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A atleta Nora Audrá crê que todos podem aprender a navegar

Redação Webventure/ Corrida de aventura

O namorado Ian Edmond e a sua filha (foto: Divulgação)
O namorado Ian Edmond e a sua filha (foto: Divulgação)

Em 22 e 23 de julho, Eleonora Defilippi Audrá, a Nora, ministrou a 10ª edição do curso Adventure Camp de orientação e estratégia em corridas de aventura, em São Bento do Sapucaí (SP). Nos dois dias de aula, a navegadora da Atenah apostou todas as fichas em exercícios práticos, dinâmicas de grupo e em simulados de trekking diurno e noturno e em 30 km de mountain bike, nos quais os alunos receberam mapas e precisaram encontrar postos de controle durante o trajeto.

A atleta de 28 anos adotou essa técnica porque acredita que a prática é fundamental para a navegação. “Os alunos aprendem muito mais na prática, por isso que eu a enfatizo durante o curso”, arremata. A melhor mulher da multiprova Land Rover G4 Challenge 2006 comandou 14 participantes e fez questão de destacar a importância do trabalho em grupo e do planejamento para uma equipe de corrida de aventura.

Numa conversa prévia com o Webventure, Nora explicou que a Atenah está sem patrocínio, mas que, apesar disso, segue firme e forte. Alguns podem ver a ausência de vitórias da equipe paulistana como um bad day hair – que freqüentemente ocorre no universo feminino – no entanto, outros podem achar que o time está escondendo o jogo para despontar no Ecomotion Pro 2006. No ano passado, as meninas ficaram com a quarta colocação no ranking geral e foram o segundo melhor time brasileiro da prova. A maior corrida de aventura da América Latina acontecerá de 9 a 19 de novembro, no estado do Rio de Janeiro.

Porém essa corredora de aventura não vive apenas de competições, Nora contou à reportagem que no final do ano irá se mudar para Nova Zelândia. A atleta justificou a mudança corada, contudo, de forma rápida e direta: “Vou morar com o meu namorado, Ian Edmond, da Team Merrell/Wigwam”. Nora conheceu o atual “noivo” depois da última edição do Ecomotion, nas Serras Gaúchas, quando a equipe de Robyn Benincasa conquistou o segundo lugar da disputa.

A entrevista – Mas, calma, a faceta navegadora de Nora ainda existe! Em entrevista ao Webventure, a atleta destrinchou o seu curso, deu uma dica importante de orientação às equipes novas, listou equipamentos fundamentais para uma boa navegação e disparou a máxima: “Querendo, qualquer um pode navegar!”.

Webventure – A bússola e o mapa são os elementos fundamentais para a navegação. Qual é o modo mais fácil de se familiarizar com eles?
Eleonora Audrá – Praticando, pois dessa forma o uso fica automático. Se você não tem essa familiaridade, fica mais difícil. Quem não é intimo, precisa lembrar de que o vermelho da bússola aponta para o norte.

Com o mapa é a mesma coisa, é necessário se familiarizar praticando, observando, estudando e tentando identificar as referências e os relevos nas cartas topográficas. Então, o segredo é praticar.

Webventure – Como as dinâmicas auxiliam na formação de um navegador?
Nora – Elas são uma forma dos alunos realizarem uma transferência do que um bom navegador necessita para ter sucesso. Tento propor dinâmicas que englobem o trabalho em equipe, o planejamento, a tomada rápida de decisões, os acertos e os erros.

Por exemplo, se você começa a fazer uma dinâmica com um objetivo e não dá certo, vai continuar batendo cabeça da mesma forma ou vai parar, pensar, analisar e reiniciar com uma nova estratégia?

É a mesma coisa na navegação, você precisa de trabalho em equipe e planejamento. Quando você pega um caminho errado deve continuar nele achando que ele se acertará mais para frente ou vale mais a pena voltar até o ponto correto e tentar achar a rota certa?

Webventure – O curso aborda muito a parte prática da orientação. A teoria, digo a leitura prévia de apostilas ou livros, não faz falta?
Nora – Nós temos uma apostila que faz com que os alunos pesquisem o que falta. Há muitas informações que eu não consigo passar durante o curso pois existe muita teoria. Certamente, se eles tivessem lido a apostila antes, algumas dúvidas poderiam ter sido sanadas em aula.

Mas é complicado disponibilizar o material didático antecipadamente. Os alunos teriam de buscar a apostila na Adventure Camp ou precisaríamos enviá-la. É até uma nova forma de pensar como disponibilizar essa bibliografia antes. No entanto, não acho que é essencial, ajudaria, pois eles, talvez, tivessem menos dúvidas. Porém, creio que eles aprendem muito mais na prática, por isso que eu a enfatizo durante o curso.

Webventure – Como uma equipe novata deve escolher o seu navegador?
Nora – Primeiro, a navegação está totalmente relacionada à confiança. Segundo, ao meu ver, um time novo deve contar com dois atletas com noções de orientação. Isto porque, durante a prova, às vezes, a pressão psicológica e a vontade de dar o máximo de si podem atuar contra você.

Às vezes, o esforço físico é tanto que o raciocínio acaba sendo prejudicado. Por isso, acho importante haver duas pessoas para um dar suporte ao outro.

Na hora da escolha, há dois fatores. Primeiro, o navegador deve se sentir confortável e confiar em seu taco. Segundo, o competidor precisar querer orientar e o grupo precisa confiar na navegação e na pessoa. O fato de um atleta se sentir confiável, confortável e confiante para orientar já é um grande passo.

Webventure – De que forma um atleta percebe que não tem vocação para orientador?
Nora – Quando ele é muito distraído, não gosta observar as referências para localizar no mapa e não tem interesse. Se a pessoa é interessada em buscar, perguntar e pesquisar, com certeza, ganhará o conhecimento e navegará.

Para mim, a partir do momento que se quer aprender, qualquer um pode navegar. O competidor precisa ter a disposição de acertar, errar, pesquisar e olhar.

Se a pessoa prefere abaixar a cabeça e fazer força, não deve navegar. Ela pode ajudar a equipe de outras maneiras como carregar o peso do navegador e do resto do time.

Webventure – Qual é a diferença entre a navegação para trekking, mountain bike e canoagem?
Nora – É a velocidade que se tem de orientar. Durante um trekking ou uma corrida, as referências vêm com menos rapidez do que na bicicleta. Na mountain bike, você se locomove muito mais rápido, logo a orientação precisar ser muito dinâmica.

Você não pode parar a bicicleta toda a hora para olhar o mapa, o atleta precisa criar o hábito de navegar em movimento e rápido. Numa bike, pode-se chegar a 30, 40 km/h e as referências passam muito mais rápido.

Na canoagem, dependendo do lugar onde se navega, é mais fácil. Num rio, você só precisa descer. Se está numa represa à noite e não se tem referências do visual, precisa usar mais o azimute e a noção de tempo. No trekking, você consegue ter mais referências a partir do visual, consegue ter noção do seu ritmo, sabe que corre “X” quilômetros no asfalto, anda “Y” na trilha, você tem uma média.

Já, na canoagem, você pode ter noção da velocidade que você rema, mas se pega um vento contra, se o seu companheiro não está rendendo, se a represa ou o mar estão mexidos não dá para ter uma média de velocidade, o que pode atrapalhar a navegação.

Resumindo, na bike, a orientação é rápida e o odômetro lhe ajuda a dizer quanto você andou. No trekking, é uma navegação que se usa bastantes referências de relevo e o conhecimento do ritmo de sua equipe. E na canoagem, a bússola é muito utilizada.

Webventure – E a semelhança?
Nora – A atenção, a concentração e a bússola. A bússola nunca mente, confie sempre nela.

Webventure – Quais são os equipamentos ideais para a orientação?
Nora – Uma bússola transferidora com óleo. Ela pode ser utilizada no duck, na bike e no trekking. O óleo deixa a agulha mais livre para navegar e a impede de travar nas trepidações.

Tenha um bom porta-mapa ou proteja bem a carta. Durante uma corrida, pode chover, o mapa cair na água, o atleta ter de atravessar um rio ou encarar uma perna de natação. Se a carta rasga ou molha, informações importantes podem ser perdidas.

Eu sempre uso um back up, passo papel contac transparente nas cartas antes de colocá-las nos porta-mapas. Pois, às vezes, eles estão furados e você não sabe. Para um navegador, o mapa é como se fosse uma bíblia, o nosso documento mais importante, sem ele a gente perde o caminho e até mesmo a prova.

Uma boa prancheta de bike para ter mobilidade, segurança e rapidez. Com ela, você consegue ficar com as duas mãos no guidão, se mantém seguro na bicicleta e não precisa parar e perder tempo para olhar o mapa.

E uma head lamp com uma boa luz. Às vezes, você está navegando à noite e precisa encontrar referências longe e sem uma boa head lamp, não consegue vê-las.

A 11ª edição do curso Adventure Camp de orientação e estratégia em corridas de aventura está prevista para setembro, mas a data exata e a localidade não foram definidas pela organização. Para mais informações sobre o curso, acesse www.adventurecamp.com.br.

Este texto foi escrito por: Debora de Lucas

Last modified: julho 31, 2006

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