André Mirsky escreve a partir de hoje uma coluna sobre o Team ABN Amro (foto: Divulgação/ Team ABN Amro)
André Mirsky foi um dos selecionados para o ABN AMRO 2, mas não pode participar da Volvo Ocean Race por motivos pessoais. Agora o brasileiro escreve uma coluna comentando cada detalhe da mais tradicional regata de volta ao mundo.
Hoje foi um dia em que o quadro começou a mudar. Os barcos que até o inicio da noite de ontem haviam largado em Vigo e seguido praticamente na direção Sudoeste, nas ultimas 24 horas começaram o jogo tático. O Brasil 1, que atualmente aparece na frente, foi o primeiro a rumar ao sul, em direção ao próximo “gate”, a Ilha de Fernando de Noronha.
Essa tática lhe valeu a liderança mesmo andando com ventos mais fracos e velocidade menor, foi assim que os comandados de Torben Grael conseguiram se destacar um pouco do pelotão. Isso não quer dizer que a vantagem seja significativa, muito pelo contrario, nada está definido, pois os barcos do TEAM ABN AMRO e o Ericsson estão apostando numa melhor condição de ventos mais a oeste o que, por muitas vezes em edições anteriores, mostrou ser a melhor opção.
E agora? – Na minha avaliação essa perna é dividida em algumas etapas importantes: a primeira delas foi a largada, a segunda, a que a flotilha vive agora é a aproximação dos Doldrums (zona equatorial de pouquíssimos ventos) onde cada equipe procurará a parte mais estreita desta calmaria. A meta é cruzar essa zona da forma mais rápida possível em busca dos Trade winds gerados pela rotação da terra. Por isso agora podemos observar que a flotilha está mais espalhada, cada navegador tentando achar alguma pista em suas cartas meteorológicas que indique um lugar mais estreito dos Doldrums e assim, quem sabe, passar por eles sem praticamente parar o barco.
Na minha ultima experiência nos Doldrums vi como é importante estar no lugar certo na hora certa. Um bom posicionamento antes de entrar nessa zona, que normalmente fica localizada na latitude 8º N, garante a vitória numa perna, pois caso você seja “apanhado” pela calmaria, 2, 3 ou 4 dias sem vento não é uma situação nada incomum. Enquanto você fica boiando seus adversários tem a chance de desviar desse “cemitério” e continuar surfando a 20 nós em direção ao objetivo.
O que deve acontecer nos próximos dias é uma grande briga tática. Navegadores tentando velejar com o melhor ângulo possível em direção a latitude 8º, gybes em cada rondada de vento serão comuns e isso, posso garantir, é trabalho dobrado para as equipes. É que cada manobra exige todos no convés e assim o sono de cada um vai sendo minado. Desejamos boa sorte aos nossos navegadores, Stan e Si-fi, que Eolo, o rei dos ventos esteja com vocês.
Até a próxima
Andre Mirsky
Este texto foi escrito por: André Mirsky, do Team ABN Amro
Last modified: novembro 16, 2005