Após primeira metade da regata Ken Read quer descanso (foto: Rick Deppe/ Puma Ocean Racing)
Ventos inconstantes, rajadas de vento de cerca de 110km/h, passagem pela estagnação de ventos da Linha do Equador diversas vezes, problemas com o barco, passagem pelo Cabo Horn, mais de 35 dias no mar e o pior ainda não chegou para o norte-americano Ken Read, comandante do Puma, o segundo colocado na classificação geral da Volvo Ocean Race e 3º colocado na 5ª e maior etapa da volta ao mundo, que terminará nos próximos dias no Rio de Janeiro (RJ).
O pior desta etapa serão os próximos dias. As condições de tempo previstas são um pesadelo para velejadores. Se os deuses do vento quer nos derrubar, então que tenham a decência de fazê-lo rápido, disse Read, 47 anos, em entrevista ao Webventure, direto do Il Mostro, a máquina do Puma Ocean Racing que se aproxima do Rio. Mas nem só de coisas ruins esta etapa foi composta. A melhor parte foi, com certeza, a passagem pelo Cabo Horn, a minha primeira.
Esta é a segunda participação do comandante na Volvo Ocean Race, porém a primeira à frente da tripulação. Em 2005/06, Ken Read, que define como Perseverança a palavra de ordem da Volvo, esteve a bordo do seu maior concorrente desta edição, o Ericsson Racing Team. Em alguns momentos desta regata, Read e Torben Grael, comandante do Ericsson 4, velejam um ao olhar do outro de tão poucas milhas náuticas entre eles.
Eles são simplesmente rápidos, disse Ken sobre a equipe de Grael. Eles podem cometer erros que se recuperam no rebote graças à velocidade. Além disso, eles têm cerca de um ano e meio a nossa frente de preparação da equipe. Desde o começo nosso objetivo é diminuir essa distância entre nós. É a nossa única chance, mas não estamos nos pondo fora da disputa ainda. Temos um caminho a percorrer até São Petesburgo, na Rússia, em junho, comentou.
O Monstro – O barco da equipe Puma é um dos mais imponentes da regata, com um formato de um tênis 3D, com todos os seus detalhes e costuras. O conflito fica entre o design e o desempenho dele, que recebe elogios do comandante.
Dizemos desde o princípio que temos um barco bom, que não é fraco em diversas áreas. Porém, a desvantagem é que o barco não é ótimo em alguma área, o que nos dá essa constância em todas as etapas. Os barcos estão puxando forte e eu tenho que dizer que estou contente que não temos nenhum problema estrutural e Mostro continua inteiro. E isso é uma grande coisa quando lembramos que atravessamos o Oceano Austral, define Ken.
Ele conta ainda que a embarcação sofreu problemas, sim, durante as etapas, porém dentro dela há homens capacitados para consertarem qualquer problema ao mar.
A Vida ao Extremo é slogan da Volvo Ocean Race e todos que entram nela, sabem que podem esperar as piores condições parta velejarem, o que não deixa de ser também as melhores.
Ken Read ponderou antes de começar esta edição que as pernas 4 e 5, a que saía de Cingapura e chegava na China, e a que saía da China e chegará ao Brasil, seriam as piores. Porém, ainda restam mais cinco etapas após estas, ou seja, depois de tudo isso, ainda falta metade da volta ao mundo para alcançarem o fim.
A perna quatro tinha o brutal estampado nela com antecedência, graças às condições meteorológicas que tínhamos antes mesmo do barco ser feito. A perna cinco tinha o Oceano Austral e sua imensa extensão para lidar. E essa extensão significa uma coisa: quanto mais tempo você ficar na água, maior a chance de acontecer algo ruim. Mas esperamos agora pela segunda metade e pelos pontos que virão junto.
Para escolher seus tripulantes, Ken Read adotou a técnica de primeiramente saber da capacidade e profissionalismo deles. Depois, ver se ele convidaria cada um para um jantar. Preciso saber se são pessoas agradáveis como seres humanos, explica. Depois de seis meses com os selecionados, o chefe ainda mantém só elogios para todos.
A relação da tripulação é fantástica diante das circunstâncias. Estamos todos vivendo em um espaço de um closet, com frio, calor, fome, secos, molhados, cansaço, tudo em um período de 24 horas. É um ambiente difícil para todos. Dada a situação, estou realmente muito orgulhoso de todos e tudo o que obtivemos juntos, elogia.
Os tripulantes de todos os barcos enviam e-mails diários para a organização da prova com seus comentários sobre o dia e a situação em que se encontram. Ken Read é sempre animado e bem humorado em suas mensagens. A dúvida é como ele consegue se manter tão animado diante de certas dificuldades em alguns momentos.
Isso é muito gentil e minha esposa diz para eu exalar confiança e é isso que eu sempre tento fazer. E eu tenho que fazer, porque como comandante, se eu ficar para baixo, todos os tripulantes podem ficar para baixo também, e aí teríamos um problema em nossas mãos, explica o comandante.
Descanso – Após enfrentar tantas dificuldades após meio ano e meia volta ao mundo cumprida, Ken Read vê como uma benção a chegada ao Rio de Janeiro, cidade que ele não conhece ainda. A única coisa que eu sei é que por mais tempo que a regata pare no Rio, não vai ser o suficiente. O nosso calendário é brutal, afirma.
Gostaria de ficar um mês no Brasil para conhecer os pontos turísticos, relaxar, conhecer a cultura local. Pelo tempo que está previsto, não sei se teremos tempo para tudo isso antes de voltarmos ao mar, finaliza o norte-americano, já pensando na partida do Brasil antes mesmo de chegar.
Este texto foi escrito por: Lilian El Maerrawi
Last modified: março 23, 2009