Pedreira do Dib em Mairiporã (SP). (foto: Arquivo Webventure)
Num fim de semana tive a oportunidade de treinar um pouquinho na pedreira de Mairiporã (SP), mais conhecida por DIB. Chegamos bem cedo, pois um amigo nos avisou que mais tarde seria quase impossível achar um lugarzinho ao sol, tal a quantidade de pessoas que lá têm ido para usufruir do espaço.
Encontramos mais dois que também estavam ali para retomar a performance e depois mais uns três que foram para o outro lado para um curso de escalada. Além de nós, até a hora em que saímos, não havia mais ninguém escalando… porém, a pedreira estava cheia de gente. Pessoas em dois grandes grupos, apenas vivendo momentos da mais pura adrenalina: rapelando!!!
Seria absolutamente normal, se não fossem alguns problemas que vimos. Não quero botar lenha na fogueira de vaidade do escalar versus rapel. Quero apenas ponderar. Mesmo porque, com a proliferação da prática dos chamados esportes radicais, isto também deve acontecer com a escalada seja ela indoor ou em rocha.
O “curso” – Tive a chance de escutar que, antes de descer, as pessoas deveriam passar pela aula teórica. Fiquei curiosa: o que será que é ensinado?” Todos estavam devidamente vestidos, usando luvas, sendo filmados… enfim, com tudo de direito.
Alguns jovens desciam com muita tensão, quase grudados à rocha, com os pés muito juntos e agarrando a corda acima e abaixo do oito, como se fossem despencar. As mãos chegavam tão tensas, tal o estresse, que a primeira atitude era balançá-las para voltar ao normal.
E ainda tinham de aprender a confiar na segurança de alguém que estava em baixo, prendendo a ponta da corda e servindo de freio para a descida. E como aprendiam a confiar na segurança? Soltando a mão abaixo do aparelho de descida para ver que não havia perigo nenhum; e eles faziam isso até para aliviar a tensão da mão, sem saber que estavam se acostumando com a única coisa que não poderiam fazer num rapel, ou seja, soltar a mão que segura a corda que vai para baixo, a mão que os segura à vida.
Erro pode ser fatal – Se, por alguma casualidade, o segurança se distrai ou, se resolvem em outra oportunidade descer sozinhas, e fizerem o mesmo, essas pessoas podem simplesmente despencar corda abaixo. E aí será apenas mais um número nos acidentes com esportes de ação, computando-se à ação da fatalidade.
Querem brincar de rapelar, brinquem! Me deixem um pedaço da rocha para escalar, não joguem lixo na cabeça dos outros, nem pedras e tudo bem. Mas, agências, grupos, etc., não descuidem da segurança de seus clientes ou amigos. Não façam da atividade ao ar livre um palco para uma atividade realmente perigosa, por descuido de vocês. Da mesma forma que observei aquilo ali, problemas como esse ou outros podem estar acontecendo em outros lugares como os viadutos.
Se os alunos se sentem inseguros ou estão com medo, usem outras técnicas para convencê-los de que podem descer. Demonstrem para eles, ponham todos embaixo para que vejam alguém descendo; mostrem, na prática, vocês que são experientes, o que pode acontecer e como essa técnica pode ser segura, etc, e só depois mandem subir e utilizar a técnica de descida chamada rapel.
Ou também, por que não mostram como subir pela própria rocha, ganhando a confiança aos poucos, experimentando as técnicas de escalada de subida e também de descida? Quem sabe, a adrenalina não será muito mais forte…
A internauta Giuliana Nogueira, de São Paulo, leu esta coluna de Helena Coelho e mandou um depoimento sobre o assunto. Veja abaixo.
“Olá, Helena,
Li sua coluna “Pode brincar de rapelar – mas com segurança” e até enviei para meus amigos. Semana passada fizemos um rapel em Socorro, na Cachoeira do Machado, que exige alguma técnica na descida por ser muito lodosa e ter vários platôs. A explicação dos instrutores foi mínima, para quem nunca tinha feito então… Fui a primeira a descer e vi cada absurdo, gente que descia quase agachada, soltava as mãos no platô, pegava a via errada e dava de cara com o paredão depois…
O treino foi feito na marra, nada de ensaio, sem chance pra errar ou mudar de idéia. Mas tudo deu certo, felizmente.”
Giuliana Gomes Nogueira, 25 anos, estudante, São Paulo (SP)
Este texto foi reproduzido com a autorização de sua autora. E reflete a sua opinião, não tendo necessariamente nenhuma associação com a filosofia do Webventure.
Este texto foi escrito por: Helena Coelho, especial para o Webventure
Last modified: março 26, 2003