Um fator determinante da estratégia para uma Corrida de Aventura é a alimentação. O tipo de comida a levar, quanto levar, qual o intervalo entre as refeições, etc devem ser estudados antes do início da competição, sempre levando em conta as características da região onde se desenvolverá o evento.
O corredor de aventura, em geral, não se alimenta corretamente. Em corridas sem o auxílio da equipe de apoio é muito comum passar por pequenos vilarejos e pedir comida aos habitantes locais. Além da integração com a comunidade local e troca de experiências, a possibilidade de comer comida caseira, quente e fresca agrada mais. Tal comida é caseira para os nativos, os atletas não estão habituados aos seus costumes e, por vezes, podem passar mal.
Durante o Eco Challenge 2002, nas Ilhas Fiji, os moradores locais, encantados com o evento em sua região, convidavam os atletas e ofereciam-lhes hospitalidade e comida. Minha equipe foi comer na casa de uns nativos, que nos ofereceram peixe de água doce, carne e verduras cozidas. Um cardápio maravilhoso que escondia uma surpresa desagradável: fui infectado por um parasita endêmico da região.
Culpa de quem? – Foi uma fatalidade e, se existe um culpado, fui eu mesmo porque quis experimentar a culinária local. A organização, se detalhista, poderia ter informado a existência do parasita na região para que os atletas tomassem os devidos cuidados na hora da alimentação. O fato de omitir esta informação não a torna culpada pelo que me aconteceu: como corredor de aventura e expedicionário, poderia ter calculado estes riscos.
Será que vale a pena adotar a estratégia de comer nos vilarejos, diminuindo o peso e volume das mochilas ao deixar de levar alimentos? Eu acredito que não. Durante uma corrida de aventura forçamos o funcionamento de nosso corpo ao máximo e precisamos repor nossas energias nos alimentando adequadamente. Ao invés de comida caseira, devemos nos acostumar a comer alimentos industrializados. Se a química não os faz tão saborosos, ao menos mata inimigos invisíveis aos nossos olhos. Como as competições passam por regiões inóspitas e pouco exploradas, a quantidade de microorganismos é enorme e a chance de complicações também. Por isso, é mais seguro alimentar-se de comidas industriais, diminuindo a chance de infecções.
Conseqüência – Por um descuido na alimentação, somado ao desgaste da competição, passei mais de 2 meses na UTI. Se não tivesse me alimentado com comida local, hoje estaria deglutindo naturalmente, saboreando deliciosos pratos e não me alimentando através de uma sonda. Mas sou uma pessoa obstinada e tenho apenas uma preocupação durante as 24 horas do meu dia: recuperar-me o quanto antes.
Acho que já passei a fase crítica, quando fui desacreditado pelos médicos que me assistiam e contava somente com a crença de Deus, minha esposa, meus filhos, meus pais e amigos mais próximos, de que iria melhorar. Estou recuperando meus movimentos e sentidos aos poucos. Quero agradecer, novamente, as mensagens positivas de incentivo que recebo diariamente. Alimento-me desta energia para encontrar força e determinação para que minha recuperação seja total.
Este texto foi escrito por: Alexandre Freitas, especial para o Webventure