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Bronze coroa dedicação da paulistana Roberta Borsari

Redação Webventure/ Rafting e canoagem

No Mundial de 2007  em Portugal (foto: Divulgação)
No Mundial de 2007 em Portugal (foto: Divulgação)

Medalha inédita para o Brasil no kayaksurf, Roberta Borsari teve um longo caminho até chegar ao pódio na competição realizada na França. A atleta contou para o Webventure que, apesar das dificuldades encontradas desde a classificação para a Copa do Mundo, o resultado foi além do pessoal, mas sim uma conquista do esporte no geral.

Roberta tem uma carreira de poucos anos no kayaksurf internacional, seu primeiro Mundial aconteceu em 2003, na Irlanda. Após cinco anos, ela subiu no ranking mundial, conseguindo entrar para o Top-10 com a sétima colocação. Os bons resultados vieram em 2006, com o quarto lugar na Copa do Mundo, realizada em Portugal.

A Copa do Mundo é intercalada entre os Mundiais, que acontecem de dois em dois anos. “Essa competição surgiu para atender a elite do kayaksurf mundial. Nela só entram caiaques high performance – embarcação menor de 2m75 e com quilha e são realizadas seletivas durante o ano. Só classifica quem garante boas pontuações. É uma prova de conceito inovador e bem focado”.

Passaporte carimbado – A vaga foi garantida no Festival Internacional de Esportes de Onda, em Portugal. “Só vão para a Copa os atletas Top-7 no feminino e Junior e os Top-24 no masculino”, contou Roberta. O desafio era encarar os melhores na França, local onde nunca havia competido e sozinha. Equipes de outros países contavam com um grande contingente de atletas.

“Pela primeira vez eu fui para um país que eu não falava a língua. Já fui para outros países sozinha, mas consegui me virar. A logística era complicada, o local da prova ficava a cinco horas de Paris, tinha que levar todo equipamento. Foi uma dificuldade que gerou uma grande expectativa, tive que alugar carro e viajar, escolher lugar para dormir e com certeza, deu uma emoção e no fim, foi muito bom, passei por lugares lindos, visitei castelos maravilhosos. Foi uma viagem especial na minha vida”, contou Roberta.

Mesmo sozinha, Borsari teve um apoio especial do time do País Basco. A atleta revelou que foi amparada pelos membros da equipe, que deram uma força especial. “Foi super bacana, quando eu estava na água eles agitavam a bandeira do Brasil, saímos no dia de folga. É legal ser amparada, não estar só”.

A Copa do Mundo foi disputada na Ile D´Oleron, segunda maior ilha da França. Roberta foi a primeira mulher da América Latina a conquistar uma medalha no kayaksurf mundial. A primeira colocação ficou com a atleta inglesa, Tansin Green, seguida pela norte-americana Ailsa McDougall, que venceu a brasileira na semifinal.

A primeira bateria foi uma surpresa para a atleta. “Na estréia geralmente fico nervosa e sempre é minha pior bateria. Nunca saio satisfeita delas. É o tudo ou nada, se não tiver uma boa nota entre as quatro atletas da bateria, somente duas passam. Você pode ter toda dedicação e nem passar na primeira etapa. Nessa prova o nível técnico é elevado. Eu tive uma nota boa, excepcional até para a primeira bateria. Foi a melhor nota do dia no feminino, e me surpreendi”, relembrou. Mesmo com o bom resultado, Roberta não se empolgou por conta da expectativa que foi criada sobre ela pelo resultado. Ela garante que foi difícil administrar essa pressão.

As baterias duram 15 minutos, cinco a menos que o normal. “Apenas cinco minutos, as pessoas pensam fora da água. Para nós, é ¼ da prova, faz falta. A prova fica ágil e as decisões têm que ser rápidas e não dá pra escolher ondas”.

Após a bateria de estréia, a brasileira teve médias boas durante a competição, e com o passar das etapas, a competição foi afunilando e as pontuações começaram a não ter tanta diferença. “Fui tranqüila para seguir na prova e cheguei nas semi. Na Copa do Mundo, na semifinal as baterias são com duas atletas. A pressão aumenta, mas, na realidade, fica mais claro para quem esta vendo de fora a diferença de nível dos atletas, sobram mais ondas e acaba ficando mais confortável”.

Ailsa venceu Roberta pela diferença de 0,5 ponto, e a atleta ainda pensa neste resultado. “As avaliações são subjetivas, diferente de outros esportes. A Ailsa já me ajudou muito em algumas competições, e ela tem muita experiência, fez a nota mais alta de toda a competição e quando competimos, a condição não era a melhor. O mar estava baixo e as ondas tinham meio metro. Meio ponto no surf é praticamente nada. Já me questionei bastante sobre o que foi esse meio ponto. Não saberia dizer, mas é uma competição lá fora, na casa deles, com juízes ingleses e americanos. Na casa deles tem que jogar o jogo deles. Não sei mesmo responder o que foi essa diferença mínima”, revelou.

Treinamentos – Morando em São Paulo e com a praia mais próxima a cerca de 80 quilômetros, a atleta de kayaksurf busca alternativas para não perder a forma e se sair bem nas competições. “O que eu faço é ser dedicada, essa conquista não é de uma programação de treinos, mas sim da vida inteira de dedicação. Para compensar a deficiência de não morar na praia, nos fins de semana o treino é dedicado ao surf, viajo e fico bastante tempo no mar”.

A rotina de preparação de Roberta baseia-se em corridas, treinos de musculação, ioga e fisioterapia. “Eu sempre sinto que estou atrasada aos outros competidores e aqui em São Paulo fico na raia da USP (Universidade de São Paulo), tenho treinos de endurance e tiros de velocidade, o que me dá uma capacidade de explosão para usar no surf. Não é um treino técnico, mas me deixa com uma preparação física muito boa”.

Com a conquista do inédito terceiro lugar em uma Copa do Mundo, Roberta coroa o trabalho de anos na modalidade. O investimento da atleta para provas internacionais vai além do físico, conta o psicológico e também a maturidade que ganhou com o passar dos tempos.

Para Borsari, a medalha representa muito mais que uma conquista pessoal. “Fico muito contente, pois é uma conquista do esporte, venho há anos promovendo o kayaksurf para que todos o conheçam A medalha é uma promoção em nome do esporte. A conquista não é só minha, também da modalidade no Brasil”.

O resultado fez com que a brasileira tenha mais confiança em seus desempenhos nas provas. “A prata ficou muito perto, mas o bronze foi um resultado maravilhoso, sou a única atleta da América Latina com este resultado, surgiu alguém do Brasil que desponta na modalidade”.

Roberta explica que o kayaksurf foi uma modalidade criada por canoístas de água branca e adaptada ao surfe. Na canoagem, o domínio das provas é de atletas norte-americanos e europeus, e para o kayaksurf, países que não são grandes potências no surfe se destacam nessas competições, como por exemplo, Escócia e Irlanda.

“É a construção de um trabalho de uma vida toda e agora tenho a recompensa. Vale a pena como atleta e como alguém que acredita no esporte e batalha por ele”, afirmou a atleta.

Próximas disputas e projeto – Roberta Borsari ainda tem mais uma competição aqui no Brasil para cumprir sua agenda. Este ano, a atleta se dedicou às provas internacionais e tentará participar da etapa do campeonato brasileiro da modalidade, em São Francisco do Sul (SC). Outra competição acontece em dezembro, em São Paulo.

“A partir de dezembro, depois de cumprir todas as tarefas de atleta, vou me dedicar ao Kayaksurf Club. É um clube virtual que as pessoas se cadastram no meu site e recebem boletins. Quero bolar atividades, cursos, workshops, que são gratuitos”, revelou Roberta. As atividades são programadas durante os finais de semana em praias do litoral norte de São Paulo, geralmente na Praia da Baleia e na Barra do Sahy. O site de Roberta Borsari é www.kayaksurfclub.uol.com.br.

Este texto foi escrito por: Bruna Didario

Last modified: outubro 16, 2008

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Redação Webventure
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