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Ação social: levando saúde pelos Sertões


O motorhome que virava consultório e percorreu as 10 cidades-sede do Rally. (foto: Luciana de Oliveira / www.webventure.com.br)

Sem dúvida, as máquinas que desfilaram pelas 10 cidades por onde passou este Rally dos Sertões encantaram a população. Mas um único veículo do evento fez ainda mais; não pelo entretenimento, mas pela saúde dos moradores locais. Este foi o segundo ano em que a competição trouxe, paralelamente, uma ação social com médicas que atendem gratuitamente o povo das cidades-destino das etapas do Sertões. É a filosofia do Rally: passar pelos lugares e deixar algo em troca da calorosa recepção que sempre se tem.

Nas especialidades de ginecologia, pediatria, clínica-geral e odontologia, elas se tornaram atração em cada lugar. “Chegaram as médicas de São Paulo!” assim eram anunciadas pelos próprios moradores. “Até em cidades com mais recurso, como Diamantina (MG), fizemos muitos atendimentos porque as pessoas queriam se consultar com as médicas de São Paulo”, destaca a ginecologista Sílvia Freire.

Rotina puxada – Concentrada num motorhome que fez o percurso do rali pelo asfalto e estacionava em locais movimentados das cidades, a ação social foi completada pela distribuição de preservativos e conscientização da população sobre doenças sexualmente transmissíveis e Aids. A rotina do grupo era bastante puxada e totalmente alheia à competição. Numa van, elas faziam por asfalto os caminhos de ligação entre as cidades-destino, o mesmo percorrido pelo motorhome. As consultas se davam normalmente na parte da tarde até o começo da noite.

A iniciativa tem o patrocínio do Banco Real. No ano passado, o primeiro deste tipo de ação, Sílvia era a única médica. “Como eu fui parar no Rally? Estava fazendo uma cirurgia em São Paulo com um dos integrantes da equipe médica que atende os pilotos. Ele me disse que precisavam de ginecologista no Sertões e eu não entendi o porquê, afinal a prova tem maioria masculina… Depois fiz contato com o banco e eles me explicaram o projeto. Sempre quis prestar este tipo de atendimento”, descreve.

Diagnóstico: desinformação – Nas cidades por onde o evento passou, a maioria no interior dos estados, Sílvia se disse impressionada com o número de mulheres que não têm nenhuma ou pouquíssima informação sobre si mesmas. “Quanto mais se entra no sertão a gente se depara com mulheres que não conhecem seus corpos, não têm instrução e muitas ficam grávidas a partir dos 14 anos e têm, em média, cinco filhos”, diz a médica.

Pirenópolis (GO), Janaúba (MG) e Bom Jesus da Lapa (BA) foram algumas cidades onde mais foram feitos atendimentos. E ali se colecionaram histórias. Apesar de o serviço ser totalmente gratuito, muita gente quer expressar com um gesto o agradecimento pelas consultas. Em Bom Jesus da Lapa, onde a equipe não conseguia encerrar o atendimento pela intensa procura, um paciente retribuiu com um ‘banquete’. “Ele trabalhava com peixes e disse que a mulher cozinhava muito bem. Convidou a equipe inteira para jantar e foi um cardápio maravilhoso, com lagosta e camarão!”.

Nem sempre as lembranças são as mais alegres. “Em Pirenópolis visitamos um asilo que até agora, quando me lembro, me dá vontade de chorar”, conta Sílvia. “Era triste cada vez que a gente saía de uma cidade, fica aquela sensação de que se poderia fazer muito mais por eles”.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira