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Minha Aventura: Expedição Cordilheira Branca, no Peru

Redação Webventure/ Destino Aventura, Montanhismo

Cordilheira Branca (foto: Arquivo Pessoal/ Luiz Moura e Carla Baldan)
Cordilheira Branca (foto: Arquivo Pessoal/ Luiz Moura e Carla Baldan)

Finalmente estávamos com tudo pronto para a nossa expedição. Foram mais de seis meses de preparação, desde o condicionamento físico, a apresentação do nosso projeto para os parceiros potenciais, a logística completa (equipamento, alimentação, roteiro, reservas, etc). Fizemos uma verificação do que iríamos levar, separamos e embalamos tudo.

Saímos de Campinas (SP) no sábado, dia 27 de junho, bem cedo para o aeroporto de Cumbica (Guarulhos) onde pegamos um vôo para Lima às 8h35 (cerca de 5 horas de viagem). Do aeroporto de Lima fomos direto para o terminal da empresa Movil, onde pegamos um ônibus para Huaraz (cerca de 8 horas de viagem). Depois de mais de 18 horas de viagem, chegamos em Huaraz no sábado mesmo, por volta de 23h00.

Passamos dois dias (três noites) em Huaraz (3.090 m) para começar o nosso processo de aclimatação. No domingo (28/06) fomos numa van até Pitec (3.850 m) e depois fizemos uma caminhada de aclimatação até a Laguna Churup (4.450 m). Na segunda (29/06) fizemos as compras da comida, contratamos o transporte para o campo base do Ishinca e aproveitamos para descansar um pouco.

Na terça (30/06) partimos por volta das 8h numa van com destino a um vilarejo chamado Cochapampa. Descarregamos a van e carregamos as mochilas e as marinheiras em mulas, que levaram as nossas coisas até o campo base do Ishinca (4350 m). A trilha é longa (cerca de 15 km) e levamos quase 6 horas para subir. No dia seguinte (01/07) fizemos uma pequena caminhada de 3 horas até o campo alto do Ishinca, onde se encontra o Refúgio Langoni (4950 m).

Na quinta-feira (02/07) saímos às 8h para escalar o Urus (4950 m). A trilha percorre inicialmente uma crista bastante íngreme, até chegar num trecho onde há neve e pedras. Lá colocamos as botas duplas e os crampons e continuamos a escalada. Quando estávamos a 5.50 m resolvemos desistir da escalada, pois estava tarde e o tempo estava duvidoso. Depois confirmamos que a decisão foi correta, pois durante a decida começou a nevar.

No dia seguinte (03/07) ficamos no campo base descansando e praticando algumas técnicas de escalada, como ascensão pela corda com blocantes. No final da tarde preparamos tudo para a escalada do dia seguinte.

Nova tentaviva – No sábado (04/07) acordamos as 1h30 e saímos as 3hpara escalar o Ishinca (5530 m). A Carla resolveu não ir nesta escalada, pois não estava se sentindo muito bem, estava com febre e início de diarréia.

Eu e o grupo de brasileiros que estava comigo percorremos toda a trilha até a base do glaciar no escuro, usando lanternas frontais. Chegamos no glaciar com o dia clareando. Arrumamos o equipamento e separamos as cordadas. Eu dividi uma cordada com o Leonardo. Começamos a escalar por volta das 07h30.

Aos poucos o sol foi aparecendo e nos esquentando. Foi uma escalada longa e cansativa, com uma rampa no final de cerca de 80 metros com uma inclinação superior a 45 graus. Chegamos no cume, praticamente junto com outra cordada formada pelo nossos amigos Andrigo e Marcel, por volta das 13h00. Como o tempo estava fechando, não demoramos muito no cume e logo começamos a descer.

Decidimos descer pelo lado sul do cume para conhecer este outro percurso. A descida começa com uma desescalada de uns 15 metros quase na vertical, em uma neve fofa, bastante exposta. Por isso fomos fazendo segurança de corpo um a um, até todos passarem esse trecho. O restante da descida foi bem tranquilo, mas bem mais longo que a subida pela face norte. Depois ainda tivemos que dar uma grande volta, numa trilha cheia de pedras, através da moraina, até um ponto próximo ao refúgio Langoni, onde trocamos as botas duplas pelas botas de caminhada.

Realmente, essa opção de descida foi muito mais cansativa. Chegamos ao campo base por volta das 17h00, depois de 14 horas de escalada, completamente exaustos, mas bastante felizes por termos feito o cume.

Como a Carla não havia melhorado, resolvemos abandonar a idéia de escalar o Tocllaraju (6030 m) e decidimos antecipar a nossa volta para Huaraz para o dia seguinte (05/07). Saímos as 08h00 do campo base e por volta das 12h30 estávamos pegando a van em Cochapampa. Assim que chegamos em Huaraz fomos numa pizzaria para comemorar essa primeira fase da nossa expedição.

Na segunda (06/07) reservamos o dia para descansar, lavar a roupa numa lavanderia, atualizar o blog e preparar a próxima fase da expedição. Os nossos planos eram descansar somente mais um dia e depois escalar o Pisco (5750 m), o Copa (6188 m) e o Chopicalqui (6350 m). Porém, uma greve geral estava bloqueando as estradas da região. Por causa da greve fomos obrigados a cancelar a tentativa de escalar o Copa. Voltando do Pisco só teríamos tempo para tentar o nosso ultimo objetivo que era o Chopicalqui.

Devido aos problemas de saúde e às mudanças nos planos por causa da greve, a Carla decidiu se recuperar no Brasil, e voltou para cá na quarta (08/07). Então, a partir desse dia eu passei a escalar somente com os outros brasileiros que estavam em Huaraz.

Folga – Tendo mais um dia de folga, na quinta (09/07) fomos num lugar perto de Huaraz, chamado Laguna Llaca (4450 m), para treinar escalada no gelo em paredes quase verticais. Apesar de ser perto, levamos cerca de 3 horas para chegar lá de van, pois a estrada é ruim e a subida é muito longa. Por outro lado, em apenas 40 minutos de trilha já estávamos na base do glaciar, onde há algumas paredes bem verticais (mais de 75 graus). Passamos o dia lá, treinando várias técnicas, usando parafusos de gelo para fazer as proteções. Quando voltamos para Huaraz no final da tarde tivemos uma boa noticia: a greve estava terminando e as estradas seriam liberadas.

Na sexta (10/07), bem cedo, partimos para escalar o Pisco (5760 m). Fomos de van até Cebollapampa (3900 m), carregamos nossas marinheiras nas mulas e subimos para o campo base do Pisco (4600 m) em cerca de duas horas e meia. Montamos nosso acampamento, comemos e fomos dormir cedo (por volta das 17h00) para descansar um pouco antes de sair para o cume. Acordamos à meia noite, com um céu estrelado e lua cheia. Tomamos um rápido café, arrumamos as mochilas e saímos por volta da 1 hora da madrugada em direção ao glaciar, onde chegamos por volta das 04h30.

Colocamos a botas duplas e os crampons, pegamos os piolets e começamos a escalar com um frio intenso. O dia foi amanhecendo e revelando as montanhas ao nosso redor. Um visual que por si só compensava todo o esforço e sofrimento do momento. A subida foi longa e cansativa, mas as 11h30 pisamos no cume do Pisco. Eu dividi esse momento especial com meus amigos Davi, Andrigo e Fred.

O lugar é fantástico e a vista do cume é uma das mais belas que eu ja vi. Abraços, fotos do cume, filmes e logo começamos a descer, pois ainda havia um longo caminho até o campo base. E realmente o caminho foi longo, pois eu estava muito cansado e desci muito devagar. Cheguei na barraca somente as 18h00, completamente exausto.

No domingo (12/07), cedo, desmontamos o acampamento, descemos as coisas nas mulas e pegamos a van de volta para Huaraz. Novamente comemoramos mais este cume numa pizzaria. Descansamos um dia e na terça (14/07) já partimos novamente, desta vez para tentar o cume do Chopicalqui (6350 m).

Em 2004 eu já havia feito uma tentativa ao Chopicalqui (6350 m), tendo chegado até o campo alto (5600 m), onde passei a noite sob uma tempestade terrível. Na manhã seguinte todos que estavam no campo alto foram obrigados a bater em retirada devido à quantidade de neve fresca acumulada durante a noite. Durante a descida eu já pensava em voltar um dia para fazer uma nova tentativa.

Desta vez foi um pouco diferente. Novamente eu me juntei ao grupo de brasileiros. Contratamos dois carregadores para nos ajudar a carregar o material de escalada. Saímos de Huaraz numa van que nos levou ate o começo da trilha. Assim que chegamos lá, começou a chover. Ficamos esperando dentro da van por mais de uma hora, mas a chuva não passava e a van tinha que voltar para Huaraz. Começamos a caminhar sob chuva, sem saber se iríamos somente até o campo base (menos de 1 hora de caminhada) ou até o campo Morena (cerca de 5 horas). Como no campo base a chuva parou um pouco, resolvemos subir até o campo Morena (4900 m). Mas logo depois voltou a chover e no meio da subida a chuva virou neve. Chegamos no campo morena no final da tarde, bem a tempo de montarmos as barracas e fazer algo para comer.

O dia seguinte (15/07) amanheceu lindo, sem nenhuma nuvem, mas muito frio. Esperamos o sol esquentar um pouco o acampamento, desmontamos tudo, nos equipamos e começamos a subir o glaciar, rumo ao campo alto. Chegamos lá no final da tarde e começamos a dura tarefa de derreter neve para ter água para beber e para cozinhar. Isso consome muito tempo e energia, pois a 5600 m qualquer tarefa cansa bastante.

Acabamos conseguindo água apenas para cozinhar e para passar a noite. Assim que o sol se escondeu atrás das montanhas a temperatura caiu bruscamente. Ninguém arriscava a ficar fora das barracas. Foi uma noite difícil, muito fria e curta, pois combinamos de levantar à meia noite para escalar.

Neve espessa – Assim que levantamos, tivemos que derreter mais neve para tomar café e levar água na escalada. Isso sob uma temperatura de -15ºC. Com isso acabamos saindo somente as 2h. Fomos subindo e logo encontramos uma espessa camada de neve não consolidada cobrindo a trilha. Isso dificulta bastante a escalada.

Na véspera, quando estávamos subindo para o campo alto, encontramos alguns escaladores descendo e eles nos contaram que não haviam feito o cume, pois havia neve até o joelho (eles chegaram somente até 5.800 m). Mesmo assim fomos avançando, graças ao esforço do Francis, que ia à frente abrindo o caminho. Realmente encontramos neve até o joelho, depois do ponto onde os outros escaladores tinham chegado.

Insistimos até o lugar conhecido como ombro, um lugar um pouco mais plano antes da pirâmide do cume, a 6200 m. Chegamos neste ponto às 7h, com o dia nascendo, mas ainda fazendo muito frio (com o vento a sensação térmica é mais baixa ainda). Fizemos uma avaliação da situação e resolvemos desistir de ir até o cume, apesar de estarmos tão perto. A parte final da escalada é mais inclinada e mais difícil em condições normais. Com a quantidade de neve não consolidada ela se torna ainda mais perigosa. Foi uma decisão difícil, mas a montanha continuará lá e sempre poderemos voltar para fazer uma nova tentativa.

Começamos a descer rapidamente, pois o frio estava nos consumindo. A descida até o campo alto foi bem cansativa devido à quantidade de neve. No campo alto fizemos um lanche, desmontamos tudo e começamos a descer para o campo Morena. Chegando lá tomamos a decisão de continuar descendo, passando pelo campo base, até a estrada, na tentativa de encontrar um transporte que nos levasse até Huaraz naquele dia mesmo.

Desejo bom – Pode parecer loucura descer direto do cume (ou perto dele) até a estrada, mas a idéia de dormir numa cama, depois de um bom banho e de uma pizza, nos faz tomar esse tipo de decisão. A descida foi realmente exaustiva. Eu cheguei na estrada literalmente acabado. Felizmente passou uma van que ia até Yungay, de onde tomamos um táxi até Huaraz. Mais uma vez fomos numa pizzaria comemorar, desta vez não o cume, mas a montanha.

Depois de dois dias de descanso em Huaraz, no sábado (18/07) a noite eu voltei para Lima, numa viagem de ônibus de cerca de 8 horas. Cheguei em Lima na manhã do dia seguinte e fui direto para o aeroporto, onde peguei um vôo para São Paulo. Depois outro ônibus direto do aeroporto de Cumbica para Campinas. Foi uma viagem longa e cansativa. Por outro lado foi muito legal sair da Cordilheira Branca num dia a noite e dormir na minha casa no dia seguinte.

Foi uma expedição fantástica, tanto pela beleza das montanhas quanto pela companhia das pessoas que me acompanharam. Um lugar que eu voltarei, com certeza.

Este texto foi escrito por: Luiz Felipe Moura e Carla Baldan Dias

Last modified: julho 28, 2009

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