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Minha aventura: De moto do Rio de Janeiro ao Alaska

Redação Webventure/ Offroad

Missão cumprida e sonho realizado (foto: Arquivo Pessoal)
Missão cumprida e sonho realizado (foto: Arquivo Pessoal)

Em cima de uma moto de 110cc, percorri uma distancia de 50.828 quilômetros de Teresópolis, no Rio de Janeiro, até o Alaska, onde permaneci por 18 dias em todo território até chegar ao ponto mais ao norte do Alaska, na cidade de Prudhue Bay.

Essa história começou no dia 1º de maio de 2007, com a travessia de 14 países dentre os três continentes americanos.

O objetivo dessa minha expedição foi provar que qualquer piloto pode fazer uma viagem de longo percurso com uma moto de baixa cilindrada, e também poder registrar esse feito no Guinnes Book — o livro dos recordes.

Durante a viagem houve vários momentos difíceis, onde a solidão foi um dos piores deles. Cheguei a viajar por quatro dias sem ter um contato humano.

No campo geográfico minha maior dificuldade foi na Bolívia, devido a grande altitude que enfrentei —5 mil metros —, além do desgaste físico do corpo, há também a perda de força da motocicleta. Fiquei com febre por 5 dias na Bolívia por causa dessa altitude mas pude contar com a solidariedade de camponeses que me deram abrigo por esses dias.

Houve também o problema de ficar preso por 2 dias no Panamá devido à falta de documentação ( permissão da moto ) para transitar no país. Além disso, teve também o medo em entrar em território colombiano devido às guerrilhas, mas o medo se tornou confiança ao andar a noite nas rodovias colombianas, que com certeza, achei aquele povo o mais parecido conosco, os brasileiros.

Apesar da longa distancia percorrida e da baixa cilindrada da moto, ela se comportou muito bem durante toda a viagem. Tive que trocar apenas um kit de corrente e freio, devido ao desgaste natural dos mesmos, ou seja, pelo percurso de mais de 50.000 quilômetros. Também tive que trocar os pneus algumas vezes (6 vezes). A moto consumiu uma média de 1 litro de gasolina para cada 42 quilômetros rodados, num total de, aproximadamente, 1357 litros.

Quanto à hospedagem, cerca de 70% foi realizada em campo, casa de pessoas em beira de estrada, postos de gasolina e vários outros lugares que tornavam a viagem mais aventureira, e o restante em albergues e casa de amigos.

As refeições eram preparadas por mim mesmo, com o uso de fogareiro, panelas e utensílios que levei. Incluíam basicamente macarrão, feijão, carne, barras protéicas e muito líquido durante o dia. Fazia quatro refeições diárias, sendo a mais importante durante a noite devido à disponibilidade de horário para o preparo das refeições.

Por todos os países que percorri me deparei com as diferenças sociais, como a miséria sofrida pelo povo da Bolívia, Guatemala, Honduras e Nicarágua. Tive muita decepção com o México, com por exemplo, a corrupção da polícia militar. Muitas vezes tive que dar dinheiro à eles para poder seguir viagem.

Me admirei muito com a solidariedade do povo boliviano, principalmente pelas pessoas de menos poder aquisitivo, que mesmo sem me conhecer não deixavam de repartir alimento e abrigo. O contato com diferentes civilizações me serviram como amadurecimento pessoal, principalmente a valorizar nosso país e o calor humano brasileiro.

Apesar das dificuldades enfrentadas, essa viagem foi muito válida tanto pela experiência como pelos belos lugares por onde passei. Machu Picchu, no Peru, com certeza foi o melhor lugar que já fui até hoje. A energia forte do lugar me fez apreciar por várias e várias horas cada encaixe das enormes pedras que tem nesse imenso mundo perfeito.

A Colômbia também foi um país que gostei muito, por ter em seus povos os mais parecidos com os brasileiros. Sem falar nas comidas que são deliciosas. Os pequenos pãezinhos das padarias me faziam, todos os dias, cair em tentação Por toda parte que fui, achei o país muito seguro, apesar das pessoas comentarem bastante sobre as guerrilhas. Medelín é uma cidade grande com vários pontos legais para se visitar.

Recomendo ficar no Hostel Medellín – um lugar super agradável de uma família que adora estar no meio de viajantes. Fica na Carrera 65 numero 48 144 sector Suramericana. E aos viajantes de moto não podem deixar de passar na MOTO-ANGEL, uma mecânica especializada em BMW, que atende também todos os viajantes de moto do mundo inteiro com o maior prazer, porque eles também são apaixonados por viagens.

Os grandes Hotsprings, no Canadá, foram também lugares deliciosos de se conhecer, com cachoeiras de águas quentes, sendo o aquecimento totalmente natural. Relaxa qualquer pessoa, sem falar nos preços que custavam cerca de 15 dólares por pessoa, com direito a acampar no parque.

No Peru, policias corruptos faziam questão de me parar na estrada e pedir gasolina para uma pobre moto com um tanque de 4 litros. Imagina isso abastecendo uma pick-up Blaser?!

Fiquei 5 dias a procura por um veleiro para fazer a travessia da Colômbia para o Panamá. Após pechinchar o preço, que estava 600 dólares, consegui embarcar com um canadense que deixou pôr a minha moto em seu veleiro por 400 dólares, mas eu não sabia que eu ia ter que trabalhar tanto nesse barco. Todos os dias, eu tinha que limpá-lo por dentro e por fora, também o banheiro, e fazer comida para todos que estavam no barco. E na madrugada, ainda tinha que manejar o veleiro das 3h da madrugada ate às 5h porque era hora do capital descasar.

Depois de 5 dias dentro de um veleiro trabalhando igual a um louco, cheguei ao Panamá e era hora de ir para estrada. Passei por 2 aduanas para pegar a permissão para transitar com minha moto, mas nada de conseguir. Fui assim mesmo, sem documento de transitar legalmente pelo país.

Logo na última aduana, policias de estrada me pediram a permissão da moto. Depois de longa conversa fui detido pela policia e levaram eu e minha moto presa. Fiquei dois dias dormindo no chão da aduana com os seguranças, e, depois de pagar uma multa reduzida de 200 dólares para 50 dólares, segui viagem. Mas no final disso tudo já tinha feito amizade com todos da aduana, que fizeram uma vaquinha e me deram comida para eu viajar por 3 dias sem precisar de comprar nada.

Eu já tinha ido para o ponto mais extremo da América do Sul, que fica na Terra do Fogo, o Ushuaia, e quando estava retornando prometi para mim mesmo que iria também cruzar as 3 Américas chegando até o Alaska em uma moto de baixa cilindrada, chegando assim, ao ponto extremo da América do Norte também. Sem falar de ser o primeiro a percorrer mais de 57 mil quilômetros em uma moto dessa categoria.

Além de ser uma realização pessoal, quis mostrar para os motociclistas de baixa cilindrada que com todo projeto bem elaborado é possível se fazer longas viagens em cima de sua pequena motocicleta.

O planejamento de rotas, climas da região e pontos onde teria que tomar cuidado durou um ano. Passei mais de quatro horas diárias estudando para que tudo desse certo, como deu. Os relatos de viajantes me ajudaram bastante, também as amizades que fiz através de alguns sites voltados para o turismo de aventura. Tive o apoio de algumas dessas pessoas, que pude visitar durante a viagem.

Conheci muitos viajantes do mundo inteiro, sejam eles de motocicletas, motor-home, de bicicleta, e até gente a pé. Mas o povo com quem mais fiz amizade foram os viajantes de bicicletas. Gostava de ver a força que eles tinham. Sempre que conhecia um, via um brilho no olhar dele de uma felicidade incrível! Aquilo que estavam fazendo era tudo na vida deles, e muitos já estavam na estrada há mais de 5 anos sem parar, sendo que parecia até o primeiro dia de viagem deles. Sem falar que ajudavam sempre que podiam de alguma forma. Com alguns deles cheguei ate trocar mapas, uma lata de feijão por uma de sopa, até mesmo dar aquelas moedinhas que nas fronteias a gente não consegue trocar com os cambistas de rua. Isso tudo acontecia quando os encontrava nas fronteiras.

Com um deles cheguei até a ajudar por uns 30 quilômetros, amarrando uma corda na minha moto e na sua bike. Ele tinha ido para direção errada e não sabia falar uma palavra em espanhol e precisava sair da Venezuela para entrar na Colômbia. E essa forcinha que dei a ele, no reboque, foi tudo para esse grande aventureiro que roda o mundo em cima de sua bike.

Este texto foi escrito por: Flavio Kenup

Last modified: março 18, 2008

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