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Exclusivo: Torben Grael busca liderança isolada a caminho do Brasil na Volvo Ocean Race

Redação Webventure/ Vela

Clima com espanhóis é de amizade (foto: Dave Kneale/ Volvo Ocean Race)
Clima com espanhóis é de amizade (foto: Dave Kneale/ Volvo Ocean Race)

Torben Grael está “voltando para casa”, mas é momentaneamente. O comandante do Ericsson 4, líder da Volvo Ocean Race com 49 pontos, quatro a mais que o segundo colocado, sai de Qingdao, na China, no próximo sábado (14) na etapa mais longa da história da maior regata de volta ao mundo até o Rio de Janeiro, em 12.300 milhas náuticas, cerca de 23 mil quilômetros que devem ser completados entre 35 e 40 dias.

“É claro que para mim, para o Joca Signorini e para o Horácio Carbelli é uma etapa muito especial. Estamos chegando no Brasil!”, disse ele animado sobre seus companheiros brasileiros em entrevista exclusiva ao Webventure, direto da China.

O Ericsson 4 foi um dos quatro barcos a finalizar a quarta perna, que saiu de Cingapura e chegou a Qingdao após pouco mais de dez dias. Outros três barcos suspenderam a etapa e o Team Russia suspendeu a competição por falta de verbas. O Delta Lloyd e o Telefonica Black serão transportados diretamente para o Brasil, já que as avarias foram graves demais para serem consertadas a tempo deles reiniciarem a regata. Já o Ericsson 3, agora comandado por Magnus Olsson, pretende deixar Taiwan, onde efetua os reparos, e chegar em Qingdao momentos antes da relargada para o Rio.

“Em geral, quanto menos barcos, mais fácil fica. Mas seria legal contar com os outros barcos porque será uma etapa com certos riscos e muito longa e quem normalmente presta socorro são os outros barcos. Então, com menos equipes ou com uma distância muito grande delas, caso precisemos de socorro, fica mais difícil”, avaliou o brasileiro.

Preparativos e Previsões – Os últimos dias da tripulação do Ericsson 4 em terra serão para ajustes finais. A embarcação sofreu pequenas avarias, previsíveis pelo grau de dificuldade da etapa, e está em plena condição de encarar os ventos até o Brasil. “São os últimos dias de descanso também, para nos preparar fisicamente”, esclareceu. “Tivemos vários problemas, mas nenhum dano estrutural muito importante. Uma das coisas boas foi ter chegado aqui em bom estado”, comemora.

Até o Rio de Janeiro, Torben comandará a tripulação em situações complicadas também. “Vamos pegar o calor equatorial no começo, depois passaremos pelo Cabo Horn e as temperaturas caem e depois aumentam na aproximação com o Rio de Janeiro. Não será só a temperatura que mudará. Vamos atravessar vários sistemas diferentes em diferentes oceanos. Serão ventos alísios que sopram em uma direção em uma região e em sentido contrário em outra…”, explicou ele, que mais uma vez passará pelos Doldrums, que é a estagnação dos ventos na Linha do Equador.

Antes de deixarem Cingapura, a equipe da Ericsson Racing Team previu que seria uma etapa bem complicada, o que permitiu à tripulação adotar uma postura bem conservadora na regata. “Na verdade esperávamos essas dificuldades, por isso pegamos leve”, contou Torben Grael sobre a etapa que teve ventos de quase 100km/h e ondas de dez metros.

O comandante afirma que ponderou que esta não seria a hora certa de arriscar. Ele já garantia a liderança na classificação geral, e após a chegada à China teria não só a regata in-port, vencida por ele, como também a etapa que dará aos barcos o maior número de pontos da competição. Até o Rio de Janeiro estão em questão pontos em duas passagens por Portões de Pontuação, os pontos pela conclusão da etapa e ainda a regata in-port brasileira.

“A gente sabia que se acelerássemos tudo, teríamos problema. Por isso fomos conservadores. Com a nossa classificação geral não valia a pena arriscar tudo numa etapa como essa. Terminamos em terceiro, continuamos liderando e não tivemos nenhuma quebra que colocaria tudo a perder, aliás, não só a etapa, mas colocaríamos todo o projeto a perder”, explica.

Experiência, alerta e comando – Outro fator favorável à equipe foi a experiência. No comando do Brasil 1, na edição 2005/06 da Volvo Ocean Race, o comandante não contava com tantos recursos no barco como tem agora, o que o obrigava a improvisar em algumas atitudes. “A minha experiência ajudou muito. Até os problemas que tivemos com o Brasil 1 me ensinaram, como o problema sério que tivemos na segunda etapa”, relembra.

O alerta de cuidado e a confirmação da boa estratégia adotada vinham também com as notícias de que outros barcos haviam velejado com posturas diferentes e que deixavam pouco a pouco a etapa.

Torben analisa que a opção de Bouwe Bekking em arriscar com a equipe do Telefonica Blue foi por conta da colocação na classificação geral. “Eles estavam com uma diferença de pontos grande para nós, era importante eles irem bem em uma etapa para diminuir essa diferença e ele arriscou e conseguiu vencer. Mas outros dois barcos que saíram atrás de nós das Filipinas não chegaram aqui na China”, explicou.

Outra adversidade de etapas complicadas é a convivência dentro do barco. Até o momento nenhuma equipe declarou ter problemas de relacionamento, porém Torben já relatou em alguns e-mails que alguns velejadores estavam mau humorados durante a etapa. “A maioria deles não é novato, somente dois fazem sua estréia na Volvo. Tem vários momentos que você tem que intervir, dizer que está querendo as coisas. Mas é normal em certos momentos você estar mau humorado e é necessário compreender isso. Mas tem limite para tudo”, opinou ele.

O trabalho da equipe da Ericsson envolve muita gente além dos velejadores, mas um dos principais trabalhos é o da previsão meteorológica, que é sob a chefia de Chris Bedford na equipe nórdica. Antes das etapas são feitos estudos de como poderá ser a condição de ventos, correnteza, temperaturas etc. Mas Torben Grael é um dos maiores velejadores do mundo e entende o barco perfeitamente, conseguindo coloca-lo muitas vezes em velocidades maiores que a dos ventos.

“Tudo o que recebemos é uma previsão. Normalmente elas são bastante boas, acertadas, mas nem sempre o previsto acontece na realidade. Diante disso, eu preciso entender que o que está acontecendo não é o que está previsto e procurar o porquê dessas mudanças. Acontece com bastante frequência eu usar a minha intuição para comandar”, relatou Torben.

O comandante considera que os barcos que participam desta edição e que são regidos pelas novas normas de padronização da Volvo Open 70 são muito melhores que os da padronização de 2005/06. “Os barcos da edição passada não conseguiriam realizar uma etapa como essa entre Cingapura e a China. Tanto é que o Delta Lloyd não terminou esta perna, e ele é o atual campeão da Volvo, o ABN 1”, disse.

Amizade e Integração – O brasileiro conta que há um clima de amizade muito forte entre ele e algumas equipes, em especial as que têm tripulantes latinos, tanto pela identificação, quanto pela amizade de outras regatas, como a última edição da Volvo, em que o Brasil 1 correu com brasileiros e espanhóis. “Sou muito próximo do Chunny, o comandante do Delta Lloyd que estava no Brasil 1, e das equipes espanholas, os barcos da Telefonica”, declarou.

Além desses três barcos, Grael se mantém próximo da equipe nórdica da Ericsson, que desde a etapa 3 é comandada por Magnus Olsson. Na última semana, após a recuperação de Anders Lewander, ex-comandante do barco, de uma cirurgia no joelho, a direção da equipe anunciou que Olsson se manterá no cargo até o fim. “Esta decisão do Lewander não voltar já foi tomada. Ele teve uma lesão no joelho e não valia a pena dele voltar e ter uma complicação”, avaliou Torben.

Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi

Last modified: fevereiro 11, 2009

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