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A aclimatação do corpo para escaladas em altas montanhas


Aclimatação: Paulo e Helena em escaladas que serviram de treino antes da subida do Cho Oyo em 2000. (foto: Helena Coelho)

Praticar escalada em altitude requer preparo técnico que envolve o domínio de gramponear, de usar adequadamente as piquetas clássica e técnica. E todos os outros itens de segurança normal em qualquer escalada, tais como, saber encordar, dar segurança, fazer uma boa base para apoio, saber colocar um prego de gelo.

Observar as condições do terreno, do gelo, da neve, dos locais de prováveis avalanches, de onde há gretas. Verificar o roteiro da escalada, a condição do tempo. Usar as botas e vestimentas adequadas à temperatura e à altitude.

Porém, uma grande diferença com as escaladas em baixa altitude é a necessidade de aclimatação, ou seja, acostumar seu corpo à altitude, ao ar rarefeito. Fazer uma boa aclimatação é talvez o fator de segurança mais importante que temos numa escalada de alta montanha.

Essa aclimatação é que fará a diferença para que se pense com clareza no próximo passo que vai dar. Para que a sua segurança e a de seus companheiros não seja comprometida por falhas nas tomadas de decisão.

Uma aclimatação bem efetuada no acampamento base, que, em geral, não ultrapassa os 5.000 metros de altitude, é superimportante para as etapas posteriores da escalada, ou mesmo, para a escalada alpina se esse for o estilo adotado. É um processo individual, um pouco demorado, que leva normalmente de uma a duas semanas.

Regra fundamental – Uma regra básica é não subir muito alto de forma rápida. Vá devagar, pelo menos nessa fase. Observe-se. Suba a uma nova altitude, aclimate-se. Aí recomece o processo para uma outra nova altitude.

Durma mais baixo do que a altitude alcançada durante o dia. Ao atingir o objetivo do dia, monte o acampamento, descanse um pouco, e se estiver bem, suba mais uns 300, 400 metros só para ver o terreno do dia seguinte, sem carga, e volte para o seu acampamento. Durma com o tórax mais elevado, para facilitar a sua respiração.

Quando subir uma diferença de 1.000 metros de altitude, dizem que o ideal é passar aí duas noites, antes de prosseguir. Nessa fase de aclimatação, a movimentação diária é importante, mas, não é recomendável entrar em pulsação acelerada, o ritmo de batimentos não deve ser intensificado. Ou seja, exercitar-se sim, porém, sem querer marcar recordes. Vá com calma, muita calma.

Depois de passar algumas noites nos acampamentos de altitude, o ideal é voltar para descansar uns três dias no acampamento base; local que deve ser bem instalado, com conforto, para passar aí além dos dias de descanso, os dias em que houver possibilidade de mau tempo, ou aqueles em que você tiver que recuperar algum problema de saúde.

Consumir bastante líquido não vai influenciar na aclimatação, mas estará ajudando na circulação periférica, reduzindo assim, os riscos de congelamentos e evitando desidratação.

Em altitudes extremas, o esforço físico normalmente é muito grande, por isso, deve-se estar bem preparado para não precisar contar com a ajuda dos parceiros. Eles podem não agüentar. Mas, será legal que você esteja bem aclimatado e em condição de poder ajudar alguém se houver necessidade.

A insistência nessa questão de aclimatação vem a propósito da segurança em alta montanha; o objetivo é apenas um alerta para que não se tenha esta questão como algo intransponível e nem como uma barreira que você ultrapasse sem prestar atenção.

Aclimate-se bem! Boas caminhadas e escaladas!

Este texto foi escrito por: Helena Coelho, especial para o Webventure