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A alemã Freya Hoffmeister começa em setembro volta da América do Sul em caiaque solo


Freya e a bagagem que levou na viagem da Austrália (foto: Arquivo pessoal)

Ela já foi ginasta, fisiculturista e paraquedista. Depois, resolveu se dedicar ao mar e abraçou o caiaque oceânico, fazendo história na modalidade: em 2007 bateu recorde de volta mais rápida na Islândia com um parceiro; no ano seguinte, foi a primeira mulher a completar sozinha o contorno da Ilha Sul da Nova Zelândia; e em 2009 fez o mesmo na Austrália. O próximo plano é ser a primeira pessoa a dar uma volta completa na América do Sul. Pode parecer muito, mas Freya Hoffmeister, alemã da cidade de Husum, acha que não. Ela quer desafios cada vez maiores e nem se preocupa com a dureza da aventura: “eu não estou fazendo nenhum tipo de preparo físico específico para essa viagem, meus anos de treinamento já bastam”, conta a canoísta, que esteve em São Paulo nesta terça (22) para divulgar a viagem.

Os grandes problemas, segundo Freya, então no estado psicológico e nas barreiras linguísticas. Ela fala um ótimo inglês, mas nada de português ou espanhol, e diz que “essa será uma das maiores dificuldades nas paradas”, ainda mais porque pretende conhecer melhor a cultura dos lugares visitados. Além disso, para passar muitos meses remando, a força de vontade é um combustível que não pode faltar. Mas, “basta alongar várias vezes ao longo do dia e tirar algumas sonecas para melhorar o estado mental”.

Na viagem da Austrália, a alemã passou por grandes apuros com animais, encontrando com crocodilos, serpentes marinhas venenosas e tubarões. Um destes até mordeu o caiaque na costa norte do continente, obrigando-a a fazer uma parada para conserto. Agora Freya espera menos encontros com bichos, mas sabe que tubarões podem aparecer. Outro obstáculo sempre presente são as ondas, principais responsáveis por atrapalhar a entrada e a saída das praias, mas com isso Freya está bem acostumada. Ela domina quase todas as 35 técnicas de rolamento, utilizadas para desvirar o caiaque na água sem precisar sair do assento, e ainda criou movimentos próprios.

Ponto de chegada e partida: Buenos Aires
A aventura começa em setembro, partindo de Buenos Aires, na Argentina, e será dividida em três etapas de oito meses cada, separadas por quatro meses de descanso. Primeiro ela segue sentido horário até Valparaiso, no Chile, depois faz o caminho para Georgetown, na Guiana, e, por último, segue de volta a Buenos Aires. Ao todo serão 12 países e 24 mil quilômetros, percorridos ao longo de três anos em uma embarcação de 18 pés (5,5 metros) da marca Epic, com design balanceado entre velocidade e resistência. Equipamentos como GPS, celular por satélite e carregador solar também estarão na bagagem, junto com muitas nozes, barras de cereais e macarrão para as refeições.

O único trecho no qual Freya estará acompanhada será a costa chilena, por determinação das autoridades do país, relativa à segurança. Ela afirma que se sente confortável de fazer tudo sozinha, mas não foi possível negociar com o comando naval do Chile. Então, ela terá de ir acompanhada de dois canoístas argentinos desde o Cabo Horn, no extremo sul do continente.

Quando questionada sobre as condições climáticas no fim do continente, ela admite que “lá os ventos são muito traiçoeiros, podem mudar de direção três ou quatro vezes no mesmo dia, indo de zero a 40 nós”. Entretanto, ela não se preocupa com o frio, pois estará usando roupas secas, que são totalmente vedadas. No Brasil, Freya terá o apoio de Christian Fuchs, colunista Webventure e idealizador do centro de canoísmo oceânico Aroeira Outdoor, que ficou de fazer contatos com esportistas do país, caso ela precise de apoio. A alemã também conta com o patrocínio da marca Thule, especializada em suportes para equipamentos esportivos.

Quando deu a volta na Austrália, Freya estava em uma corrida para bater o antigo recorde de circum-navegação do continente, realizado em 1982 por Paul Caffyn, que levou 361 dias. Ela conseguiu ultrapassar seu antecessor com 29 dias de vantagem, mas agora busca outro tipo de experiência. Seu blog (http://qajaqunderground.com/freyas-blog/) será atualizado diariamente com as histórias de viagens, tanto da natureza quanto das cidades que visitar. Ela conta que “imaginava a América do Sul como uma coisa só, mas as pessoas têm dito o contrário, então estou ansiosa para me surpreender”.

Este texto foi escrito por: Pedro Sibahi