ABN Amro 1 (foto: Oskar Kihlborg/ VOR)
Esse título nada mais é que um ditado comum entre os velejadores; quando as condições estão muito calmas, sem vento, mar liso e aquele marulho* gostoso que nos faz pensar na vida; pode ter certeza que está por vir uma grande mudança, ventos fortes, ondas e chuva chegarão para estragar a paz de bordo.
A flotilha dos veleiros da Volvo Ocean Race esta vivenciando isso, graças a um grande ciclone tropical que se dissipou nas últimas 36 horas, uma zona de alta pressão domina os mares do sul, alem disso a organização da prova colocou dois Ice Gates pelos quais os barcos devem passar, obrigando assim todos a rumarem ao norte e não ao sul como nas outras edições da regata volta ao mundo.
A navegação fará toda a diferença nessa perna, afinal o barco brasileiro que está mais ao norte apresenta uma separação lateral do barco mais ao sul, o ABN AMRO ONE, de cerca 500 quilômetros, a flotilha está espalhada!
Recuperação – Alguns já rumam ao primeiro Ice Gate. Para o Movistar, faltam apenas 280 milhas, já o Brasil 1 e ABN AMRO TWO, embora muito atrás dos líderes apresentam grandes chances de recuperação já que serão os primeiros, pelo menos teoricamente, a alcançar bons ventos de Noroeste com intensidade de 20 nós. Isso deve fazer com que eles voltem à briga pela dianteira. Já na outra extremidade estamos vendo uma briga particular entre os Piratas e o ABN AMRO ONE, ambos buscando andar o máximo possível para o leste com os ventos que os levaram até ali, porém logo-logo eles deverão rumar para o norte a fim de cumprir o primeiro Ice Gate obrigatório.
* Chama-se de marulho o som que a água faz quando passa suavemente no casco de uma embarcação.
Não me arriscaria em dizer quem é o favorito nesse momento, afinal ABN AMRO ONE que sempre se mostra o mais veloz, preparado e consistente, sofre muito com esse novo percurso imposto pela Volvo, o barco que foi concebido para andar em altíssimas velocidade e sob ventos fortes acima dos 25 nós, e agora está vivendo uma realidade muito diferente, o que, sem duvida, traz aquela incerteza a toda tripulação, afinal eles não sabem se nas 500 milhas que separam um Ice Gate do outro o vento vai marcar presença ou não; caso não apareça, eles precisarão suar a camisa para se manterem juntos dos demais barcos desenhados pelo escritório de Bruce Farr.
O palpite que dou agora é o seguinte: o primeiro barco que conseguir se agarrar a nova frente fria que vem se formando deve pular na liderança, daí a necessidade de se posicionar estrategicamente para que isso aconteça. Essa frente fria está prevista para as próximas 20 horas, e, ao atingir a flotilha, a média de velocidade que agora gira em torno de dez nós, deverá passar para os normais vinte, vinte cinco nós e assim levá-los até o temido Cabo Horn sem nenhum outro stop and go.
Um pouco de Tapetão, não poderia faltar.
Para os que não sabem, o Movistar entrou com um protesto contra o veleiro americano e o ABN AMRO TWO por terem trocado tripulantes na Nova Zelândia. A troca de membros da tripulação entre as pernas da regata Volta ao Mundo é permitida, mas no caso específico do pit stop de Wellington não estava claro na regra se essa troca implicaria no penalty de duas horas para os barcos que a fizessem.
Mas por quê? – O caro leitor me pergunta. Eu explico: nessa perna da Nova Zelândia todo o barco que viesse a receber auxílio externo, seja de pessoas ou de equipamentos, seria penalizado em largar duas horas após os demais. E como o ABN AMRO TWO e os Piratas do Caribee trocaram de tripulantes, eles na verdade trouxeram alguém que estava em terra e colocaram para trabalhar no barco, então o penalty é devido, SIM, e o protesto faz sentido.
Agora precisamos entender o outro lado da moeda, afinal nenhuma das duas trocas foi proposital, elas só ocorreram, pois os tripulantes se machucaram seriamente e não tinham mais condições para continuar velejando, não foi uma troca por méritos técnicos ou algo do gênero e sim circunstanciais. O penalty que foi estabelecido nesse Pit Stop em Wellington era apenas para coibir uma estrutura ainda maior dos times na Regata; para que não fosse necessário montar todo um aparato na Nova Zelândia a fim de prestar assistência aos barcos nas 48 horas que por lá eles estiveram.
Se eu fizesse parte do Júri internacional daria o meu parecer como improcedente ao protesto do Movistar, mas como o SE não existe, é bom esperarmos a decisão oficial.
Mas gostaria de usar esse espaço para dar um recado ao Movistar: regata se ganha é na água, exatamente como o ABN AMRO ONE vem fazendo.
Bom, vamos acompanhar, na água, às próximas 24 horas, elas apontarão os favoritos dessa perna.
Até lá,
Andre
Este texto foi escrito por: André Mirsky, do Team ABN Amro