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As expectativas do piloto de caminhão André Azevedo para o Dakar

Redação Webventure/ Dakar, Offroad

André Azevedo (foto: Arquivo Webventure)
André Azevedo (foto: Arquivo Webventure)

O experiente piloto André Azevedo vai estar no comando de um caminhão Tatra no Dakar de 2012. Ele conversou com o Webventure sobre as mudanças no percurso, a falta de etapas no Brasil e seus principais oponentes.

O que você achou da mudança de percurso do Dakar?
O lema da organização é sempre mudar o roteiro e ter novidades. Esse ano, se não me engano, o Peru é o 27º país que entra no percurso do Dakar. Isso é um dos grandes chamarizes da competição: mudanças de rota, para não privilegiar os mais experientes. Muitos chilenos e argentinos vão ter privilégios, mas a maioria não terá, então, acho isso válido. O que me deixa apaixonado pelo rali é essa novidade, de poder conhecer um local pela primeira vez, em termos de competição. Um dos quesitos do sucesso é saber gerenciar essa novidade.

Qual você espera que seja o trecho mais difícil?
Serão três. Em um deles, nós já passamos em anos anteriores, na região de San Rafael, centro da Argentina. Em Fiambalá tem um lugar chamado “as dunas brancas”, muito difíceis e quentes com mais calor que no Deserto do Saara. Depois, vem Copiapó, no Chile, onde a gente faz um percurso em laço, depois tem um dia de descanso e largamos para Antofagasta. Ali, na região de dunas, é difícil. No Peru eu já estive por duas vezes, competindo o Rally dos Incas nos anos 90, e me surpreendeu a quantidade de areia e de dunas que tem nas regiões de Ica e Nazca.

Quais serão os principais oponentes na sua modalidade?
Os principais oponentes ainda são do time Kamaz, que vem com quatro caminhões. O que nos dá certa tranquilidade é o fato de que os pilotos mais experientes, o Thiaguinho e o Kabrov, vencedores de nove das últimas 11 edições do Dakar, não estarão competindo. Também tem o time holandês, que vem com caminhões das marcas Iveco, DAF e Ginaf. O ex-campeão, que quebrou a hegemonia da Kamaz, Hans Stacey, é quem pilota o Iveco da Holanda. Tem o Ales Loprais, que no ano passado ganhou duas das 12 etapas. São equipes grandes e o nosso objetivo primordial é terminar. Nas duas últimas edições, por causa de quebra mecânica, eu tive de abandonar. Em 2009, na estréia do Dakar latino, eu consegui o sexto lugar, até agora o melhor resultado brasileiro. Vou tentar chegar entre os top-10 na categoria caminhão, porque esse ano a briga novamente vai ser de pesados.

Seria bom ou ruim o Dakar voltar para a África?
Eu acho que o formato ideal do rali vai existir quando o continente africano estiver com segurança política e estabilidade para podermos atravessá-lo novamente. Aí ficaria alternando entre América Latina e África, acho que isso seria o ideal. Porque dificuldade técnica o pessoal encontra tanto aqui quanto no Saara. Mas, ao fazer o Saara você tem uma pressão psicológica um pouco diferente, pela distância das coisas, pela navegação e pela estratégia de corrida. Lá não tem uma [rodovia] Pan-Americana do seu lado, não tem o Pacífico, nem os Andes, não tem referência. Só existem os tuaregues e, espero, nunca mais encontrar homens-bomba pelo caminho. Aqui na América do Sul tem fatores que ajudam muito no rali, como a segurança no resgate de acidentados, com hospitais muito bons e próximos. Quando o rali era na África, os pilotos tinham de serem levados para a Europa ou para as Ilhas Canárias. Além disso, a quantidade de luz solar aqui é muito maior que na África, porque lá é inverno [nesse período do ano]. Na América Latina a possibilidade de acidentes por causa do escuro é menor.

E o que dizer sobre não ter acontecido etapas no Brasil em todo esse período?
Esse boato é antigo. Nós mesmos fazemos um lobby junto à organização desde 2008, quando cancelaram o rali em Portugal. Existe potencial para, por exemplo, fazer uma largada em Porto Alegre, seguindo pela rota normal. De fato, duas etapas no Brasil é uma coisa muito viável. Lá no Sul do país há muitos lugares onde se pode fazer uma etapa. Outra possibilidade é uma chegada em Brasília: sairia da Argentina, passando pelo Peru e atravessando um pedaço da Amazônia, do Pantanal ou do Cerrado brasileiro, como nos Sertões.

Agora, precisa ter uma compreensão maior do governo brasileiro e dos lugares por onde a prova poderia passar. Os governos municipais, estaduais e federal precisam dar uma ajuda. Nesse “rabo de cometa” de Copa do Mundo e Olimpíadas, tem muito dinheiro sendo investido no Brasil e é bom que tenha outro evento internacional. Mas, nesse momento talvez o governo não esteja tão antenado para a oportunidade de haver um Dakar largando ou chegando no Brasil. Talvez, depois que passarem os jogos, a gente consiga aproveitar essa fama do país e trazer o rali para cá.

SOBRE O DAKAR 2012
O Rally Dakar chega a sua 33ª edição, mas é apenas a quarta prova na América do Sul. Em 2012 a competição irá atravessar o continente de leste a oeste, saindo de Mar Del Plata, na Argentina, passando pelo Chile e terminando em Lima, no Peru. Até 2011, as edições latinas do Dakar eram em formato de circuito ou laço (quando o percurso de uma etapa cruza com o de outra), saindo e terminando em Buenos Aires, capital da Argentina. Com a mudança, a prova ficou cerca de 500 quilômetros mais curta.

Este texto foi escrito por: Pedro Sibahi

Last modified: dezembro 26, 2011

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