Neste Minha Aventura, o internauta David relata o acampamento de um grupo de amigos na Serra de Aratanha (CE).
“Tô descendo a serra
cego pela serração
salvo pela imagem
pela imaginação (…)
Cego pela neblina
você nem imagina
como tem curvas esta estrada
ela parece uma serpente morta
às portas do paraíso (…)”
(Engenheiros do Hawaii)
Obs: Apenas para esclarecimento, Pacatuba é uma cidade, e nessa cidade está a Serra de Aratanha, onde ocorreram os acampamentos X,XI,XII,XIII,XIV e XV. Neste relato, consideramos Pacatuba e Aratanha sinônimos para evitar excesso de repetições.
Personagens
O plano inicial era o seguinte: a turma se encontraria às 7h, na rodoviária, para pegar o ônibus de 7h30. Mas é ilusão achar que, num feriado, 16 jovens chegariam tão cedo. Enfim, ocorreu o esperado: perdemos o ônibus! O próximo transporte estava marcado para as 9h. Tranqüilo! Todos já haviam chegado na rodoviária de Fortaleza.
David foi comprar algumas passagens. O funcionário, responsável pela venda, informou: “O ônibus de 9:00 já está lotado.” O próximo ônibus era apenas às 10:30 e não podíamos esperar tanto já que tínhamos um longo trajeto para prosseguir durante o dia. Desse jeito, chegaríamos ao topo da Serra à noite. David informou a todos sobre a terrível novidade. Então Daniel Cachaça tomou a iniciativa e falou: “Ao lado do Terminal Parangaba existem TOPIKs para Baturité, e quem vai para Baturité passa por Pacatuba”. Não tínhamos outra opção senão aceitarmos a idéia do Daniel.
Não foi tão fácil quanto parecia mas conseguimos! Tivemos que fretar duas Kombis para comportar toda a bagagem e toda a galera, arranjando 8 pessoas em cada Kombi. Tudo tranqüilo até o momento, pois até o preço da passagem era menor em relação à Rodoviária. A galera voltou a se reunir na rodoviária, perdemos ainda uns 30 minutos para começarmos, definitivamente, a subir a Serra de Aratanha. Enfim, após algumas fotos, já no pé da Serra, iniciamos as trilhas…
João Bosco era o fotógrafo da turma, sempre preocupado com os melhores ângulos. Tiago e Rafael sempre na frente, deixavam apenas suas pegadas. A maioria dos escoteiros não se preocupavam em alcançar Rafael e Tiago, pois não estavam com pressa alguma em subir a serra. Por isso mesmo, Vítor, Leandrão, Leandro (Ari), George, Bosco e David paravam vez em quando para descansar e apreciar o ambiente.
Num desses repousos, Bosco mostrou para eles um pote de tinta guache para, segundo ele, se camuflarem pintando as caras. George desenhou um bigode mexicano em Vítor e um bigode estilo “Charles Chaplin” em David, além de uma pintura contornando seus olhos. Bosco se auto-maquiou. Todos ficaram super engraçados. E assim subíamos a Serra de Aratanha.
Numa outra parada, David contou uma estória verídica referente ao acampamento anterior, 14º acampamento, também em Pacatuba: “Estávamos eu, Tiago, Vítor, Leandrão e Emanuel, bebendo vinho, pois era Semana Santa, e comendo miojo (macarrão instanâneo) cru dentro da barraca, à noite, conversando. Foi quando ouvimos um relincho, aparentemente de um cavalo, muito próxima à barraca! Sem pensar em nada sobrenatural, David e Emanuel saíram tranqüilamente da barraca, apenas para espantar o animal. Mas aí o inesperado ocorreu: nada havia!! Procuramos pegadas, iluminamos com a lanterna em todas as direções, e nada! Não escutamos mais nada!”
Alguns ouviam atentamente, outros riam achando que era invenção do David e mais alguns realmente ficaram com algum medo. Naquele clima e distração, chegamos ao açude Boaçu. Antes, uma observação: Daniel, Paulinho, Marcelo e Tiago se perderam numa bifurcação realmente enganosa. A trilha da esquerda subia e a trilha da direita descia. Com um pouco de bom senso, um indivíduo pensa: “se eu estou subindo uma serra, então vou seguir o caminho que sobe”. O pior que é esse pensamento está errado. Foi justamente isso que ocorreu com os quatro escoteiros ao escolherem o caminho errado da esquerda.
Com a ajuda de celulares, rapidamente eles retomaram o caminho correto e voltamos a nos reunir. Agora um flashback: no 10º acampamento (David, Leandro e Leonardo), o primeiro da série Pacatuba, os três pioneiros (cobaias) também se perderam nesse mesmo local e em outros três locais. A recompensa veio pois eles adquiriram conhecimento e experiência em relação à serra.
Fim do flashback e retornando ao 15º acampamento. Ainda antes do Boaçu, o grupo parou numa fonte para abastecermos as garrafas e vasilhames com água para a noite. Alguns não resistiram ao deslumbrante visual e se molharam na fonte. Água gelada! No açude, reencontramos Rafael e Tiago, que já estavam há um bom tempo no local.
Havia dois acampamentos às margens do açude, e um deles era com um grupo evangélico. Apesar de absurdo, onde estávamos era uma propriedade privada, por isso cada visitante deveria pagar ao caseiro, por ordem do proprietário, o valor de R$ 2, totalizando R$ 32 para as 16 pessoas. Ninguém compreendia o porquê de um valor tão alto! David foi conversar com o caseiro a fim de conseguir um desconto. Enfim, o negócio foi encerrado por R$ 13 e nadamos no açude.
Finalmente armamos as barracas, um pouco depois do açude Boaçu e justamente no mesmo local dos acampamentos passados em Pacatuba. Algum tempo depois surge João Bosco, após um reconhecimento da área, com a mochila do David em mãos, que estava abandonada perto dali. Todos demonstraram preocupação com o companheiro David, pois ele havia sumido sem explicações!
Um tempo passou… E da mata surge do inusitado um novo personagem no acampamento: uma capa vermelha, uma calça jeans rasgada e pintada, uma blusa colorida, uma jaqueta jeans e um pano usado como bandana!! Era o Homem-Paca (a paca é um animal roedor que deu nome a serra: Pacatuba). Surpresa e gargalhadas. Como a figura lembrava muito o escoteiro David, então prosseguiremos o relato chamando o Homem-Paca de David, pelo menos enquanto ele não retorna ao camping.
Eram 4 barracas dispostas estrategicamente de modo que uma delas ficou um pouco distante das outras, aí o Vítor batizou a barraca com o nome de “Camping Bar”. E foi justamente nessa barraca que começaram a tocar violão… Como eram dois violões, havia duplas, sendo que o Daniel sempre era um dos tocadores pois sua arte como músico agradava a todos!
Não precisávamos de bebida para nos sentir libertos… Uma das idéias loucas que ocorria entre o “macharal” era o “montinho” (um louco pulava em cima do outro louco, e no fim, quem se dava mal era a vítima que estava por baixo). Acho que não é preciso mencionar que a Jeamylle não participava desse tipo de brincadeira!
De repente, um barulho dentro do mato chama a atenção de todos! Alguns lembraram da história do “Cavalo Fantasma”, narrado por David anteriormente. Tiago, Daniel e outros desafiaram o medo e foram ver o que era. David, descrente em tudo que é sobrenatural, permaneceu inalterado e ficou com Vítor e os outros. Alguns temiam. O barulho entre o mato fechado aumentava, à medida que se aproximavam do bicho, que saiu da mata e todos puderam ver o que era a criatura! Um porco!! Que decepção!
Já estava muito escuro, e alguém do grupo sugeriu a idéia de irmos visitar os dois acampamentos nas margens do açude Boaçu. Todos foram, com exceção do Bosco, Jeamylle, Pedro, Leandro, Tiago e Fernando que ficaram conversando. Com apenas duas lanternas, as quedas eram inevitáveis durante a trilha, porém nada de grave.
Na volta, com exceção da Jeamylle e do Pedro, que estavam dentro da barraca, todos sentaram-se ao redor da fogueira, quase apagada, e começamos o famosíssimo “jogo-da-verdade” e depois continuamos com muitos outros papos.
Amanhece… David, George, Jeamylle e Pedro, todos fora da barraca, recapitulam cenas da noite anterior. Risos e mais risos! Um café-da-manhã improvisado, o recolhimento do lixo, algumas fotos e começamos a descer a Serra. Durante a descida, quando paramos para descansar, resolvemos verificar o que restou de comida. Resultado: Cream Cracker e pacotes de suco em pó (risos). Misturamos diretamente numas garrafas de água e tomamos tudo! A galera estava faminta!
Durante a viagem, a impressão era que ainda iríamos subir a serra, pois a animação era total. David gritou: “Qual a nota para o acampamento, de 0 a 10?”. Marcelo respondeu prontamente: “69!!!!” Todos riram a valer! Piadas a parte, a nota foi 9,9 e não fechou um 10 porque não foram duas noites. Essa foi a opinião geral da turma. Conversa vai, conversa vem, nível cai, nível sobe, e nesse ritmo, encerra-se o 15º Acampamento “Os Malas”. O 16º vem por aí…
Fim (por enquanto).
“Se a cada minuto é uma chance de mudar, tenho 1.440 minutos para fazer o amanhecer valer a pena.” (Nayanne Pinheiro)
Este texto foi escrito por: David Pinheiro
Last modified: maio 3, 2003