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Minha Aventura: Três dias de pedal em Passa Quatro (MG)

Redação Webventure/ Biking

Pedal em Minas deixou vontade de mais aventura (foto: Arquivo Pessoal/ Cristiane Sachsse)
Pedal em Minas deixou vontade de mais aventura (foto: Arquivo Pessoal/ Cristiane Sachsse)

Quando consegui completar cerca de cinco quilômetros de subida constante na estrada de terra em direção a Virgínia com minha bicicleta Caloi Aluminium 21 marchas, estava completamente feliz! Há quase 1 ano e meio recuperei minha bike que estava encostada e empoeirada durante uns 8 anos e comecei a usá-la para chegar ao trabalho aqui no Rio. Com a empolgação de voltar a pedalar que ressurgiu, logo descobri um grupo que realizava passeios nos finais de semana muito próximos à minha casa. A quantidade de amigos cresceu e a quantidade de passeios também, tanto que o quadro da minha bicicleta começou a rachar e pude trocar por um quadro da Caloi Supra. Surpreendentemente minha bicicleta ainda estava na garantia.

Meus passeios nunca passavam de um dia e isso acabava amadurecendo a vontade de viajar com a bicicleta, conhecer novos lugares. Mas como ainda não tenho tanta experiência nessa área, um certo conforto seria bem vindo. Percurso definido, pouso certo, sem desbravamentos por conta própria, assistência na hora do acidente etc.

Quem se empolgou mais com essa idéia foi meu namorado, o Silvio, ciclista de mais longa data do que eu, e que estava procurando viagens de fim de semana com mais freqüência. Já conhecíamos o Sampa Bikers de ouvir falar e ler algumas reportagens sobre os passeios, sobre os participantes e sobre as competições que realizam. Visitando o site, meu namorado descobriu um passeio de três dias em Passa Quatro! Pequena e bucólica cidade mineira, ainda descobrindo seu potencial turístico. Perfeito!

Conhecemos o pessoal deste passeio, paulistas, mineiros e nós, cariocas, já em Passa Quatro, num dia de muito sol, quando nos preparávamos e conferíamos as bicicletas.

Máquina fotográfica a postos (já com algumas fotos registradas), um breve alongamento, recomendações, recados e dicas do Paulinho, organizador e presidente do Sampa Bikers, e partimos para o primeiro dia de passeio.

Seguindo o canteiro central da cidade junto à linha do trem desativada, pegamos a estrada para Virgínia, com aqueles cinco quilômetros felizes de subida logo no início. De vez em quando a concentração no esforço me permitia olhar para os lados ou para trás para apreciar e fotografar a vista maravilhosa que aparecia entre as árvores algumas vezes, ou depois de alguma curva.

Levo comigo uma pochete de acesso fácil e rápido à máquina fotográfica. Posso tirar fotos sem precisar parar ou descer da bike. E como eu já curtia tirar fotos com máquinas com filmes, com a máquina digital estou incontrolável!

Surpreendente foi chegar no final dessa ladeira e continuar seguindo ao longo da montanha com pasto de um lado, pra cima com algumas vaquinhas pintando o verde, e pasto do outro lado, pra baixo, com uma vista linda a perder de vista. Muitos morros, casinhas com fumaça nas chaminés, vales, rios, serras ao longe, céu afirmando a cor azul celeste e nuvens muito brancas, bem algodões-doces flutuando. Segundo o GPS do Tibiriçá estávamos a cerca 1.150m de altura.

Uma cachoeirinha na beira da estrada refrescou as cucas e logo desviamos para a estrada de Itanhandu. Ladeira em declive acentuado com muitas pedras, buracos e valetas, e tivemos um acidente no grupo. Testa, braço ralado e aparentemente nariz quebrado. Mas nada que impedisse o acidentado de pedalar novamente depois de algum gelo!

Alguns quilômetros depois de algumas vacas confortavelmente instaladas à sombra de um bambuzal na estrada, a fome foi apertando e eu mal sabia que chegava a hora do piquenique.

Estrategicamente escolhido num lugarejo, na área externa de um posto de saúde fechado, e na sombra a mesa foi posta: água, chá, frutas, pães, torrada, geléias, queijo, bolos, biscoito… Peço desculpas se esqueci de mencionar algum ingrediente. O lanche foi completo! O descanso e o papo foram breves e continuamos na estrada.

Uma boa ladeira para cima, uma gostosa descida, e depois chegamos em Itanhandu, cidade maior do que Passa Quatro, e com bastantes paralelepípedos para incomodar.

Fizemos uma breve parada em frente a igreja matriz para reagrupar, reabastecer e seguimos viagem. Desta vez a estrada permanecia mais plana, alguns trechos com terra, outros pavimentados e outros ainda asfaltados. Descobrimos que estávamos num dos trechos da Estrada Real! Percorrê-la por completo de bike já faz parte dos meus sonhos.

Em algum momento surgiram novamente os trilhos antigos de trem e seguimos ao lado deles até Passa Quatro. Nesse trecho ainda deparamos com granjas. Cenário meio chocante. Milhares de galinhas suspensas e engaioladas em galpões enormes ligados por esteiras rolantes repletas de ovos.

Chegamos em Passa Quatro depois de uma antiga ponte curta de ferro para os trilhos onde quase tivemos mais um acidente. A bicicleta da Claudia quase foi para o rio entre os vãos da ponte e ela ficou pendurada se agarrando às vigas. Por sorte ficaram somente alguns arranhões.

Exausta e feliz depois de 40 quilômetros, estava achando minha bicicleta linda coberta de poeira de estrada de terra, mal sabendo como ela terminaria no domingo. Depois de um relax na piscina e na sauna da pousada fomos todos por indicação do Paulinho jantar em um restaurante árabe simples e delicioso. Tudo feito na hora pelos donos.

No dia seguinte partimos na mesma hora por uma estrada de asfalto em direção a Rio Verde com a promessa do piquenique à beira de uma cachoeira. Porém antes disso outros cinco quilômetros de subida com uma paisagem linda.

No reagrupamento ao final da subida o câmbio do Otoni quebrou e a idéia foi retirá-lo por completo para continuar pedalando. O bate papo entre a galera e a curtição do visual só durou o tempo para esta operação.

A seguir veio uma descida bem sinistra. Bastante íngreme com muitas pedras e buracos, nada mais prudente para alguns do que saltar e empurrar a bicicleta (inclusive eu). Vantagem para poder aproveitar outra paisagem linda em volta. Logo chegamos a uma porteira trancada. Tivemos que passar as bicicletas, e nós mesmos, por cima dela.

O piquenique novamente não poderia ter sido melhor. Mesinhas instaladas com um super lanche à beira do rio gelado e muitas borboletas coloridas. Já dizia o pai do Silvio: borboletas trazem sorte. Partimos depois de um bom descanso para alguns quilômetros até uma estrada de terra mais larga e mais movimentada de carros até Itanhandu novamente, e seguimos pelo mesmo caminho do dia anterior até Passa Quatro.

Desta vez o jantar foi caseiro no restaurante Dona Filhinha e empada doce feita na hora para a sobremesa. Delícias! Muita conversa rolou noite adentro com direito a comemoração para o aniversariante do grupo.

Infelizmente no último dia o passeio foi mais curto, já que todos teriam que voltar. Mas nem por isso a pedalada foi menos surpreendente. Fiquei intrigada se o nosso encontro com a Maria Fumaça foi sincronizado propositalmente. Seguimos o trilho do trem para o lado oposto dos outros dias e conseguimos posar ao lado do trem que estava fazendo seu passeio turístico!

Uma chuva nos 20 últimos minutos do passeio coroou o final de semana! Lavou a alma definitivamente por completo, molhou e enlameou as sapatilhas que alguns evitaram molhar ao atravessarmos dois riachos carregando as bicicletas para chegarmos na Cachoeira da Gomeira.

Tenho certeza que agora vou sonhar mais alto. Ou melhor, já estou sonhando. O percurso foi ótimo, variações de tipos de terrenos, paisagens maravilhosas, muitas fotos, clima ideal e pessoas nota 10. Lamento a distância entre mim e esse grupo que não nos deixa pedalar juntos constantemente.

Tivemos o prazer de pedalar ao lado de feras da bike que conhecíamos somente de reportagens. Edu Ramires, muitos títulos e técnico da seleção brasileira de mountain bike e Otoni, de 69 anos, ilustrador e quadrinista, guia e incansável (mesmo sem câmbio!).

Além de querer mais passeios em grupo como esse, com tudo organizado para mim, vou adorar o desafio de viajar com os meus próprios planos, com máquina fotográfica em punho, alforges preparados por mim, superando imprevistos e me deliciando com o prazer de pedalar.

Este texto foi escrito por: Cristiane Sachsse

Last modified: março 29, 2008

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