Anoitecendo no Parque Nacional da Amazônia (foto: Arquivo pessoal/ Angelo Corso)
Quando criança, meu Professor de geografia apresentou-me o livro do Julio Verne: “A Volta ao Mundo em 80 dias”. Influenciado também por meus pais que viajavam bastante, daí por diante, não parei mais de sonhar. Ainda criança, em Búzios ,acordava às cinco horas da manhã para surfar e quando não tinha onda, entrava no barco dos pescadores locais e os acompanhava na pescaria. Visualizava aquele horizonte infinito do mar e ficava imaginando até onde ele poderia me levar.
Ao ler livros de história, geografia e poesia, eu literalmente sentia-me naqueles lugares, mas era pouco, queria senti-lo, tocá-los, pisar neles, conhecer seus personagens, etc. A infância se foi, as responsabilidades chegaram e os sonhos foram arquivados.
Aos poucos, os sonhos foram voltando e tornando-se cada vez mais intenso e, aos 30 anos, vivendo uma rotina estressante na advocacia e na cidade grande, comecei a pensar que não poderia passar a vida sem viver aquele sonho, logo, resolvi vivê-lo e fazer dele meu novo estilo de vida, assim como fez Shakcleton e Amyr Klink, este, minha maior fonte de inspiração.
Assim, por aproximadamente um ano, planejei tudo e parti. Inicialmente para uma expedição de oito meses, entretanto, fui descobrindo novos caminhos e percebendo que desbravá-los me deixava cada vez mais feliz e a ideia de retorno deixava-me profundamente angustiado. Logo, fui me desprendendo do retorno e me apegando a possibilidade de novos rumos.
Comemoração – Assim, faço hoje um ano de expedição e ainda tenho mais um ano e meio. Minha filosofia é usar apenas a força de meu corpo como instrumento de propulsão, não poluindo nunca, me fortalecendo e despertando a admiração de muitas pessoas que conheço pelo caminho. Desta forma a Expedição Conectando vai se tornando a maior do país, vou aprendendo cada vez mais, me fortalecendo para o que ainda falta desta e pensando nas próximas.
Convivo com nossas origens: com Índios, Caboclos, Quilombolas, Pescadores, Ribeirinhos, Homens do Campo, etc. Com eles aprendo a importância da humildade, da solidariedade, percebendo que o que deveria impulsionar o mundo seriam os valores humanos e não os sociais, assim a única coisa que nos faria diferentes uns dos outros seria nossa impressão digital e nada mais.
Já pedalei mais de 7.000 quilômetros de Paraty (RJ) até o Parque Nacional da Amazônia, em Itaituba (PA), atravessei o Rio São Francisco nadando, surfei a pororoca em São Domingos do Capim (PA), remei pelos Rios Capim Guamá e Tapajós, num total de aproximadamente 1.000 quilômetros.
Carrego em meu Caiaque uns 40 quilos de carga, sendo a maioria comida. Agora estou entrando no Rio Amazonas contra a corrente, o que me dará muito trabalho e paciência até Manaus. Depois sigo pelo Rio Negro de Manaus até São Gabriel da Cachoeira, onde subirei o Pico da Neblina (mais alto do país, com 3.014m).
Retorno e sigo remando pelo Rio Negro até a fronteira da Venezuela onde pego Canal de Cassiqueira que liga o Rio Negro ao Orinicco. Desemboco neste e remo até o Delta no Mar do Caribe, num total de mais de 5.000 quilômetros de remadas por rios.
Do Delta do Orinocco, no Mar do Caribe, remo por mar de volta para o Brasil passando por Guiana Francesa, Suriname e Guiana até o Cabo Orange (extremo norte marítimo brasileiro) e daqui remo até o Chuí (extremo sul).
Mais informações sobre a viagem e os lugares que passei: expedicaoconectando.blogspot.com.
Este texto foi escrito por: Angelo Corso, especial para o Webventure
Last modified: outubro 22, 2010