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A emoção de um treino para o Dakar

Redação Webventure/ Offroad

O caminhão de André Azevedo chega a 110km/h durante o treino. (foto: Camila Christianini / Webventure)
O caminhão de André Azevedo chega a 110km/h durante o treino. (foto: Camila Christianini / Webventure)

Quem está acostumado a ver um carro de competição, daqueles que participam de rali, voar apenas na televisão, longe dos olhos, não imagina a verdadeira sensação de vê-los de perto e entrar dentro de um deles em alta velocidade.

A convite da Petrobrás Lubrax, equipe brasileira que irá disputar o maior rali do mundo, o Dakar, em janeiro de 2003, fui conferir de perto como é o treino de preparação dos pilotos. Esta é a única equipe do mundo que irá participar do rali nas três categorias, com Jean Azevedo na Motos, Klever Kolberg (piloto) e Lourival Roldan (navegador) na Carros e André Azevedo (piloto) na Caminhões.

Durante o tempo que passei no “Complexo Scorpion by Pirelly”, a pista de treino da equipe Petrobrás Lubrax, pude matar a curiosidade em saber um pouco dos bastidores destes ídolos do off-road.

Chegando na pista – A pista fica na cidade de Valinhos (SP), a cerca de uma hora da capital paulista. Para chegar lá, é bom estar em um veículo 4×4, porque a estrada é de terra e o carro pode atolar, ainda mais se estiver chovendo. Foi o que aconteceu conosco. Logo na chegada, a van que transportava os jornalistas atolou no barro e teve de ser rebocada, debaixo de chuva, pelo carro de Lourival Roldan.

A pista de treinamento da equipe é um circuito fechado com muitas curvas, com trechos de reta e descida, muitas árvores, pedras e uma vista muito bonita. Segundo Lourival, muitas combinações de caminhos podem ser feitas na pista, podendo-se atingir um total de 13 km. Para treinar em trechos de areia, eles vão para Cabo Frio, no Rio de Janeiro.

Os pilotos estavam adorando a chuva que estava caindo, pois, segundo eles, encontrarão um terreno bastante escorregadio e com lama durante a competição na Europa.

Treino de moto– No momento em que chegamos em uma pequena casa que nos abrigava da chuva, de frente para a pista, já escutávamos o barulho da moto de Jean. Ele passava muito rápido e mal dava tempo de vê-lo. No treino, a moto atinge 150 km/h, mas no Dakar o ponteiro chega a marcar 175km/h.

Assim que resolveu descansar, fui conversar com ele para saber curiosidades sobre sua rotina de treinamento. Jean mora em São José dos Campos, e por isso treina também em alguns circuitos na Serra da Mantiqueira. O maior tem 400 km. “Quando estou me preparando para competição, acordo, treino de moto e durante a tarde eu pedalo e corro também. Isso de três a quatro vezes por semana”, disse.

Quando questionado sobre sua maior dificuldade nas competições, a resposta foi rápida: “É complicado se concentrar, correr e navegar ao mesmo tempo”. Quanto ao seu maior medo, prefere não pensar. “Fico com receio de assaltantes nas trilhas e tribos que possam aparecer no caminho, mas procuro não ficar pensando nisso, para não me atrapalhar”.

A moto que Jean usará no rali é uma KTM, fabricada na Áustria e está avaliada em 30 mil dólares. “Minha moto é uma KTM porque é a única competitiva hoje em dia no mercado”. Com o tanque vazio ela pesa 160kg; cheio 200kg e somando o peso do piloto, são 272 kg no total.

Andando no caminhão – Após um bate-papo com Jean e observar o caminhão de André Azevedo escorregando pela pista de treino, resolvi experimentar a sensação de andar em alta velocidade em um caminhão de rali.

Ao sentar no banco do navegador, fui obrigada a colocar o capacete e a prender vários cintos em volta de mim. Questão de segurança. Para descontrair, fui conversando com André durante a “experiência”.

Para quem olha de fora, tem a impressão de que o caminhão não vai conseguir frear no final da descida para fazer a curva. Mas, lá dentro, a sensação de velocidade é bem menor do que se imagina. “No carro a adrenalina é bem maior”, disse André. “Aqui no treino o caminhão atinge 110km/h, mas aqui dentro dele até perdemos a noção da velocidade”.

O caminhão que André irá usar no Dakar pesa 10.500kg, é fabricado na República Tcheka e já foi testado em um campo do exército daquele país, que tem um pouco de areia, como irão enfrentar na prova.

Andando no carro – Quando o André me disse que andando no carro a sensação de velocidade seria bem maior, lá fui eu dar uma voltinha com o Kléver. Mais uma vez, capacete e cintos para tudo quanto é lado.

Dessa vez não deu para conversar muito. Realmente o impacto é muito maior no carro. Você sente uma leve pressão na cabeça, a adrenalina a mil e fica intacta, sem se mexer, durante todo o tempo, só sentindo a velocidade. Você só se mexe porque o carro pula, e muito! É muita emoção! Lembrando que o piloto era profissional e o treino apresentava bastante segurança. (Não tentem fazer isso em casa!).

“No carro você consegue sentir mais a velocidade porque ela é mais alta. Como o caminhão é mais pesado, o piloto tem que frear muito antes da curva, senão ele vai parar no barranco”, explicou Kléver. O carro que Klever irá pilotar no Dakar é fabricado na França e pesa 1.800kg.

O que eles esperam do Dakar – Algumas frases destes pilotos brasileiros que estarão no maior rali do mundo, entre os dias 1º e 13 de janeiro de 2003:

“A idéia é ganhar o bicampeonato”.(Jean Azevedo)

“Eu não conheço nada da parte africana do Dakar; é o único problema”.(Jean Azevedo)

“É o meu primeiro Dakar e eu confio no Klever, que é um cara experiente”.(Lourival Roldan)

“Vamos ter uma bússola no lugar do GPS”. (Lourival Roldan)

“Na geral nós temos a maior chance nos caminhões, por questão de equipamentos”.(Klever Kolberg)

Este texto foi escrito por: Camila Christianini

Last modified: novembro 26, 2002

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