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Expedições pelo Brasil: a Chapada dos Veadeiros no olhar de Maurício Marengoni

Redação Webventure/ Destino Aventura

Por do Sol - Estrada Alto Paraiso de São Jorge (foto: Arquivo Pessoal/ Maurício Marengoni)
Por do Sol – Estrada Alto Paraiso de São Jorge (foto: Arquivo Pessoal/ Maurício Marengoni)

Ano novo, viagem nova. Já havia algum tempo que eu estava planejando fazer uma viagem para a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e para o Deserto do Jalapão, no Tocantins. Quando resolvi fazer esta viagem, em julho de 2010, ocorreram alguns problemas e tive que adiar a viagem para Dezembro 2010/Janeiro 2011. A primeira coisa que fiz foi procurar guias nas livrarias que falassem destes lugares e, para meu espanto, não encontrei guia algum. Tentei a Internet e, embora existam diversos sítios que falam destes lugares, não encontrei informações que me auxiliassem a planejar esta viagem. Peguei então alguns guias antigos que eu possuía de passeios com 4×4 (o mais novo é de 2005) e retirei dali informações básicas, como o que ver em cada lugar, e peguei a estrada.

Para relatar esta viagem aos leitores do Webventure, vou dividir o artigo em duas partes, uma que trata da Chapada dos Veadeiros e outra que trata do Deserto do Jalapão. Esta é a primeira e vamos conhecer a Chapada dos Veadeiros.

Partimos de São Paulo sem muita pressa, no dia 26 de Dezembro, rumo à Chapada dos Veadeiros. O plano era fazer o trecho em dois dias (é possível fazer este trecho em apenas um dia, mas é muito cansativo: são 1.280 quilômetros em estradas nem sempre muito boas). Saímos de São Paulo com destino a Uberaba, Uberlândia, Catalão e, neste primeiro dia, dormimos em Cristalina (Pousadinha Reflexo e Tranquilidade). No dia seguinte, seguimos em direção à Brasília e depois para Alto Paraíso de Goiás, a maior cidade próxima à Chapada. Não preciso dizer que pegamos chuva pelo caminho nestes dois dias, porém, chegamos à Alto Paraíso de Goiás com tempo bom.

Ficamos hospedados na Pousada Paralelo 14, onde o proprietário Luiz nos deu uma orientação geral da Chapada e indicou os locais onde os guias são necessários e aqueles que poderíamos ir sem guia. Na verdade, eu poucas vezes utilizei um guia e das vezes em que utilizei a experiência não foi das melhores, mas pedi a ele para providenciar um guia para nós no 2º e 3º dias na Chapada.

Dia 1 Cachoeira do Macaquinho – Acordamos no primeiro dia e adivinhem: estava chovendo. Fomos até o CAT (Centro de Atendimento ao Turista) de Alto Paraíso, que fica na avenida principal da cidade e a funcionária nos disse que não tinha muita coisa a ser feita com aquele tempo e nos sugeriu ir fazer uma massagem. Eu não havia saído de São Paulo e rodado 1.280 quilômetros para fazer uma massagem e resolvi tentar me aventurar por uma trilha 4×4 que estava descrita de forma muito pobre num de meus guias.

Partimos na direção do povoado Bandeira e da Cachoeira do Macaquinho (é uma cachoeira onde diz que é preciso de um guia). No meio do caminho, acabou abrindo o sol e resolvemos seguir para a Cachoeira do Macaquinho, que possui indicações com placas a partir da GO-118. Chegamos até a cachoeira, que na verdade é um complexo com diversas cachoeiras, e havia uma placa indicando um valor de R$ 15,00 por pessoa para entrar, mas não havia pessoa alguma para cobrar a entrada.

Circulamos um pouco e descobrimos as placas indicando as cachoeiras. Seguimos a trilha, que tem aproximadamente uns dois quilômetros, e fomos parando nas diversas quedas ao longo do caminho. O complexo de cachoeiras tem um visual muito bonito e o banho na Cachoeira da Caverna é muito refrescante, porém a trilha não é para qualquer um e exige algum esforço físico, principalmente nos dois quilômetros de volta.

Saímos de lá e tentamos seguir rumo à Cachoeira do Macacão (alias Macaquinho e Macacão são os nomes de dois rios da região). Diferente da Cachoeira do Macaquinho, não há indicação alguma de como chegar lá (já sabíamos que era necessário um guia para esta cachoeira também). Fomos perguntando e eventualmente chagamos na entrada da fazenda onde está a Cachoeira do Macacão (o valor da entrada é de R$ 10,00 por pessoa e, desta vez, havia uma pessoa para cobrar a entrada).

O problema é que já eram 6h da tarde e o caminho é realmente off-road (tivemos que atravessar três riachos e um rio para chegar na entrada da fazenda). Da porteira da fazenda ainda havia, segundo o porteiro, uns 30 minutos de carro e mais uns 20 de caminhada. Abortamos e retornamos para Alto Paraíso, onde fomos jantar no restaurante do Waldomiro (caminho de São Jorge), no qual pudemos ver no caminho o único por do sol na Chapada. O prato chefe do restaurante é a matula (um cozido de feijão com carne e paçoca de carne seca), muito saborosa, mas um pouco pesada. Como não havíamos almoçado, acabou funcionando bem. Voltamos para a pousada para uma boa noite de descanso.

Luiz, o dono da Pousada Paralelo 14, não conseguiu arrumar um guia para nós, então seguimos para São Jorge onde fica a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV). A estrada para São Jorge esta asfaltada até o km 22 e os outros 14 quilômetros são em estrada de terra em condições ruins. Chegamos à entrada do parque perto de meio dia, último horário para entrar no parque (outro detalhe é que não é permitida a entrada no parque sem um guia, e naquele momento não havia guia algum disponível – achei meio estranho esta política do parque, mesmo porque eu estava com um GPS com a trilha para os Saltos, as cachoeiras principais do local).

Um pouco depois chegaram três cariocas (Giovanna, Rodrigo e Fábio) com uma guia (Aurati) e acabamos entrando com eles para percorrer esta trilha que tem aproximadamente dez quilômetros de ida e volta, passando pelo Salto 1, Salto 2 e corredeiras do Rio Preto. O Salto 1 é uma das cachoeiras mais bonitas que já conheci. O local do Salto 2 é ótimo para banho e as Corredeiras são perfeitas para uma hidromassagem.

Após percorrer toda a trilha, fomos almoçar no restaurante da Nenzinha, em São Jorge, com uma comida por quilo de excelente qualidade. Após o almoço e após ter pegado muita chuva na trilha, resolvemos ir às termas do Morro Vermelho, uns 15 quilômetros depois de São Jorge por estrada de terra (entrada a R$ 10,00 por pessoa).

As termas são locais com água quente natural (38 a 40 graus) e algumas pousadas, inclusive, abrigam essas termas. Porém, existem duas considerações a serem feitas: estava chovendo e estava frio. Eu particularmente achei o local ruim, piscina de pedra sem muita infra-estrutura (eles dizem que o IBAMA não permite melhorias, porém, parece estranho: uma vez que já está desmatado, não vejo porque não ter um local melhor para atender aos turistas).

Combinamos com nossos amigos do Rio e resolvemos compartilhar a guia o resto da semana. A idéia neste dia era irmos até as cachoeiras do Rio dos Couros, porém, novamente, a chuva nos encontrou no meio do caminho e não havia como seguir até o Rio dos Couros (o Celta de nossos amigos não conseguia seguir pela estrada). Abortamos e seguimos então para a Cachoeira das Loquinhas (entrada R$ 10,00).

A Cachoeira das Loquinhas também é um complexo com diversas cachoeiras bem próximo a Alto Paraíso de Goiás. As cachoeiras são pequenas e ficam em um pequeno canyon onde o sol (quando aparece) bate nas águas da Loquinha entre 11h00 e 14h00. O caminho tem uma estrutura muito boa e é de fácil acesso para qualquer pessoa. A última cachoeira é a maior e a que possui o maior poço para banho.

Saimos da Loquinha e fomos almoçar no restaurante Jatô em Alto Paraíso, uma comida por quilo bem honesta. Logo em frente tem um café de ótima qualidade, porém, o atendimento é um pouco demorado.

Após o almoço, fomos para a Fazenda São Bento para conhecer as cachoeiras mais famosas de Alto Paraíso de Goiás: Almécegas I, Almécegas II e São Bento. Almécega quer dizer tanque pequeno que recebe a água da chuva. As cachoeiras são bonitas e merecem a visita (entrada na fazenda de R$ 15,00 por pessoa). Chega-se de carro bem próximo (Almécegas I com dois quilômetros de caminhada ida e volta, mas há uma estrada que pode ser usada por pessoas mais idosas, e Almécegas II cerca de 500m ida e volta). A cachoeira de São Bento fica logo na entrada da fazenda e a caminhada é de cerca de 400m ida e volta.

Neste dia, fomos jantar numa pizzaria (Cantinho das Delicias). A pizza é feita em forno a lenha, muito boa, porém o serviço da pizzaria em geral deixou a desejar. Eles perderam a nossa comanda e esperamos mais de uma hora para comer uma pizza.

A outra trilha que pode ser feita no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é a trilha dos Canyons. Neste dia (31 de Dezembro), fomos conhecer os Canyons. Quando chegamos ao parque, descobrimos que por causa das chuvas a trilha do Canyon 1 estava fechada, o Canyon 2 estava muito cheio, mas poderíamos chegar até ele. Seguimos para o Canyon 2, porém, não foi possível ver muita coisa, pois o Rio Preto estava muito cheio.

De lá, fomos para a cachoeira das Carioquinhas que também estava muito cheia. A trilha total tem dez quilômetros ida e volta. Depois da caminhada, fomos almoçar novamente no restaurante da Nenzinha e depois fizemos uma caminhada por São Jorge, já que a chuva havia dado uma trégua. Depois disso, voltamos para nossa pousada onde teríamos uma ceia para depois irmos curtir a passagem de ano em Alto Paraíso de Goias.

A passagem da meia noite teve um show de fogos de cerca de 15 minutos e logo depois uma apresentação de rock and roll ao vivo.

Neste dia, a Giovanna não quis nos acompanhar e resolvemos ir às cachoeiras do Rio dos Couros em meu carro. Chegamos ao Rio dos Couros exatamente na hora que começou a chover, mas seguimos em frente.

Infelizmente, porque o rio estava muito alto, somente pudemos visitar as três primeiras cachoeiras Para visitar as outras duas é necessário atravessar o rio, o que não era possível neste dia. A trilha é difícil e o acesso para a terceira cachoeira exige algum preparo físico, porém, mesmo com chuva, o visual é de tirar o fôlego.

Na volta da terceira cachoeira, a chuva deu uma trégua e o sol apareceu por alguns minutos, o suficiente para tomarmos o primeiro banho de rio de 2011, numa corredeira do Rio dos Couros. A estrada estava em condições bem ruins na volta e um veículo comum teria dificuldade de percorrer o trecho.

Voltamos para a pousada, descansamos um pouco. À noite fomos para as apresentações musicais da festa de final de ano em Alto Paraíso de Goiás.

A cidade de Alto Paraíso de Goiás é um tanto estranha. Mesmo com as pousadas mais ou menos cheias, alguns restaurantes e a sorveteria da cidade não estavam funcionando à noite. Além dos restaurantes que mencionei, na primeira noite fomos ao restaurante Massa da Mamma, um restaurante italiano que tem um preço bom para os pratos individuais, mas a lasanha deixa a desejar. Nos outros, eu já fiz os comentários necessários.

Com relação à pousada Paralelo 14, é um local bem agradável, fica fora do centro da cidade (cerca de dois quilômetros), mas ao lado da rodovia GO 118. O café da manha é muito bom e o Luiz nos atendeu muito bem. A ceia servida no Reveillon estava excelente e fomos convidados ainda para os “left overs” no almoço do dia 1. Pra mim, em particular, o colchão era muito fino e como sou relativamente grande, a cama não era assim tão confortável. Nesta época do ano, devido as chuvas, a roupa demora a secar e tivemos que utilizar os serviços de secadora da pousada (R$ 3,00 por peça) e lembrar ao Luiz da necessidade de se trocar as toalhas de banho dos chalés.

Tanto em Alto Paraíso de Goiás como em São Jorge é preciso ter um carro para poder conhecer a maioria dos locais interessantes da Chapada dos Veadeiros. A maior parte das atrações fica de 50 a 100 quilômetros de Alto Paraíso, além disso, é preciso ter algum preparo físico, pois não se chega de carro até os locais que devem ser vistos: é preciso caminhar por trilhas de 4 a 11 quilômetros (ida e volta), nem sempre fácil de passar, com subidas por pedras e travessias de riachos.

Clima – Os pontos turísticos devem ser conhecidos, mesmo com chuva, que é meio que típica nesta época do ano. O visual, obviamente, muda. As cachoeiras estão mais cheias e o visual é mais bonito, porém as caminhadas são mais difíceis e nem sempre é possível tomar banho nas cachoeiras. Entre Maio e Outubro, as cachoeiras têm menos água e os banhos são mais fáceis. O clima é quente quase o ano todo e de noite esfria. Não fomos ao Vale da Lua (que é um passeio clássico da Chapada), pois sempre que passávamos em frente o local já estava fechado, mas é uma atração local que, segundo a nossa guia, deve ser visitada.

É possível ainda conseguir alguns “tracks” de GPS na Internet. Eu levantei alguns que podem ajudar a chegar a alguns destes locais sem o uso de um guia. Nada contra o guia, a Aurati que nos guiou durante quatro dias fez um ótimo trabalho (o custo do guia na região é de R$ 100,00 por dia para um passeio específico) e aconselho a contratá-la para acompanhá-los no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

Existem outras atrações na região, mas, por causa da chuva e do tempo que reservamos para esta parada (cinco dias) não foi possível conhecê-las, mas pudemos ver as principais atrações do local. Um último detalhe que eu não consigo entender: a maioria dos locais particulares cobra entrada, alguns oferecem uma estrutura pelo valor cobrado (sinalização, banheiros, trilhas cuidadas, etc.), outros não oferecem coisa alguma.

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros não cobra entrada e não entendo porque, eles possuem funcionários, veículos de apoio, trilhas bem cuidadas, enfim, deveria cobrar sim, e o valor cobrado ser utilizado na manutenção do parque. É isso o que ocorre em qualquer parque nos Estados Unidos e na Europa, porque não cobrar aqui?

Meu nome é Maurício Marengoni, sou professor universitário, tenho 51 anos e fiz esta viagem em uma Mitsubishi Pajero TR4, sempre com minha companheira Karla. Para maiores informações sobre a viagem e dicas, por favor, entre em contato pelo e-mail: mmarengoni@hotmail.com.

Este texto foi escrito por: Maurício Marengoni

Last modified: fevereiro 7, 2011

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