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A chuva e os esportes: uma relação de amor e ódio


A chuva tem o lado bom e ruim (foto: Arquivo Pessoal/ Rodrigo Stulzer)

Eu tenho sentimentos controversos com relação à chuva. Chove lá fora e aqui escrevo, no conforto da sala de casa, olhando pelo vidro as gotas que caem no telhado. Chuva parece não combinar muito com esportes, mas cada um tem a sua história com ela. Quando, por algum motivo, não posso fazer algum esporte e chove, fico aliviado. É como se naquele momento eu achasse uma justificativa. Com a chuva eu me convenço que não precisava mesmo pedalar ou correr. Ela acalma a alma.

Se não tenho nada marcado, já começo a me inquietar; se lá fora está fazendo sol, fico irritado. Mas é só a chuva chegar que me acalmo. Não preciso mais sair, lá fora está chovendo!

E quando você marcou algo e a previsão é chuva? Nossa, que frustração! É um tal de ver a previsão do tempo de 5 em 5 minutos. Eu não me conformo! Passo a semana inteira trabalhando, e justo quando vou fazer aquela aventura programada há vários dias, chove! Nesta hora eu fico muito chateado. Na verdade tento de todas as maneiras ir, nem que esteja chovendo. O problema é convencer os amigos.

Resolver fazer alguma coisa, seja pedalar ou mesmo correr, com chuva, mostra que a pessoa está muito motivada. Se você está no meio de uma prova ou aventura e começa a chover, tudo bem, pois já estava lá. Mas ver a chuva lá fora e sair mesmo assim, é algo só para os mais fortes. Quando levo o Natan para a escola, sempre encontro com uma mulher correndo. Ela tem por volta de uns 45 anos, bem magra. Mesmo na chuva ela está lá, dando um passo atrás do outro. Coisa de bater palmas!

Mas fazer esportes na chuva também é muito gratificante. E se estiver frio e você encarou a água gelada, mais ainda! No ano passado o Markito e eu marcamos de fazer um pedal pela Faxina. Era a nossa primeira vez nesta trilha e estávamos na fissura. Na noite anterior já chovia, mas resolvemos fazer o pedal assim mesmo. Sete da matina, o Markito chegou lá em casa e o tempo estava muito ruim.

Imagina, domingo de manhã, chuva e frio. Nada melhor do que ficar dormindo! Mas nós resolvemos pedalar e foi muito bom, aproveitamos demais! Mas sabe qual foi a melhor sensação? Foi voltar e ver que ninguém tinha saído de casa. As ruas estavam desertas. Todos estavam dormindo ou vendo televisão. E nós aproveitamos muito e nos divertimos. A impressão que tive foi que naquela manhã só nós é que vivíamos. Todo o resto da cidade dormia entediada.

Mas chuva demais também derruba a moral de qualquer um. No Circuito Vale Europeu tivemos chuva em dois dias. No primeiro foi uma festa só, pois todo mundo estava motivado. Mas no penúltimo dia, já cansados, a chuva nos matou. Ninguém falou, mas a moral estava bem baixa, ninguém via a hora de chegar em casa.

Eu lembro de ter visto a previsão do tempo, ao ligar para a minha mãe. Era chuva no último dia, e fiquei bem chateado, pois isso poderia deixar uma impressão ruim daquele pedal maravilhoso. Meio que por mágica o dia amanheceu com um lindo sol. Todos acordaram radiantes, e fechamos o Circuito com muita alegria. Ninguém mais lembrava do dia anterior!

No meio – Mas o melhor da chuva é quando ela aparece no meio da atividade esportiva. Daí é só relaxar e aproveitar, ainda mais se o dia estiver quente. O interessante é notar que ela não é tão ruim assim. É só seguir em frente e ela não atrapalha tanto quanto se pensava.

Tenho ótimas lembranças de dias de chuva fazendo algum esporte, mas o melhor de todos é sempre no surf. Não só porque você já está molhado, não fazendo diferença alguma um pouco a mais de água, mas pelo que ela traz.

Chuva e surf, quando não é tempestade, combinam muito bem. Primeiro ela aplaca a sede. É só abrir a boca e deixar a água entrar. E ela também acalma o mar, deixando-o lisinho, só com as ondas entrando bonitas e perfeitas. Como tudo na vida, a chuva tem o seu lado bom e ruim. Ela não é mais do que um objeto no meio de caminho. Para alguns é uma barreira; para outros, um trampolim. Para o resto, é só mais um dia de chuva.

Este texto foi escrito por: Rodrigo Stulzer