Partida de Trinidad e Tobago rumo a Grenada (foto: Matias Eli/ Arquivo pessoal)
Cheguei a Bonair em 4 de julho de 2009. Acabei desistindo de Los Roques, pois precisaria passar antes em Isla Margarita para fazer imigrações, portanto decidi tocar direto para esta ilha holandesa. Foi uma grande velejada em solitário, saí de Grenada na tarde do dia 30 de Junho e cheguei por aqui ontem à noite, dia 3 de Julho.
Saí com pouco mais de 10 nós, o que, para uma popa rasa, não era suficiente para manter as velas armadas, mas o vento logo começou a apertar e pude desligar o motor na caída da noite. Havia checado a previsão e esperava um vento entre 20 e 30 nós, assim como um mar relativamente grande, e foi justamente o que aconteceu. Perto da meia-noite, o vento já estava entre 25 e 30 nós nas rajadas. Vento e o mar grosso, com ondas entre três e quatro metros, se mantiveram durante toda a viagem. A boa notícia era que tanto o vento como o mar eram favoráveis. A má notícia era que as condições eram “favoráveis demais”. Com o vento e mar de popa rasa, eu tinha duas opções: primeira, escolher um lado e ficar dando jibes até minha chegada, ou, segunda, montar uma asa de pombo e seguir de popa rasa.
Acabei optando pela segunda opção, pois apesar do desconforto de navegar com um tempo tão forte entrando pela popa, ficar dando jibes naquelas condições não me pareceu uma alternativa tão atraente. Além do mais, tornaria a viagem mais longa e forçaria mais as velas e o mastro. Estava andando bem na popa, com a Genoa 1 (pois a 3 não presta) desenrolada e com o pau de spi pequeno, montado na escota de bombordo.
Sustos – O barco estava arisco, mas o vento forte, de aproximadamente 20 nós, permitiu que eu o levasse com o leme de vento, do Raymarine, que tem mais curso do que o leme de vento mecânico. Naquelas condições, eu precisava de bastante curso para poder evitar uma possível atravessada.
O Bravo fazia entre 9 e 10 nós, chegando a 11 na surfada da onda. Quando a rajada entrava pouco antes da onda, dava pra sentir o tranco e o casco desgrudando da água e olha que o Bravo tem 18 toneladas! Dava medo…
Apesar de todo o estardalhaço, a impressão era de bem menos vento, pois, como disse antes, o aparente não era tão grande assim. Além do mais, não vi nenhum barco até chegar a Bonair, o que permitiu que eu dormisse por períodos mais longos, de até uma hora.
Num dos jibes, o parafuso que prende o garlindeu deu uma mega entortada, achei que não iria aguentar até o final da viagem. Após o incidente que aconteceu a umas seis horas da chegada, fiquei no leme direto para evitar um novo jibe, que certamente poria a retranca abaixo. Acabou dando certo, cheguei em Bonair com uma lista reduzida de avarias: garlindeu, guarda mancebo (hoje consertei os dois) e o lazi que estourou durante um jibe. Este não deu para consertar, pois preciso subir no mastro e não tenho ninguém para ajudar.
Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure
Last modified: março 26, 2010