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Minha Aventura: A primeira travessia oceânica de OC1 do Brasil

Redação Webventure/ Rafting e canoagem

De Camburizinho à Martim de Sá (foto: Divulgação/ João Castro)
De Camburizinho à Martim de Sá (foto: Divulgação/ João Castro)

O projeto da travessia começou a ser montado dois meses antes da execução. Levantamento sobre correntes, ventos, riscos e etc foram o primeiro passo. Saber o que levar ou não, devido ao pouco espaço da embarcação e a necessidade de coisas importantes e indispensáveis foi o segundo desafio.

Inicialmente a travessia seria Paraty (RJ) até Santos (SP), pois desta forma iríamos a favor das correntes, mas o fato de ser uma travessia para lançar o treino da canoa havaiana OC1 e OC2 na raia da USP feito pela AKSA Assessoria Esportiva, nos fez mudar os planos e decidir em subir de Santos para Paraty, contra a corrente, só para chegarmos junto com a última etapa de uma das mais bem organizadas e importantes provas de corrida de aventura do país, o Adventure Camp, que aconteceu no fim de semana dos dias 6 e 7 de dezembro de 2008

Primeiro dia 30 de novembro
Partimos dia 30 de novembro de 2008 da Ponta da Praia (em frente ao Aquário de Santos) às 9h30 da manhã. Um pouco tarde, mas as entrevistas e filmagens além das despedidas de amigos nos fizeram atrasar.
O Felipe teve um trabalho bem maior que o meu, pois nunca havia remado canoa havaiana. Felipe Fuentes foi levado à expedição por se tratar de um atleta de aventura forte, treinado, mas principalmente por ser um dos professores da assessoria e que precisava sentir na pele os incômodos desta modalidade e, assim, conhecer e saber melhor como treinar ou fortalecer um futuro atleta que viesse a treinar com a AKSA.

A pretensão era de 90 km no primeiro dia, ou de Santos até Camburi. Com a metade do dia remando e conhecendo na prática a força do vento e corrente contrários, algo até certo ponto subestimado por nós, vimos que não alcançaríamos Camburi, e foi o que aconteceu. Mais certo ainda ficou para nós que não cumpriríamos o desejado quando na praia de Pitangueiras (Guarujá), ficamos remando no mesmo ponto, sem avançar, aguardando a corrente de maré terminar de encher. Se parássemos com o trabalho, voltaríamos rapidamente para traz jogando fora muito do trabalho já feito, e por esse motivo nos concentramos e lutamos muito contra ela. Após o dia todo de remada só cumprimos 40 km e pousamos em Bertioga. A preocupação começou aí, pois já não sabíamos se nosso corpo agüentaria diariamente tamanha luta para subirmos contra as forças da natureza.

Neste dia, em uma parada necessária na praia de São Pedro (Guarujá), Felipe levou um caldo de uma onda e quebrou a ama da canoa, algo percebido apenas quando chegamos em Bertioga. Conseguimos concertá-la com silver tape, pois, por sorte, o estrago foi na parte da ama que fica totalmente fora d’água.

CHEGADA BERTIOGA ÀS 18h10
Distância remada no dia 42 km

Saímos mais cedo desta vez, vencemos a pequena arrebentação de Bertioga às 8h30, avançando mar adentro com a missão de tirar a diferença não cumprida no dia anterior. Dia calmo, ensolarado, mas nada que não fosse diferente do dia anterior em termos de dificuldade. Corrente contraria, vento leste mais fraco que o dia anterior, porém contrario, mudança de maré, que por mais uma vez nos deixou parados no mesmo ponto, em frente ao meio da Praia da Boracéia.

Desta vez, avistando um posto do corpo de bombeiros, decidimos remar para lá para buscarmos água, falarmos com “homens do mar” sobre aquela maré e o que ainda estava por vir, desta forma pararíamos, descansaríamos e aguardaríamos a maré iniciar a mudança que nos seria favorável no resto deste dia. Coincidentemente, encontramos naquele posto o Cabo Riesco que de forma muito simpática e humilde nos disse que ele já praticava o esporte há dez anos, que dava aulas de OC6 e que era vice-presidente da Confederação Brasileira de Canoa Havaiana…Inacreditável coincidência!

Para mim e para o Felipe ficou claro que esta parada teve a ver com estas coisas abstratas, “karmicas”, espirituais ou sei lá como classificar, que acontecem na nossa vida. Em uma única decisão de parada, em um posto de Guarda Vidas, pegamos água, conhecemos um ser humano ímpar, colhemos informações importantes sobre a expedição. Estávamos mais próximos de alguém com certa importância e história no esporte, mas o mais surpreendente foi descobrir por ele que éramos os primeiros brasileiros a fazer uma travessia oceânica de OC1 no Brasil! A intenção nunca foi esta, mas depois de ouvir isso dele e de sermos chamados de loucos e corajosos, não tanto pelo desafio físico, mas pela demonstração de boa convivência e resistência pela dor, parece que nos tornamos outra pessoa. Eu sentia isso e via isso claramente nos olhos e atitudes do Felipe deste dia em diante. Não se tratava mais de apenas chegar e chegar na data correta, mas também de transformarmos a travessia em algo importante para nós e para o esporte. Daí para frente, nada a declarar a não ser o pensamento focado o objetivo final, que se distraia apenas por poucos segundos com as raias, tartarugas e golfinhos que passavam por nós no trecho que se finalizou em Camburizinho.

O sopro forte de vento sul no final de tarde, mudou a decisão de parar em Camburi, pois lá já podia ver algumas ondas pequenas quebrando e qualquer vacilo poderia danificar ainda mais as canoas.
CHEGADA CAMBIRIZINHO ÀS 19:10
Distância remada no dia 52 KM
Distância total cumprida 94 KM

Saímos de Camburizinho às 7h55 com destino São Sebastião. Eu e Felipe havíamos concordado na noite anterior que no momento em que fossemos pegos pela maré, pararíamos na praia, aguardaríamos ela terminar e, ai então, voltaríamos para a água, desta maneira evitaríamos o desgaste físico. Ficarmos parados por duas horas, remando sem evoluir, isso só nos desgastaria fisicamente e tornaria a remada mais fraca quando tudo voltasse ao normal. Tudo muito bom na teoria, mas na prática ou no momento da decisão as coisas podem ser diferentes, e foram.

Não paramos em Maresias e ficamos por duas uma hora e meia remando ao lado da laje de pedras que tem na saída da baía de Maresias. Desde moleque, freqüento a praia de Maresias para surfar, sempre olhei para estas pedras e sempre tive o desejo de alcançá-las. Hora meu desejo era de simplesmente conhecê-la de perto, hora imaginando um possível scuba diving naquele local ou um treininho de remada de pranchão, ida e volta até lá, mas nunca imaginei que no meu contato com ela, eu desejaria deixá-la tão rápido! E foi o que aconteceu.

Não paramos na praia como combinado por dois motivos, o primeiro porque teríamos que entrar na baía remando até a praia e depois remar de volta para sair dela, percurso e trabalho feitos a toa. O segundo motivo que nos levou a continuar foi o conselho do Cabo Riesco que devíamos entrar no canal de São Sebastião às 10h da manhã para pegar maré favorável e passarmos por ele rapidamente, do contrario, não haveria força na remada suficiente que nos colocasse à frente naquele canal. Já chegando nele, contornando à esquerda para entrar no “corredor” entre continente e ilha, mostrei para o Felipe navios atracados pela proa na ponta sul de Ilhabela. A proa destes navios ainda estava voltada para o norte da ilha e suas popas para o sul, isso significava que a corrente ou maré estavam contrarias.

Remávamos no início do canal praticamente sem tirar os olhos destes navios, desejando muito que eles virassem ao contrario. Essa ansiedade e distração terminaram quando um vento muito forte de sudoeste e nuvens negras começaram a surgir, imaginando se tratar da anunciada ressaca ou frente fria, fizemos uma parada na Praia Preta de São Sebastião para amarrarmos melhor as coisas na canoa e, no meu caso, colocar uma roupa de neoprene e me alimentar um pouco. O Felipe fez o mesmo, mas acostumado com rápidas transições de modalidades na corrida de aventura e por ser um cara simples sem muito “lero”, achou tempo para fotos.

Partimos então com força total. Sorriso largo no rosto, pois aquele “tufão” de sudoeste, parecia um motor de popa nas canoas. Este vento batia em nossas costas que serviam como velas e nos empurrava rapidamente para frente. A única dificuldade encontrada foi o mar bem mexido em função das ondas de boreste que se chocavam com as ondas de popa causadas pelo vento, resultado, dificuldade no controle da canoa e atenção redobrada para não virá-la em tão movimentado local de embarcações.

Passamos pelo atracador das balsas, duas delas vinham em nossa direção e o frio na barriga era inevitável,
virar ali na frente delas, seria no mínimo arriscado, pois o tempo que demoramos para desvirar a canoa, subirmos nela e iniciar a remada, poderia não ser suficiente e causar transtorno a uma outra embarcação de lenta manobra principalmente naquelas condições, mas tudo deu certo. Daí para frente foi passar embaixo do oleoduto sacudindo muito e controlando para não trombar com uma das pilastras, remar forte para fugir de uma possível tempestade, pois quando olhávamos para a direita víamos nuvens quentes e claras cobrindo rapidamente toda Ilhabela. Do outro lado, no continente, nuvens negras, carregadas, vindas no sentido contrário e certamente elas se encontrariam. O nosso medo não era a tempestade e seus ventos e tão pouco uma forte chuva, nosso medo eram os raios que poderiam nos colocar em risco. Em meio há esse dia agitado, vimos que havíamos passado do ponto pretendido de parada e que estávamos ainda em um bom horário.

Quando começamos a deixar o canal, viramos criança com as ondas que nos faziam surfar até a parada na Paria de Martim de Sá em horário recorde!

CHEGADA MARTIM DE SÁ (CARAGUATATUBA) ÀS 15H30
Distância remada 50 KM
Distância total cumprida 144 KM

Às 8h25 da manhã deixamos Caraguatatuba com destino Itaguá, em Ubatuba. Claro que nessa altura todos os planos de parada, determinados antes do início desta aventura haviam furado. Por exemplo, em Ubatuba nossa parada pretendida seria no final do terceiro dia em Itamambuca, na casa de um amigo, mas o atraso do primeiro dia unido à ressaca que começava a mostrar sua força nos fez apenas pensar em remar o máximo que pudéssemos neste dia, e nosso porto seguro seria certamente Itaguá, praia esta que nos daria condição de parada ou saída com qualquer força de ressaca.

As várias mensagens que recebemos no celular, vindas da minha preocupada namorada Eugênia, do conhecido e experiente canoísta Christian Fuchs e outros tantos amigos, deixavam claro que o momento de pressão, a hora de colocar à prova a experiência e conhecimentos adquiridos por mim durante toda a vida, estava chegando.

Felipe deve ter percebido, pois quando eu fico calado é o momento que coloco todos os sentidos em alerta. Isso eu não escolho, é natural em mim. Fora o momento que paramos em uma ilha para nos prepararmos melhor para o que certamente viria pela frente, remamos com determinação o dia todo, com ondulação vinda de sudoeste de tamanho considerável e ventos da mesma direção repetindo o quadro do terceiro dia no Canal de São Sebastião com a diferença do tamanho das ondas, do céu carregado e das poucas opções que teríamos daí para frente como parada e desembarque seguro caso decidíssemos não parar em Itaguá, ou caso algo errado acontecesse e nos forçasse a parar em algum lugar antes do objetivo.

Isso não aconteceu e chegamos bem até Itaguá onde o espírito de aventura e luta falou mais alto. Quando paramos na baía, olhamos para as edificações lá dentro, distantes, e parece que o Felipe e eu, ainda sem trocar uma só palavra, concordávamos com o que nos passava silenciosamente na cabeça: teríamos uma bela remada para entrar na praia e no dia seguinte remar tudo de volta. Se continuássemos teríamos mais chances de chegar em Paraty na data prevista, ainda era cedo, mas o ônus seria o risco de não acharmos lugar para parar. Decidimos então arriscar e, a partir daí, buscar um local seguro para chegarmos em terra.

O que víamos o tempo todo eram ondas estourando com grande força contra os paredões ou praias que não precisava ser nenhum profundo conhecedor para estar certo do tamanho das ondas que lá quebravam.

A vontade de parar exigida pelo corpo era cada vez maior, mas ainda não víamos condição alguma de parada. Foi aí que avistamos a praia da Ilha de Prumirim e lá encostamos inicialmente para avaliar a possibilidade de dormirmos. Tínhamos roupas secas, cobertores de emergência que poderiam nos aquecer. Seria uma noite mal dormida, mas em local seguro das ondas, o que certamente aumentaria durante a noite.

Lá encontramos pescadores e moradores da Ilha que se assustaram em nos ver “naquelas coisas” para eles tão frágeis frente às condições de mar daquele dia. Perguntamos sobre um possível lugar com pousada, já prevendo um dia seguinte sem remada, pois este seria o dia de pico da ressaca, e um deles com seu braço esquerdo de pele envelhecida e queimada pelo sol, aponta com o dedo para costa e diz: “Lá… praia da Almada”. Felipe perguntou se lá existia pousada e como se estivessem ensaiados, eles responderam ao mesmo tempo “Siiim, tem pousada, restaurante e tudo que vão precisar, são só 40 minutos remando e vocês chegam lá”. Estávamos aliviados com a informação e após a tradicional foto, abraços fortes como se já nos conhecêssemos há anos, partimos sob a troca interminável de acenos.

Foram 60 minutos de remada e entramos na baía da Almada. Águas tranqüilas, gaivotas e fragatas no ar, barcos de pesca atracados, e logo à frente, meia dúzia de curiosos olhando “aquelas coisas” se aproximando da praia.

Chegamos, pé na areia e o Felipe partiu para o contato inicial. Ele é um verdadeiro relações públicas e logo descobriu que a única pousada ficava no morro, à 2 km de distância, mas consegui a casa de pescadores, uma família local, para ficarmos.

Descobriu que não havia local para comer aquele dia e hora, mas já conseguiu um jantar na casa desta mesma família. Resumindo: o Felipe conseguiu tudo do bom e do melhor para os dois! Colocamos nossas canoas na frente da casa, ou seja, na própria praia, e logo fomos alertados por Enoch, filho mais novo da família e que tinha o nome de meu avô, para que levássemos nossas canoas mais acima, pois segundo ele a ressaca mexeria o mar, mesmo em lugar tão abrigado e isso poderia causar danos a elas. Acatamos, claro!
Jantar, bate papo, banho e cama…até amanha o dia D.

CHEGADA PRAIA DA ALMADA ÀS 18H25
Distância remada 61 KM
Distância total cumprida 205 KM

Acordamos como combinado, tarde, por volta das nove e trinta da manhã. Havíamos combinado que descansaríamos bastante para recuperar o corpo, faríamos a manutenção preventiva da embarcação, buscaríamos informações e avaliaríamos as condições do mar e ai decidiríamos no mapa o que melhor fazer. Logo que acordamos, Sr° Gilis, patriarca da família, nos trouxe o café da manha: café preto e biscoitos doce, e na sala já tropeçávamos em uma pilha de mapas, livretos, GPS e muito material que poderia nos auxiliar nas futuras decisões, “mas quem deixou isso aqui!?” A resposta veio rapidamente na figura magra de face tranqüila de um homem de meia idade, óculos de grau e toda a facilidade que o carioca tem de chegar nas pessoas e fazer amigos, seu nome: Carioca!

Durante o tempo que permanecemos na Almada, colocamos roupas para secar ao sol e com isso deixar a embarcação mais leve e rápida, desmontamos a canoa e limpamos o casco e ama, checamos os iacos, cabos de leme e leme. Fomos com Sr° Gilis até a outra praia da Almada onde ele tem um pequeno bar. Tudo isso sempre sob o nosso olhar atendo no mar confirmando o que já era esperado: ondas quebrando com muita força, espalhando um véu branco de espuma para o alto e que demorava muitos segundos para descer ao mar novamente… “Caramba, a coisa ta feia!”, pensávamos.

O dia todo, eu e o Felipe decidíamos uma coisa, depois outro e logo depois outra. Eram claras a nossa impaciência e expectativa.

Já no meio da tarde, decidimos que não dava mais para ficar parado ali a não avançar o pouco que fosse, e aí tomamos coragem e concordamos em juntar tudo, montar as canoas e remar para a próxima praia, Picinguaba. Desta forma avançaríamos mesmo que pouco e avaliaríamos rapidamente as condições que para nós, naquele dia, seriam do pico da ressaca. Nos despedimos de todos, agradecemos por tudo e, sob a promessa de voltarmos com mais calma, partimos.

Como prevíamos as ondas estavam enormes, mas o mar liso e o vento favorável nos deram a certeza que no dia seguinte encararíamos continuar com a expedição rumo a Paraty. Chegamos em Picinguaba, nos instalamos na charmosa pousada da Rosa que fica em frente à praia que desembarcamos, e procuramos dormir cedo para madrugarmos no dia seguinte.

Distância remada 8 km
Distância total cumprida 213 km

Acordamos cedo, cinco e meia da manhã, já havíamos deixado tudo pronto na noite anterior. Comemos frutas e sanduíches feitos pela pousada em nosso quarto, preparamos as canoas e partimos, mas segundos antes uma figura velha, cego de um olho apareceu na praia e nos perguntou para onde íamos e quando respondi que a direção seria Laranjeiras ele respondeu “remem forte e rápido, pois um vento leste (vento contra) forte vai entrar hoje” ou seja, tudo que eu não queria ouvir. Lentamente avançávamos rumo ao corredor entre o continente e a Ilha Comprida. Silenciosos, víamos as ondas enormes chocando-se contra as pedras dos dois lados e a preocupante certeza veio, de que o pico da ressaca não havia sido no dia anterior e sim que a enfrentaríamos naquele dia.

Como todos os outros dias, só que com maior intensidade e concentração, pedi a Deus, meu falecido pai e ao homem que tudo me ensinou sobre o mar, Sr Egílio, meu antigo caseiro no sítio que tenho na Ilha Comprida e experiente pescador, também falecido, proteção e sabedoria nas decisões que certamente teria de tomar ao longo de todo aquele dia.

Inicialmente havíamos combinado de parar nossa travessia daquele dia na praia das Laranjeiras, supostamente o único ponto que poderíamos desembarcar sob aquelas condições, mas conforme apontamos a proa para mar aberto e nos distanciávamos da costa, não só via que teríamos de remar muito longe da costa para fugirmos do encontro entre as ondas que entram com as que batem no paredão e retornam no sentido contrário causando o chamado Backwash, ou forte balanço, causado por esse encontro e que torna as águas turbulentas e difíceis.

Por nossas contas aproximadas, tivemos de nos afastar algo em torno de um quilômetro para aí sim virar a canoa e rumar para o destino.
Foi para mim um momento difícil, pois sabia que com aquelas ondas de aproximadamente 5 metros de altura, nem mesmo Laranjeiras seria possível pararmos e que ao único destino possível aquele dia seria Paraty.

Olhei para o Felipe, pensei e decidi não comentar nada com ele, Felipe é um cara forte, tranqüilo, um amigo que conheço há muito tempo, e sabia ser possível passarmos pelo pior trecho de toda travessia desde que mantivéssemos a calma e tomássemos as decisões certas. Falar para ele sobre a situação nada mudaria a não ser colocar nele uma carga de preocupação que não nos traria nenhuma vantagem.

O tempo todo era um sobe, sobe, sobe e desce, desce, desce e, quando olhávamos para a costa víamos as ondas gigantescas arrebentando-se contar a costa. As dores nas costas e no glúteo por tantos dias beiravam o insuportável e por várias vezes neste dias tivemos que parar para aliviar essas dores, nos alongando sobre tão pequena e instável superfície.

Remamos quase que todo o dia sem praticamente trocar uma palavra, sem ver sequer uma embarcação no mar, e nossa única companhia eram os pássaros. Remamos sem combinar com muita força e dividindo aquele dia em etapas. Ponta negra, paredão da Juatinga, ponta da Juatinga e por aí vai.

Ironicamente o ponto mais perigoso de toda a viagem e que programávamos passar cedo, sem vento e avaliando muito bem as condições, estava sendo vencido com as piores condições que podíamos ter. O sucesso deste dia nos daria um tempero a mais na conquista, uma importância maior ao feito e uma lição ímpar às nossas vidas, mas qualquer erro ou prepotência poderia nos trazer sérios riscos.

O tempo todo eu olhava para o céu, para as nuvens, pedindo para que o vento leste anunciado por aquele pescador, quando deixamos Picinguaba, não entrasse, pois do contrario, dependendo da intensidade, poderíamos ainda estar em mar aberto quando caísse a noite e aí nada teríamos a fazer, e o risco de um acidente seria enorme.

Fora as introspecções, nada tenho a falar deste dia a não ser que remamos forte, fomos ousados e corajosos e que assim que contornamos a Ponta da Juatinga, local mais temido por nós, mas que incrivelmente foi o ponto mais tranqüilo deste dia, chegamos ao lado de dentro e abrigado, e aí toda tensão transformou-se em alegria, piadinhas, vontade de chorar e na certeza que nada mais nos tiraria a conclusão do projeto.

Pretendíamos parar em Paraty Mirim, mas descobrimos que lá nenhum lugar existia para pousarmos e como merecíamos um descanso de rei, nos alimentarmos bem, tocamos para Paraty, doloridos, cansados, mas felizes.

Chegamos em Paraty às 23h30 da noite após 17 horas de remo ininterruptas, em tempo melhor do que havíamos previsto no projeto.

CHEGADA PARATY ÀS 23h30
Distância remada 80 KM
Distância total cumprida e aproximada 293 KM

Agradecimentos:
Obrigado aos nossos patrocinadores Mormaii e Casa de Pedra. Obrigado as empresas que nos apoiaram: SOLO, Spot Localiza dor via satélite, Feltrim Motos, Yamaha, Restaurante Poddium, Natural Sports suplementos alimentares, Adventure Camp.
Agradecimentos especiais aos amigos e competentes construtores da canoa havaiana EVOLUTION que, sem a perfumasse deste casco, provavelmente os resultados seriam diferentes e as dificuldades maiores.

Obrigado Cabo Riesco por suas dicas; obrigado à família do Sr Gilis por nos receber tão bem; obrigado Carioca por suas cartas, dicas e GPS; obrigado Fuchs por dividir seus conhecimentos nos momentos mais críticos; obrigado aos moradores da Ilha de Prumirim por suas dicas e sorrisos.

Dia 30 9h40 Remando
Saída Santos às 9h30
Parada São Pedro (Ajustes)
Chegada Bertioga às 18h10
Total Do Dia 42 Km

Dia 01 11h40 Remando
Saída Bertioga às 8h30
Parada Boracéia (espera de melhor maré)
Chegada Camburizinho às 19h10
Total Do Dia 52 Km
Total Somado 94 Km

Dia 02 7h25 Remando
Saída Camburizinho às 7h55
Parada Praia Preta (troca de roupa e ajustes para a tempestade anunciada)
Chegada Martins De Sá (Caraguatatuba) às 15h30
Total Do Dia 50 Km
Total Somado 144 Km

Dia 3 – 10 Horas Remando
Saída Martins De Sá às s 8h25
Parada Ilha Prumirim (para informações)
Chegada Praia Da Almada às 18h25
Total Do Dia 61 Km
Total Somado 205 Km

Dia 4 – 1 Hora Remando
Saída Almada – Sem Paradas
Total Do Dia 8 Km
Total Somado 213 Km

Dia 5 – 17 Horas Remando
Saída Picinguaba às 6h30
Parada Pouso Cajaiba (Informação)
Parada 2 – Paraty Mirim (busca de pousada)
Chegada Paraty às 23h30
Total Do Dia 80 Km
Total Somado e final 293 Km

Canoístas:
João Iaro Cerqueira Marques de Castro

Formação Biólogo
Comerciante
Praticante de kite surf, guia de rafting, canoísta amador há mais de 30 anos, surfista há 32 anos com 32 viagens para Indonésia, instrutor de mergulho há mais de 20 anos, sócio da AKSA assessoria esportiva.

Felipe Fuentes
Formado em Educação Física
Professor da Aksa assessoria esportiva
Corredor de aventura

Equipamentos:
Localizador Spot
Luz de sinalização
Head lamp
Botinhas de neoprene
Remo reserva
Alimentação de alta performance
Isotônicos
Roupa de Neoprene
Maquina fotográfica
Celular com acesso a Internet
Coletes salva-vidas
Kit de primeiros socorros
Protetor solar
Sacos estanques
Óculos escuros
E roupas para maior proteção ao sol.

Este texto foi escrito por: João Castro

Last modified: janeiro 27, 2009

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Redação Webventure
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