Auto-retrato segurando a câmera com a mão (foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Stulzer)
Já faz algum tempo que várias pessoas têm me perguntado como faço para filmar as aventuras que participo. Estas questões aumentaram ainda mais depois que coloquei no ar o vídeo da Maratona Descalço e o da Corrida de Aventura de Antonina (PR), do Extremaventura.
Acho importante deixar claro que nunca fiz nenhum curso para edição de vídeos, então tudo o que eu falar aqui é fruto da minha própria experiência, dos meus acertos e erros. Se faço algo errado durante o processo a culpa é toda minha. Para se ter um vídeo como os que faço são necessárias duas coisas: captura e edição. Cada uma é responsável por uma parte importante do processo, e sem elas não é possível ter alguma coisa de qualidade.
Acessórios e Estrutura
Para capturar as imagens utilizo câmeras fotográficas que também filmam. Mas porque não utilizar então uma filmadora que também tira fotos?
Os problemas aqui são dois: portabilidade e ergonometria. Portabilidade, pois preciso que a câmera seja pequena, leve e fácil de levar para qualquer lugar. Ergonometria, pois já tentei utilizar uma câmera de vídeo, mas não consegui me acostumar com a forma de segurá-la, naquela posição clássica de braço dobrado e perto do rosto. Veja abaixo onde mantenho a máquina durante as aventuras: presa na faixa de peito da minha mochila.
Como auxiliar para a máquina, também utilizo um mini-tripé, para capturar imagens de mim mesmo, como quando fiz o Trekking Treino de 20km e a parte em que o Minduim e eu estamos carregando o duck na Corrida de Aventura de Prudentópolis.
* confira o vídeo aqui!
Sempre tive câmeras digitais da Sony, então não tenho como falar de outras. As Sony são muito boas, com ótima qualidade de imagem e de som. E até agora estão aguentando bem os desafios para os quais as utilizo. Até agosto de 2009 eu utilizei a minha velha câmera de guerra, a T-30, para fazer todos os vídeos.
Ela é uma ótima câmera, e tem algo que nenhuma outra me proporcionou: um versátil botão físico para mudar da posição foto para a de vídeo. Isso me proporcionava uma grande agilidade para tirar fotos de um lugar e logo em seguida filmar alguma cena. A bateria tem boa duração e ela é robusta. Seu único inconveniente é que a filmagem é em VGA (640×480), com 15 frames por segundo. Serve muito bem para vídeos onde não se use a tela cheia.
A linha T da Sony é das câmeras ultra-compactas. Mas a grande sacada delas é que podem ser ligadas e desligadas deslizando-se a parte frontal. Acreditem, isso dá uma agilidade enorme quando você precisa usá-la rapidamente.
Como eu queria uma máquina que filmasse em HD, resolvi comprar uma nova. Fiquei entre a Sony W-290 e a T-90. Acabei comprando a W-290 por possuir um botão físico para trocar entre fotos e filmagem, mas me arrependi depois, pois ela demora muito (para as minhas necessidades) ao ligar e desligar, pois é daquelas em que a lente sai para fora.
Felizmente consegui trocá-la por uma T-90, que é a evolução da T-30. Mais fina, com visor touchscreen e filmando em HD (720p), com 30 fps. Ela tem somente dois defeitos: para mudar de fotos para filme tenho que tocar em três botões do touchscreen, perdendo um pouco de agilidade. A outra coisa é que a bateria dura bem menos do que a T-30. De resto é uma máquina fantástica. Foi com ela que fiz toda a filmagem da Corrida de Aventura de Antonina.
A questão da capinha presa na alça do peito, como falei acima, também é fundamental. A minha tem velcro, o que deixa bem rápido a retirada e inserção da câmera. Agilidade é a palavra fundamental no tipo de vídeos que faço.
Uma câmera pequena como esta pode-se colocar em qualquer posição. Assim fica fácil estar em cima da bike e filmar a pessoa que está ao meu lado. Só preciso segurar a câmera apontada para o sujeito, enquanto que a outra mão segura o guidão da bicicleta. Se estou fazendo algum trekking é mais simples, pois não é preciso me preocupar com a bike. As coisas só começam a complicar quando corro, pois é muito difícil conseguir filmar sem tremer. Mas como isso faz parte dos esportes, considero um mal necessário.
Acho que a grande dúvida e curiosidade das pessoas são como eu apareço nos meus próprios filmes. Engraçado, mas a maioria acha que tem alguém me filmando. Na verdade, salvo raras exceções, eu mesmo filmo, apontando a câmera para mim. Veja a imagem abaixo e note se encontra algo diferente.
Você consegue ver, no reflexo dos óculos, o meu braço esticado segurando a câmera? Pronto, está desvendada a mágica! Eu só estico o braço e seguro a câmera apontando a lente para mim. O efeito proporcionado pode-se levar a crer que tem outra pessoa filmando ou tirando as fotos. A razão disso é simples: estas máquinas têm uma lente que pega uma grande área de cena, com pouca distância entre a lente e o objeto a ser filmado. Neste caso, eu.
O Meu Modo de Captura
O meu modo de captura é simples: tento fazer o máximo possível de tomadas e fotos. Desta maneira terei um material rico para ser trabalhado posteriormente.
Para você ter uma ideia, na Corrida de Aventura de Antonina, tiramos 68 fotos e fizemos 99 tomadas de filmes. Isso só na corrida, fora as tomadas anteriores, que fizeram a introdução do filme. O resultado? Gerar um vídeo de seis minutos de duração. Brutal System, como diria o Mildo.
Mais de 50% do trabalho dos filmes que faço está na edição. A média é de uma hora de edição para cada minuto de vídeo pronto. Seis minutos de vídeo? Seis horas de edição! E a coisa pode piorar, dependendo do dia. No vídeo de Antonina levei 10 horas na edição.
Em termos de software uso o iMovie, da Apple em conjunto com o iPhoto e o iTunes. Antes que alguém fale que não tem um Mac para fazer isso, e desista antes de tentar, quero dizer que qualquer software dá conta do recado. O importante é aprender a fazer cortes, para deixar o que é interessante e jogar fora o que não é. Neste ponto ter muito material ajuda, pois você não precisa ter dó de cortar uma parte já que tem muitas outras para usar. O esquema é só usar o supra-sumo da captura, apesar de nem sempre ser possível.
Nas minhas edições tento sempre cortar o supérfluo. Tiro espaços entre falas e mesclo o ambiente quando a pessoa tem muito para falar. Acredito que 80% do sucesso de um vídeo está na edição. Os 20% restantes são uma boa captura da aventura que você está fazendo.
Pense na aventura como uma história, que deve ter começo, meio e fim. Se tiver um tema para desenvolver durante a aventura, melhor ainda. Se não tiver, não se preocupe, ele irá aparecer alguma hora.
No Circuito Vale Europeu procurei temas para cada dia de pedal. No primeiro foi o desconhecido, pois tudo era novo. No terceiro dia foi o dono da bicicletaria com mais de 100 anos. No último dia foi a despedida. Cada aventura tem uma história para contar, mas depende de você descobrir que história é essa. Algumas são mais óbvias, outras mais sutis.
Meus vídeos sempre têm uma música de fundo. Acho-as essencias.A música ajuda muito no sucesso de um vídeo, mesmo que a pessoa que o esteja vendo não note. Não pense que isso é só pela música em si; tem mais coisas juntas nesta história. O clima da música é importante, pois ela é que vai dar o tom para o vídeo. E não adianta pensar numa música antes de ter o vídeo quase pronto, pois o tempo dela tem que se encaixar com o do próprio vídeo.
Sempre faço uma edição básica do vídeo e depois começo a cortá-lo, para tirar as partes desnecessárias. Neste momento o vídeo perde em torno de metade a dois terços do tempo inicial. Se o primeiro corte deu uns 15 minutos, pode ter certeza que o vídeo final ficará entre 5 e 8.
Depois que tenho o vídeo praticamente pronto vou procurar a música. Uso o iTunes e ordeno as mais de 2.500 músicas que tenho pelo tempo de duração. Daí, escuto as que mais se encaixam e escolho uma ou duas para testar, incluindo-as no vídeo. Este é um processo bem subjetivo, onde vale o sentimento mesmo. Tem vídeos em que a música encaixa facilmente, mas têm outros que demoro algum tempo até achar a trilha sonora certa.
E a música é uma espécie de cola, que ajuda nas mudanças de cena e dá uma continuidade para o vídeo. Sem ela o filme perde muito do brilho.
O processo final
Depois do vídeo editado e da música incluída resta pouca coisa a fazer. É nesta hora que coloco o título, os textos e legendas explicativas, bem como os banners dos parceiros. Por último subo o vídeo para o Youtube. Utilizo o Vimeo esporadicamente quando o Youtube resolve que a música não pode ser usada e corta todo o áudio.
Um arquivo final, em HD 720p gera em torno de 76Mb por minuto de vídeo, na configuração que uso. No caso do vídeo da Maratona Descalço foram 437Mb; no Dia Mundial sem Carro foram 368Mb, e assim por diante.
E porque utilizo HD? Para ter alta definição de vídeo. 720p equivale a 1280 pixels por 720, o que é pelo menos 50% maior que o VGA (640×480). Assim você pode assistir os meus vídeos em tela cheia sem perder qualidade. Para isso basta clicar no botão HD do vídeo. No YouTube isso fica no canto inferior direito.
Com o vídeo pronto resta divulgá-lo, pois não adianta nada passar um domingo inteiro em casa editando-se se não tiver ninguém para assisti-lo!
Meu principal canal de divulgação dos vídeos que produzo é o próprio Transpirando.com. A partir dele é que tenho o maior número de visitações e visualizações. O twitter também tem se mostrado um bom canal de comunicação, bem como o próprio Youtube, trazendo mais pessoas para o blog.
Alguns blogs e portais de aventura também divulgam os meus vídeos, quando estes tem um bom apelo como a Maratona Descalço, as Corridas de Aventura (Prudentópolis e Antonina) e o Circuito Vale Europeu.
O geral é isso. Caso você tenha alguma dúvida a mais, deixe seu comentário. Na medida do possível tentarei responder o que estiver ao meu alcance.
Este texto foi escrito por: Rodrigo Stulzer
Last modified: dezembro 29, 2009