Nascer do sol na Serra do Japi. (foto: Elias Luiz)
Neste Minha Aventura o internauta Elias Luiz conta como foi sua primeira experiência como acampante, na Serra do Japi.
A Serra do Japi foi a minha primeira experiência com acampamento. Em 1998 eu e um amigo, Rodrigo Bonaparte ,resolvemos ir acampar. Compramos sacos de dormir, kit-panelas, lanterna e a barraca Iglu peguei do meu irmão. Faltava só o local. Lembrei do sítio do meu tio, no qual eu não ia há uns 10 anos.
O sítio fica em Cabreúva (SP), ao lado da Serra. Inclusive uma parte do sítio cobre a Serra. Então seria este o local ideal, pois estaríamos em um dos picos da Serra do Japi e, em propriedade do meu tio, poderíamos então acampar sem problemas. A sede do sítio fica na parte baixa e a parte alta é utilizada como pasto para o gado.
Bem, como estávamos em propriedade particular, não precisamos de muita burocracia e poderíamos acampar e fazer uma fogueira, lógico que tomando todas as precauções necessárias para não colocar fogo na mata. Como minha primeira experiência, a Serra do Japi foi uma mãe, aquela que diz “cuidado, você ainda é uma criança”. E isso é totalmente a verdade, pois cometemos muitos erros e um deles foi a falta de planejamento. Achávamos que só porque tínhamos comida e barraca o resto não importava mais.
Tomamos decisões arriscadas de última hora. Chegamos no sítio às 16h e o planejado era pernoitar na sede do sítio e ao amanhecer atacar o cume da montanha, descansados e alimentados. Além de tudo, teríamos toda a luz do dia para achar as trilhas certas. Então, decidimos atacar o cume já naquele momento, pois assim teríamos uma noite a mais na montanha.
Enrascada – Resolvemos arriscar, mas partimos por volta das 17h e tínhamos menos que uma hora de luz. Quando chegamos ao pé da montanha já estava escuro e conseguíamos ver o topo, mas a trilha havia sumido. A falta de experiência em achar trilhas nos fez decidir em subir a montanha em linha reta, direto até o pico. Estávamos com mochilas em torno de 15 kg cada um e fazer uma subida assim seria muito desgastante, mas só desta maneira teríamos certeza que não erraríamos o alvo.
Após duas horas de uma desgastante subida, alcançamos o topo. Teríamos que armar a barraca em plena escuridão, sem prática nenhuma e sem preparar o terreno, pois estávamos muito cansados e queríamos apenas dormir. Também não iríamos conseguir cozinhar, pois não estávamos achando lenha para a fogueira. A saída foi comermos um pouco de bolacha recheada que restava e, já que a água havia terminado, o único líquido que tínhamos era uma garrafa de vinho que havíamos levado, pois era maio e na Serra faz muito frio. Imagina comendo doce com vinho, aquilo era melhor do que sonífero.
Mas esse sonífero só funcionou para o Rodrigo, que dormiu que nem uma pedra, enquanto eu varei a noite de olhos arregalados, pois a minha adrenalina estava tão alta quanto eu. A cada meia hora abria a janela para ver como estava o tempo, pois estava ventando tanto que se nós não estivéssemos dentro da barraca ela já teria voado longe.
Ao amanhecer, às 5h45 (lógico que eu estava acordado) foi que tivemos a recompensa de toda aquela noite de sacrifícios. Quando eu vi que havia clareado, resolvi abrir a janela pela milésima vez. Não estava entendendo o que estava vendo, pois estava tudo meio branco lá fora. Resolvi sair para conferir. Estava ventando muito e a temperatura devia estar por volta de 6° C, mas isso não foi o suficiente para me impedir de fazer algumas fotos daquele momento único. Não estávamos conseguindo ver o sítio, pois a neblina encobriu tudo lá embaixo. Simplesmente foi um amanhecer maravilhoso.
No total, acompanhamos o sol nascer três vezes na montanha, mas nenhum outro dia foi assim. Nos outros dias o céu amanheceu completamente limpo. Foi então que demos o valor pela decisão que tivemos de subir a montanha naquele dia. Foi uma decisão errada, mas com uma gratificação maravilhosa.
O pôr-do-sol foi igualmente lindo, e também somente neste dia, pois nos outros dias o céu esteve nublado. Uma lição para um fotógrafo de natureza é que não existe um dia igual ao outro. Se de repente você se deparar com uma imagem bonita, não pense que amanhã você encontrará a mesma situação. Não perca tempo e registre o momento. Existem também algumas imagens que para retratá-las precisamos analisar o melhor momento do dia que, melhor dizendo, seria a melhor luz do dia.
Um exemplo real disso é que após revelar estas fotos, tive algumas idéias diferentes de composição para o pôr-do-sol e para o amanhecer sobre as nuvens. Resolvi retornar dois meses depois, mas é lógico que uma outra investida dessas leva tempo, planejamento e dinheiro. O resultado foi que em todo pôr-do-sol o céu estava nublado e em todo amanhecer não havia neblina, e o planejado que era acampar três dias também não foi possível, pois o tempo piorou e havia ameaça de tempestade. A solução foi levantar acampamento e retornar para casa, com mais uma lição de vida.
Este texto foi escrito por: Elias Luiz
Last modified: agosto 15, 2002