A Sombra de Todos os Medos - nova via de escalada em Petrópolis - Webventure

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A Sombra de Todos os Medos – nova via de escalada em Petrópolis

Redação Webventure/ Montanhismo

O fim da escadaria  próximo ao topo do Cantagalo (foto: Alex Ribeiro)
O fim da escadaria próximo ao topo do Cantagalo (foto: Alex Ribeiro)

Petrópolis um é dos mais importantes centros de escalada do Brasil, são mais de 400 opções em 48 diferentes montanhas. Apesar da fama de só ter aderência, existe de tudo, boulders, fendas, muitas vias esportivas, artificiais, big wall, escaladas clássicas, onde o comprimento das vias varia de 100 a 1000 metros de extensão, somente a cidade do Rio de Janeiro possui um numero maior de vias de escalada.

Agora a cidade conta com mais uma opção de escalada, batizada de: “A Soma de Todos os Medos”, são mais de 800 metros de parede vertical cortando a face norte do Pico do Cantagalo, um gigantesco monólito com 1788 metros de altitude, localizado no Vale do Cuiabá, próximo de Itaipava, distrito de Petrópolis.

Os escaladores Alexandre Motta, Alex Ribeiro, Jorge Fernandes, Waldir Garcia Renato Matos e Mateus Reis se revezaram durante quase um ano para concluir a via. Devido ao grande intervalo de tempo entre inicio e a conclusão da escalada, os escaladores foram expostos aos dois extremos das variações climáticas, a temperatura chegou a ser inferior aos 4°C, como esta descrito no relatório do dia 29/06/2006: “Frio, muito frio mesmo, parece até a Patagônia, na verdade nem na Patagônia senti tanto frio. Os membros tremem tanto que é difícil de manter o equilíbrio na parede, manusear o equipamento também não é muito fácil, mas pior é ficar na parada fazendo segurança, sinto pena do Waldir, meu parceiro de escalada que agora congela fazendo minha segurança.

“Os dedos estão sem tato, o que é tremendamente inconveniente na hora de segurar uma agarra menor, fica difícil utilizá-las da melhor forma e acabo fazendo mais força do que o necessário. Mas, apesar do frio, não faz parte dos nossos planos descer, pelo menos não agora. São 11:00h ainda e mal começamos a conquistar, a montanha esta completamente encoberta por nuvens negras, a umidade é grande, o vento atravessa meu anorak, o polar, o underwear, parece que atravessa os até ossos“. Em outras ocasiões, porem o calor foi bem superior aos 30°C.

Escadaria – Quem observa o traçado da via na foto vai ver que ela percorre uma gigantesca diagonal da esquerda para direita, alguns podem pensar que isso foi feito com intuito de aumentar o comprimento da via, mas não é verdade. O que ocorre é que a via percorre uma magnífica linha que devido ao tamanho e a quantidade de agarras passamos a chamar de “escadaria”, ela se inicia na metade da segunda enfiada é só termina na metade da décima primeira (no total são 16 enfiadas). Mesmo assim, nas enfiadas seguintes a via não perde sua característica e, fora uns poucos lances de aderência, o que se vê são agarras, muitas agarras. No entanto apesar da “escadaria”, a classificação sugerida 5° Vl+ A0 E3, mostra que a via possui lances mais difíceis, alem de trechos de artificial, o primeiro artificial (A0), que fica na sexta enfiada pode ser feito em livre, já o segundo localizado no inicio da décima terceira deve ser mais difícil de ser eliminado. Nem todos os “degraus” da “escadaria” são tão generosos na forma e tamanho, existem varias seqüências de regletes e abaulados.

Para que a escalada fosse concluída foi necessário quase um ano de sobe e desce da parede. Muitas vezes cada escalador tinha que carregar mais de dez quilos entre equipamento de escalada, comida, água e agasalhos, subindo durante horas, 500, 600, 700 metros de parede com curtíssimos intervalos de descanso. O projeto idealizado por Alexandre Motta veterano escalador petropolitano foi iniciado em novembro do ano passado por Alexandre, Alex e Renato. Somente no dia 16 agosto, depois de mais oito horas de escalada (mais seis horas para rapelar) foi concluída por Alex, Waldir e Fernandes. Fazia muitos anos que uma escalada tão grande não era conquistada em Petrópolis, a ultima fez em que uma parede tão grande foi conquistada foi em 2002. Nessa ocasião Alex Ribeiro, Jorge Fernandes, Rafael Wojck e Pedro Miranda escalaram a face leste da Maria Comprida, conquistando a via Maria Nebulosa que possui 1040 metros de extensão.

Para se conquistar uma via como “A Soma de todos os medos” é necessário alem de bom preparo físico, domínio da técnica de escalada e uma logística muito elaborada. Só para se ter idéia do trabalho que foi conquistar essa via, foram fixados na parede mais de 600 metros de corda, colocados mais de 100 grampos, gastos mais de 20 brocas SDS. Foram 12 investidas de conquista e uma de apoio entre os meses de novembro de 2005 e agosto de 2006.

Nas investidas finais começávamos a subir a parede às 4h da manhã, para retornar a base somente às 18h. A quantidade de parede conquistada variava muito entre uma investida e outra, houve ocasiões em que conquistamos meros 20 metros, em outras porém chegamos a subir 100 metros em um único dia, isso sem auxilio da furadeira (que usamos na primeira e nas duas ultimas investidas).

A distancia entre uma proteção e outra não é muito grande, mas em algumas enfiadas podem chegar a 15 metros, no geral são quatro proteções por enfiada (que na maioria tem entre 55 e 60 metros), mas apesar da aparente exposição os lances mais difíceis são sempre protegidos, pois procuramos durante o decorrer da conquista proteger os lances mais expostos, fazíamos esse trabalho normalmente durante a decida. O acesso até base é muito rápido, pois é possível se chegar de carro muito próximo da parede, do carro até a base não se leva mais que 15 minutos.

O dia D – Às três horas da manha do dia 16/08/2006, Alex, Fernandes e Waldir estavam na base levando o mínimo de equipamento possível, pois estavam carregando uma furadeira e duas baterias. Às 4h começaram a subir as cordas fixas, eram aproximadamente 740 metros de parede para subir até chegar no fim da via, o que só aconteceu às 9h40. Depois de um breve estudo, os escaladores optaram subir a direita da parada, Fernandes se equipou e iniciou a conquista, mas logo depois da parada se deparou com um lance delicado (5+?), que passou com um pouco de dificuldade, mas sem maiores problemas. Os lances acima, mais fáceis (4°), foram rapidamente transpostos.

A enfiada ficou com uns 40 metros, com intervalo de uns 12 metros entre as proteções. Com a penúltima parada montada, Alex subiu escalando por uma corda e Waldir jumareando pela outra. Como já estava aquecido e com muita disposição Fernandes conquistou a enfiada seguinte. Logo de inicio, por cima da parada, bateu um grampo, mais uns dois metros acima, depois de quase voar duas vezes, acabou batendo outro. Transpondo esse lance ele esticou 20 metros e bateu um grampo de 3/8.

Mais uns 10 metros acima ele chegou ao fim da parede, montou a parada em uma pedra meio suspeita e chamou Alex, para depois baterem um grampo de ½, então chamarem Waldir, que subiu jumareando. Era 12h30 e depois de dez meses finalmente a via estava terminada. Enquanto Waldir foi ao cume, Alex e Fernandes preferiram organizar o material e começar a montar o rappel, pois apesar de ser cedo sabiam que a decida seria muito demorada. Na decida retiraram todas as cordas fixas, chegando na base às 17h40 e no carro às 18h30.

Para se repetir à via é preciso:

  • 01 corda de 60 metros.
  • 06 costuras longas.
  • Fitas diversas.
  • 01 jogo de nuts pequenos e médios.
  • Friends (obrigatoriamente Tcus) pequenos e médios.
  • Não é preciso estribo para passar nos artificiais.
  • É melhor descer pela caminhada, o rappel cheio de diagonais é muito longo, demorado e complicado de fazer.

    O grupo contou com apoio do Centro Excursionista Petropolitano e da Casa do Montanhista, Mario Arnaud e Adriano Peixoto. Para mais informações sobre essa e outras escaladas em Petrópolis, e no Estado do Rio de Janeiro Brasil, acesse: www.casadomontanhista.com.br, www.rioadventure.com.br, ou escreva para: chegueva@ibestvip.com.br

    Este texto foi escrito por: Alex Ribeiro

    Last modified: setembro 4, 2006

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