do Everest (8.884m), na Ásia, o Denali, que ela pretende ir ainda este ano, e o Aconcágua que ela já completou.

Ricardo Leizer, Presidente da Associação Paulista de Escalada Esportiva (APEE), foi pela primeira vez ao Aconcágua em fevereiro deste ano para também levar um grupo de aventureiros.

“Tecnicamente não há grandes dificuldade. A técnica de subir o monte por essa rota é o desgaste físico. Você precisa ter a técnica de altitude, ou seja, aclimatar certo, acampar nos lugares certos, usar o equipamento certo, os óculos e luvas, porque senão não consegue. Não é necessário técnica de escalada vertical, e sim de altitude”, explicou Ricardo.

De acordo com Leizer, mais de 50% das expedições não terminam com o sucesso de alcançar o cume porque são feitas às pressas, sem muito tempo e os integrantes dos grupos acabam não aclimatando certo e o corpo não agüenta a pressão da subida dos quase sete mil metros de altitude do Aconcágua.

Haja Fôlego – “Tem que ter um treinamento muito forte para ir até lá. Não adianta ir lá brincar, achando que vai passar o final de semana numa montanha”, advertiu Leizer. “Eu não me preparei corretamente porque fui chamado de última hora para guiar essa expedição, mas como eu sempre faço esportes sempre estava razoavelmente preparado. Se eu soubesse um tempo antes teria feito um preparo melhor. O conselho que eu deixo é que quando alguém decidir subir o Aconcágua, que primeiro se prepare mentalmente para o evento, porque não é um passeio. Depois disso, faça o preparo físico e de equipamentos. Eu cheguei ao cume, mas foi sofrido”, contou.

Ricardo já escalou o Kilimanjaro, o ponto mais alto da África, que fica ao norte da Tanzânia, fronteira com o Quênia e tem 5.895 metros de altitude, o monte Elbrus, ponto mais alto da Europa, com 5.462 metros, fica na cordilheira do Cáucaso, na Rússia, o Alpamayo, com 5.947 metros, que fica na Cordilheira Branca, no Peru, e é considerada a montanha mais bela do mundo graças a sua forma de pirâmide e paisagem de gelo, e a Travessia do Gelo Patagônico.

“O Alpamayo era a escalada mais difícil que eu tinha feito, pois é super técnica. É uma escalada em parede vertical em até 80 graus, mas agora o Aconcágua é a escalada mais difícil que eu já fiz. A técnica de escalada se traduz no Aconcágua em altitude”, disse Leizer.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

Last modified: fevereiro 29, 2008

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Redação Webventure
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