Beleza e preço não podem ser critérios definitivos na escolha de um tênis de corrida. (foto: Arquivo pessoal)
Olhando bastante para trás ainda consigo lembrar de meu início nas corridas, lá pelos idos do início da década de 70. Na época, não se viam corredores treinando pelas ruas, mas apenas em ginásios, o que obrigava os poucos que se aventuravam a isto, a passar por periódicas situações constrangedoras, como gritos de pega ladrão! e eventuais pedradas (juro que é verdade!).
De lá para cá, este cenário mudou completamente, exceto por um detalhe. Na época, nós corríamos com os tênis criados para outros esportes, normalmente atividades coletivas e com bola, como futebol e basquete, nunca para corridas. E ninguém, aparentemente, se preocupava com isto. Apenas corria…
No final dos anos setenta, com a fabricação no Brasil do primeiro tênis desenhado para corridas, um Adidas TRX, se não me falha a memória, o esporte deu um salto qualitativo. O mercado estava curioso a respeito de equipamentos e, com isto, uma lacuna começou a ser preenchida rapidamente. Todos os praticantes de corrida que conseguiam arcar com o custo razoavelmente alto enveredaram por este caminho tecnológico. E, a partir daí, as pesquisas biomecânicas dos grandes fabricantes mundiais não pararam mais.
Agora, mais de duas décadas depois, quem olha a vitrine de uma loja especializada em tênis esportivos e faz uma comparação com o passado terá a nítida impressão de que todos os problemas dos pés dos corredores foram resolvidos. Mas não…
Como você escolhe seu tênis? – Antes de continuar, pense e responda: que critérios você usa para a escolha do modelo de tênis que comprará para caminhar ou correr? Quer que eu adivinhe a resposta? Pois bem, se você estiver no grupo de 99,9% das pessoas a quem já fiz esta mesma pergunta, os critérios utilizados são: beleza, preço ou a indicação de outro amigo corredor. Não necessariamente nesta ordem.
Inicialmente, quero deixar bem claro que não sou contra a beleza, muito menos contra preços baixos, mas estes valores devem ser considerados na compra de qualquer outro objeto, menos para um bom tênis de corrida, seja ele para asfalto, cimento ou trilha de terra.
Em uma detalhada análise biomecânica do movimento de corrida e caminhada, pode-se identificar sete tipos de pisada: em pronação leve, média e severa; neutra; e supinação leve, média e severa.
Traduzindo, quando alguém corre pronando significa que o pé tende a pisar para dentro no momento que transfere o peso do calcanhar para os artelhos. Isto pode acontecer de maneira suave, média ou intensa.
Contrária a esta situação, um pé pode supinar quando a tendência é pisar com o bordo externo no momento da transferência de peso. E a supinação também pode ser dividida nas três intensidades leve, média e severa.
Logicamente, um pé que não supine nem prone, pisará em uma posição neutra. E, acredite você ou não, as fábricas sérias desenham tênis de corrida para cada tipo de pisada.
Item desprezado – Dá para imaginar o estrago que um tênis para pé supinador fará em um corredor pronador? Ele forçaria sua pisada exatamente para o lado contrário ao que ele realmente necessitaria. Porém, para conseguir vender mais tênis pelos argumentos beleza e preço, as lojas não dão ênfase alguma a estas características biomecânicas dos corredores.
Se você fizer uma pesquisa via internet aos sites dos grandes fabricantes, verá pouquíssima informação nos sites americanos e nenhuma nos sites brasileiros. Apesar dos brasileiros serem apenas a tradução dos originais americanos! Você consegue entender isto?
Na prática, a melhor maneira de você ter certeza do seu tipo de pisada e quais os tênis mais recomendados para o seu caso, seja caminhada, corrida no asfalto, corrida em trilhas, é consultar um especialista. Todas as pessoas que treinam comigo no Rio de Janeiro são obrigadas a se consultar com o professor Norton Freitas. Depois de uma caminhada ou corrida na esteira, com as passadas filmadas e analisadas, elas saem com uma lista dos tênis perfeitos para uma vida esportiva longa e quase sem lesões, pelo menos não com as causadas por uma pisada errada!
Este texto foi escrito por: Carlos Sposito
Last modified: janeiro 9, 2003
