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A vitória de Roberta na imensidão do Iapó


Entrada da Classe 5. (foto: Arquivo Canoar)

Em outra reportagem da Semana da Mulher, nossa Personalidade Roberta Borsari conta como se tornou a primeira mulher a descer o rio Iapó em caiaque.

Faz quatro dias que cheguei de uma das minhas maiores aventuras: descer o rio Iapó de caiaque. Quando fecho os olhos, ainda me vem à cabeça um borbulhão de água, com refluxos gigantes e corredeiras enormes!!!

Localizado ao norte do Paraná, na região de Tibagi, o rio Iapó é considerado um dos mais fortes e perigosos do Brasil. A sua principal característica é passar por dentro de um cânion (Cânion Guartelá), ou seja, uma vez dentro do rio, são dois dias percorrendo 40 km com séries de corredeiras classe 4, 5 e 6 (não percorríveis), e qualquer situação de resgate se torna um desafio à parte, uma vez que o cânion não permite saídas em terra e acessos a estradas.

Nossa expedição seria cordenada pelo experiente guia da Canoar Coquinho, que iria liderar os guias Régis, Rafael e Baby. Eles levariam os quatro botes, carregados com todo o equipamento: primeiros-socorros, barracas, alimentação, roupas, utensílios e outras necessidades, uma vez que acamparíamos na beira do rio.

Como safety (canoísta que faz a segurança/resgates), teríamos o Leonardo, e era nele que eu estava depositando a minha segurança de descer este rio, pois eu o estaria acompanhando em todo o percurso e seguindo a sua “linha” (caminho a ser percorrido no rio).

Rio “bombando” – Tudo pronto para a partida e chegou a notícia de que o rio estava “bombando”, uma cheia como não se via há tempos. A régua que mede o nível do rio marcava 1,60m (com 1,80m seria tudo cancelado por medida de segurança).

Seguimos em frente! Logo no começo, tínhamos cerca de 50 minutos de remanso (água parada) para os braços irem esquentando. Para mim, foi bom, uma maneira de ir “desadrenalisando”. Logo chegou a primeira corredeira, a corredeira do “Cocão”: uma queda com um enorme refluxo. Os caiaques passaram bem, mas dois botes capotaram e logo fomos ajudar no resgate. Todos ok!

Na parte da manhã, passamos bem por todas as corredeiras, paramos então na beira do rio para um breve almoço. Sanduíches, frutas, castanhas, chocolates, tudo para ganhar energia e enfrentar, à tarde, o trecho mais difícil do rio.

Saímos com o objetivo de chegar aproximadamente às 17h ao local do pernoite para termos tempo de montar o acampamento com luz e descansar. Logo de cara, a “Catapulta”: pelo próprio nome não precisa falar mais nada…

Eu já estava mais tranqüila, havia passado muito bem nas corredeiras da manhã e estava concentrada e calma para passar a seqüência de classes 4 que enfrentaríamos. Algumas delas foram inesquecíveis! Uma das corredeiras, com uma linha fácil, apenas central, era enorme, em forma de Z, e parecia que nós entrávamos nela e não saíamos mais. Foi show, muita água!!!

Cada corredeira exigia uma concentração particular. Eu e o Léo combinávamos a linha, a distância entre nós e o plano B, claro! Mas não era só isso… Chegamos à classe 6, uma corredeira não-percorrível que, com aquele nível de rio, estava monstruosa. Logo em seguida, mais duas corredeiras, também não-percorríveis, com uma formação bem ameaçadora… Era a hora do portage!

Esforço compensado – Devíamos passar pelas três corredeiras por terra, transferindo também os botes com equipamentos, todos os remos e os dois caiaques. Muito simples, se a formação daquele trecho de rio não exigisse cuidado.

Breves escaladas, cordas para os botes, mosquetões e polias. Começou então um trabalho de grupo, todos se distribuíram em tarefas que duraram cerca de 1h20. O esforço valia a pena, eram dois paredões enormes com visual maravilhoso, uma lontra acompanhando todo o movimento da equipe e aquelas corredeiras ao fundo. E mais um obstáculo foi vencido!

Chegamos, então, a um dos lugares onde se exige mais atenção do rio: a
“Classe 5”, uma corredeira longa, com volume de água muito grande e dois ou três pontos críticos. A segurança deve ser bem precisa pois, logo na seqüência, vem uma classe 4 também com uma formação crítica.

Susto – Foram 15 minutos para montar o esquema de segurança e os caiaques desceram primeiro. O Léo fez a linha perfeita, beirando buracos enormes, e eu fui na cola dele. De repente eu viro, no meio daquela corredeira enorme, em que não se pode errar… em segundos, desvirei, vi que estava na linha certa e terminei de descer a corredeira. Comemorei aos berros!!!

Os botes passaram bem, sem capotagens, ufa!!! Passamos pela próxima classe 4… Foram tantas que nem dava mais aquela adrenalina do tipo “terror”. Mas tenho de confessar que eu já estava ficando com um tipo de estresse. Com tanta atenção, adrenalina e controle do
medo, minha cabeça estava pedindo para relaxar. Foi quando chegamos ao acampamento!

Tudo era divertido, montar as barracas, o bote-sala, conferir se as sacolas estavam secas, ajudar no aperitivo, tomar o banho no rio, colocar roupas quentinhas e principalmente comemorar um dia de vitória com uma descida perfeita, sem nenhum incidente, muito sol e corredeiras fantásticas.

Terminamos o dia com um superjantar do “chef” Coquinho, com salada Iapó, uma massa show e um vinhozinho para sonhar com os anjos!

No dia seguinte, acordamos bem cedo, tomamos café, montamos os botes e saímos para mais um dia de água branca. O que mais eu poderia querer?

Sabia que o primeiro dia era o mais crítico, portanto já estava mais à vontade, querendo mais. Sabia também que teríamos mais três corredeiras que exigiriam mais atenção e outras várias que seriam pura diversão.

Durante o percurso, um dos botes ficou preso de lado em uma pedra bem grande. Todos os ocupantes saíram nadando (alguns mais, outros menos…), mas levamos cerca de 40 minutos para tirar o bote de lá. Fiz todo o transporte das cordas entre as pedras, onde os instrutores se posicionaram para fazer o resgate. Meus braços foram bem exigidos, uma vez que a corrente era forte. Outra vez o trabalho em equipe funcionou!

Mais desafios – Chegamos então à corredeira “do Vilão”, uma formação perigosa, com um sumidouro (formação de pedras onde a entrada é maior que a saída e pode prender uma pessoa debaixo d’água). Fizemos um breve portage. O Léo escolheu uma linha segura e fez uma coisa que pensava há tempos: descer uma das quedas! Ele desceu muito bem, comemorou bastante e fomos em frente.

Seqüências de classe 3 e uma breve parada para o almoço! O grupo estava totalmente integrado, ali é um lugar onde todos ficam embasbacados, felizes e de bom humor. Não tem como não se maravilhar com a formação do cânion, a mata, os animais, o rio… e, principalmente, a distância da civilização!

Passamos por mais duas corredeiras classe 4, a da “Bete” e o “S”, uma corredeira técnica, com uma entrada onde você não pode cair num refluxo reto (formação de corrente de água que pode prender o caiaque ou bote, sendo muito difícil sair), e depois tem de ziguezaguear, beirando refluxos bem grandes.

Mandamos bem! – Novamente os caiaques foram na frente e tenho de confessar que mandamos muito bem!!! Fizemos uma linha perfeita, passando por buracos enormes, e foi uma das corredeiras mais legais daquele rio, pois em vários momentos você tem de mudar a direção do caiaque. Os botes também passam bem e todos comemoram!!!

Naquele momento, já havíamos passado todas a corredeiras mais perigosas. O que teríamos pela frente seriam visuais incríveis com cachoeiras, a formação de pedra “A Coisa” (daquele desenho bem antigo – quem for da minha geração vai se lembrar…) e, claro, mais corredeiras. O coração era só felicidade por ter conhecido um lugar tão especial. Quem é amante de rio tem de passar por lá obrigatoriamente!

Todos éramos só sorrisos. Terminamos a descida num lugar maravilhoso onde, ao fundo, havia uma cachoeira no meio do morro. Eu não vou conseguir explicar aqui o que sentia. Uma mistura de felicidade plena com vitória, uma conquista especial e pessoal, uma lembrança para o resto da vida. A minha descida no Iapó!!!

Roberta Borsari é Personalidade Webventure. Saiba mais sobre a atleta visitando seu site oficial: www.webventure.com.br/robertaborsari

Este é um texto escrito por um colaborador e reflete a opinião do seu autor, não tendo necessariamente associação com a filosofia do Webventure.

Este texto foi escrito por: Roberta Borsari