Bravo deixa ilhas e parte para Fiji (foto: Matias Eli/ Arquivo pessoal)
Saímos de Papeete, a Carol e eu, no dia 18 de Setembro e, depois de quatro horas de mar bem agitado, chegamos em Moorea, uma ilha que fica a poucas milhas de Papeete. Papeete não tem muito a oferecer, é uma cidade relativamente grande para os padrões da Polinésia, mas com galinhas soltas pela rua, bem típico de cidade do interior.
Entramos a vela em Moorea e ancoramos próximos onde estavam todos os outros veleiros, ao largo de uma praia muito bonita e com água transparente. Depois de tanto tempo embarcado, minhas pernas estão bem finas pela falta de exercício e a Carol (que chegou com pique de academia) me pôs para correr. Além da atividade, é uma boa forma de conhecer o ambiente.
Depois de Moorea, continuamos navegando para Oeste/Noroeste, paramos em Huahine, onde ficamos alguns dias antes de continuar a viagem até Bora Bora. Em Huahine navegamos ao redor da ilha, sempre dentro do Lagoon (protegidos pelos recifes). Nosso maior problema era a falta de peixes, não conseguimos pescar nada desde que saímos de Papeete e a Carol acha que todas as histórias que conto sobre peixes enormes não passam de contos de pescador (mas, não são!). Por sorte, fiz uma boa compra no Carrefour em Papeete, no qual os queijos eram relativamente baratos.
Lugar paradisíaco 0 Não é à toa que Bora Bora é reconhecida como a pérola da Polinésia. Toda a ilha é rodeada de “motus” ou pequenas ilhas que se formam ao redor da barreira de corais que fazem com que o mar dentro desta “lagoa” seja muito calmo. Os bangalôs estão por todos os locais e os turistas, de todas as partes do mundo, aparecem na mesma proporção. Depois de três dias em Bora Bora encontramos com meus amigos canadenses do veleiro Coolebhar.
Depois de alguns dias em Bora Borá, era chegada a hora de retornar para Papeete, já que a Carol pegaria o voo de volta para SP. O céu começou a fechar, e eu não estava muito convencido em deixar Bora Bora, chequei a previsão do tempo que era de ventos de NE de até 15 nós. A direção não era das melhores, teríamos que navegar contra o vento, mas a intensidade era baixa. Saímos de Bora Bora à noite, pretendíamos navegar até Raiatea que fica no caminho para quem volta para Papeete.
Depois de quatro horas de navegação e apesar da previsão, o tempo começou a azedar… O vento foi aumentando gradativamente e fui diminuindo as velas. Ao redor da meia noite o vento já soprava a 30 nós e dali pra frente só aumentou. Na madrugada estávamos velejando com 50 nós de vento e as ondas quebravam literalmente em cima do convés do Bravo. Uma dessas ondas quebrou na popa e entrou pela entrada da cabine formando uma cachoeira de água salgada que descia pela escada de acesso, muito desagradável. Primeiro o GPS deu pau, depois foi a vez do piloto automático e das baterias que não carregavam. Tive que amarrar o gerador eólico, pois ele girava tão rápido que o barulho era insuportável e assustador.
Resolvi voltar para Bora Bora, pois sem GPS não poderia arriscar uma entrada num porto desconhecido e Papeete ainda estava muito longe. Além do que, teríamos que continuar navegando contra o vento. Dei meia volta, a navegação ficou mais confortável, pois agora o vento vinha de popa, o barco já não adernava, entretanto, a coisa ficou muito mais perigosa.
Ao navegarmos com vento vindo bem de trás, o perigo é o “jibe”, que acontece quando as velas mudam de lado de forma brusca quanto mais forte o vento, mais violento é o jibe. E com 50 nós de vento um jibe iria provavelmente derrubar o mastro do Bravo. Para escapar dele (ou de sua zona), eu simplesmente teria que mudar o rumo em alguns graus para a direita. Isso seria extremamente fácil se não tivesse um pequeno inconveniente. A poucos quilômetros à direita estavam os recifes que rodeiam a ilha de Raiatea, portanto escapar da zona do jibe significava jogar o barco nos recifes. O jeito foi continuar navegando no limite do jibe até o final dos recifes. Mas como “desgraça pouca é bobagem”, eu estava morrendo de vontade de ir ao banheiro (#2), mas não podia largar o leme um segundo, pois se o fizesse a desgraça ia ser muito maior do que uma cueca suja. Aqueles foram os 30 minutos mais longos da minha vida. Tentava me distrair fazendo contas e quando percebi que uma cueca custava aproximadamente 0,01% do preço de um mastro novo, eu quase relaxei. Por sorte os recifes acabaram a tempo e eu economizei uma cueca e o vexame.
Chegamos em Bora Bora e ficamos por lá arrumando o barco e curtindo mais um pouco da ilha. A Carol teve que pegar um vôo de Bora Bora para Papeete para ir embora. Fiquei triste e com uma boa dose de inveja, afinal em mais um par de dias ela estaria com a Marina e a Sofia e eu ainda tinha muita água pela frente antes de poder reencontrar minhas filhas. Por sorte, no dia seguinte da partida da Cá, os meus amigos Adriano e Márcio chegavam de SP para me acompanhar até Fiji.
Susto – No dia seguinte que a Carol partiu, tivemos um aviso de Tsunami em Bora Bora, (a mesma onda que destruiu Samoa). Acordei, arrumei o barco e saí para alto mar onde a onda se torna inofensiva, mas felizmente nada aconteceu, a não ser um mar um pouco mais agitado do que o normal.
Saímos de Bora Bora (o Márcio, Adriano e eu) e fizemos uma ótima velejada até Aiututaki, pretendíamos fazer uma escala antes de seguir até Ranrotonga – uma outra ilha que faz parte das Ilhas Cook (um arquipélago que fica ao Sudoeste de Bora Bora). A viagem até Aiututaki demorou três dias e ao chegar lá descobrimos que a ancoragem fora do lagoon era péssima e não tive coragem de ficar naquele lugar em que o vento e o mar jogavam o barco contra os corais. Portanto, paramos para um mergulho no mar, e seguimos direto para Rarotonga (mais dois dias de viagem). O trajeto foi marcado por ventos fortes e algumas tempestades no caminho, mas finalmente chegamos e o percurso valeu muito a pena.
Rarotonga é muito bonita! Melhor do que Bora Bora. Uma ilha pequena de apenas 30 km rodeada de praias paradisíacas. Uma vila muito bonita com alguns restaurantes bacanas e uma população que, como em todo o Pacífico, é pra lá de simpática. Alugamos um carro e ficamos dando voltas e mais voltas na ilha que tem duas linhas de ônibus uma se chama “sentido horário” e a outra “sentido anti-horário”. Quando já estávamos ficando tontos com tantas voltas, resolvemos partir para nossa maior perna, de Rarotonga a Nukualofa. A viagem estava prevista para durar de quatro a cinco dias, mas logo na primeira noite pegamos uma tempestade brava com ventos muito fortes (não tanto como os que pegamos com a Carol, mas fortes o suficiente para rasgar a vela mestra). O jeito foi continuar só com a genoa (vela da frente). Depois da tempestade o vento diminuiu bastante e o restante da viajem foi razoavelmente confortável.
Atualmente estamos em Nukualofa que fica no reino de Tonga, a última monarquia das ilhas do Pacífico. A ilha não é tão bonita como a Polinésia e nem se compara com Rarotonga, mas o povo é de uma hospitalidade e uma simpatia que nunca vi antes. Devemos partir em um par de dias rumo a Fiji, a última escala do Bravo antes de sair da água. Eu não vejo a hora de voltar para SP e para minhas 3 mulheres. A vida abordo esta ótima, mas depois de quatro meses fora de casa, confesso que estou com muitas saudades.
Este texto foi escrito por: Matias Eli, especial para o Webventure
Last modified: abril 28, 2010