Tepequém foi castigada pelo garimpo (foto: Alexandre Koda/ www.webventure.com.br)
Para os amantes da natureza, há muitas trilhas e cachoeiras ao redor da Vila do Paiva, em Tepequém, local distante cerca de 220 quilômetros da capital de Roraima, Boa Vista. Também é possível voar de parapente motorizado e saltar de paraquedas, atrações que devem ser contratadas em Boa Vista com uma operadora local.
A Cachoeira do Paiva é uma queda dágua de acesso simples pela mata aberta, enquanto a Trilha do Platô leva até o topo de uma montanha de onde se tem uma bela vista da região.
Tanto no salto de paraquedas, quanto no voo de parapente, é possível perceber do alto que a região foi muito castigada durante a época do garimpo, já que diversas partes do terreno apresentam erosões que formam imensas crateras. Ao mesmo tempo, avistam-se três grandes serras com mata praticamente intocada pelo homem.
Cachoeira do Paiva – A Trilha começa em uma região de terreno arenoso, com mata aberta, vegetação rasteira e nível de dificuldade baixo, ideal para iniciantes. Na época de inverno, quando ocorrem as chuvas fortes, a maior dificuldade é atravessar os igarapés, já que a água cobre a maior parte das pedras, que ficam ainda mais escorregadias com o limbo.
No meio do caminho vale a pena desviar um pouco da trilha principal e subir algumas rochas até chegar ao alto de um pequeno monte, local onde é possível avistar a densa vegetação, com rios sinuosos e mata intocada, já que pertence a uma reserva indígena.
Ao voltar pelo caminho original, o trecho de acesso à queda dágua talvez seja a parte mais complicada dos quase quatro quilômetros do percurso, já que há uma descida íngreme com poucas árvores para servir de anteparo. Como é um local muito visitado, foi instalada uma corda em dois grandes troncos, para auxiliar o trekking até o riacho.
A água cristalina e de temperatura não muito fria, convida para um banho relaxante, ótima oportunidade para recuperar as energias dos cerca de 40 minutos de caminhada. Quem quiser pode ainda seguir um pouco mais para cima num caminho de pedras, atravessar a parte rasa do igarapé e aproveitar uma massagem natural da cachoeira do Paiva, que não é muito alta, mas fica volumosa na época das cheias.
O retorno acontece pelo mesmo local de ida e uma placa ao lado da trilha lembra o viajante de algo muito importante: leve de volta todo o lixo produzido. Levar água para se hidratar durante o trajeto é muito importante, além de alimentos de fácil consumo, como frutas, ou barrinhas de cereal.
Essa trilha, ao contrário da que leva à Cachoeira do Paiva, possui um nível de dificuldade de moderado a difícil e os menos condicionados devem pensar duas vezes antes de encará-la. O início dela é no interior de uma propriedade particular, então para fazê-la é necessário agendar com um guia local.
São cerca de duas horas para subir ao topo do Monte da Rainha, numa trilha que passa por trechos de mata alta, pedras, travessias de riachos e locais estreitos. Em alguns pontos há pequenos igarapés que correm em meio à mata, ótimos locais para fazer uma pausa, encher o cantil e jogar um pouco de água no corpo para aliviar o calor.
Pelo caminho encontra-se diversos tipos de bromélias, orquídeas, além de algumas espécies de aves, como araras e em alguns trechos há clareiras na mata de onde se avista a Vila do Paiva, com as marcas deixadas pelo garimpo. Calça comprida, tênis ou bota, repelente, protetor solar, chapéu/ boné e, é claro, a câmera fotográfica, não podem faltar neste destino.
No topo dos 1.100m de altitude a vista é deslumbrante, com um precipício à frente, tomado por árvores de copa alta, além de um grande paredão de rocha. Há vários locais onde é possível sentar e apreciar a energia do local, como algumas pedras que parecem ter sido esculpidas cuidadosamente para o recreio do viajante. Todo cuidado é pouco, pois uma queda seria praticamente fatal.
Alguns minutos no alto servem para recuperar as energias. Uma dica importante é levar pelo menos meio litro de água, principalmente nos dias quentes, já que a ascensão é demorada pela trilha e não há árvores altas para fazer sombra no caminho, apenas pequenos arbustos. Frutas, bolachas, barras de cereal e outros alimentos ricos em energia também são muito bem vindos, já que a descida é ainda mais cansativa do que a subida.
Retorno – Não é possível ficar muito tempo no alto apreciando a paisagem, pois o clima pode mudar de repente e uma chuva inesperada complicaria a descida, deixando as pedras ainda mais escorregadias e os rios com níveis elevados de água. Essa caminhada requer uma atenção especial, pois a musculatura dos joelhos é exigida a todo o momento para saltar entre rochas e encarar trechos muito íngremes.
São mais duas horas até a entrada da propriedade particular e é fundamental que numa expedição em grupo, todos fiquem próximos ao guia, pois algumas trilhas secundárias podem confundir o viajante e levar para locais distantes. De volta à estrada principal de asfalto, basta aguardar o transporte para a cidade com a sensação de mais uma trilha conquistada.
Há duas origens possíveis para o nome Tepequém. Uma delas conta que os primeiros exploradores ingleses, ao chegar ao topo da Trilha do Platô, ficaram encantados com a vista e logo batizaram o local de Top of Queen (Morro da Rainha), em homenagem á Rainha Elizabeth.
Já a origem indígena, traz na semântica Tupã Queem” (Deus do Fogo) em alusão a um antigo vulcão de 1.500m de altitude que, extinto há milhares de anos, teria formado a Serra de Tepequém. Segundo uma lenda das tribos Macuxi, este vulcão vivia zangado e destruía tudo ao redor com sua lava.
Já desesperados com a situação, os índios não sabiam o que fazer, até que um dos Xamãs (Pajés) convocou todos da tribo e disse que a solução para o fim dos problemas seria três belas virgens se sacrificarem para pôr fim à ira do vulcão. As três moças então se jogaram para amansar a fera, que no lugar de fogo passou a jorrar diamantes, deixando espaço para o verde crescer novamente. Assim, as três grandes serras que formam Tepequém, representam as três virgens que se sacrificaram no passado.
Este texto foi escrito por: Alexandre Koda
Last modified: dezembro 9, 2009