Seguindo por 2 km logo após a entrada principal do Parque Provincial do Aconcágua, do lado esquerdo, as cascatas de gelo se formam pelo congelamento de água que desce pelas encostas.
A dupla se encorda, cada uma em uma ponta. O escalador que vai guiar coloca os parafusos de gelo, costuras, fitas, mosquetões com trava, atc, na cadeirinha, mais a terceira ferramenta, que é uma piqueta menor para ajudar na colocação dos parafusos.
O segundo fica com um atc, um desentupidor de parafusos e uma fita. O primeiro se aproxima da base da parede, coloca um parafuso no gelo, uma costura e passa a corda pela costura. Usando os crampons e uma piqueta técnica em cada mão começa a escalar, enfrentando a gravidade. Vai subindo, colocando mais parafuso até encontrar um lugar legal, ou terminar a corda e monta uma parada com dois parafusos.
Na parada se prende pela solteira, recolhe a corda até poder sentir o segundo nela, coloca o atc e dá segurança para a subida do segundo até a parada. O que sobe retira os parafusos do gelo e retira o gelo de dentro dos parafusos, que entupidos não entram no gelo. Chegando na parada se prende pela solteira. Aí tudo recomeça. O que vai guiar veste o equipamento e sobe.
Tudo muito parecido com a escalada em rocha. No gelo, entretanto, colocamos todas as proteções, que são os parafusos, usamos piquetas e crampons; roupas especiais, óculos para gelo, capacetes, luvas e as temperaturas rondam os cinco graus Celsius negativos. Uma queda é mais perigosa que na rocha. Com tantas pontas de ferro, existe o risco de se ferir com as piquetas ou crampons. Assim, a queda é menos aceitável que na escalada em rocha.
Tivemos muita sorte com o clima, que foi excelente nos cinco dias de escalada. No último dia entramos na cascata mais vertical da parede. A primeira a guiar foi a Ana Elisa, que voou pelos ares quando suas piquetas saltaram do gelo em uma colocação de parafuso. Ela encarou a queda, recomeçou a guiar e mandou a via de uma forma impecável.
A Marina subiu em seguida usando as costuras já colocadas pela Ana Elisa. Na descida a Marina retirou as costuras e parafusos e o AC entrou na via, dando dois vôos impressionantes, mas surpreendeu com a determinação, entrou na via e mandou, descendo exausto, mas feliz. Mais duas argentinas entraram na via usando as proteções que o AC colocou. Já estava escuro quando o Pizaro e eu desmontamos a via e descemos. Foi um dia espetacular que fechou um curso animal de bom.
Vitor Negrete, juntamente com Daniel Pizaro*, guiou um curso de escalada em cascatas de gelo. O curso rolou nas paredes na entrada do Aconcágua. Depois do curso, Marina e Vitor vão tentar chegar até Plaza Francia, o acampamento base da Parede Sul, no inverno, quando as temperaturas são extremamente baixas. Toda travessia será feita com raquetes para gelo. Ainda existe o risco de avalanches que descem pelas encostas da montanha. Saiba mais desta e de outras expedições em www.vitornegrete.com.br
*Daniel Pizaro – abriu uma variante na parede sul, uma saída para a direita no final da pala Mesner. Assim como Rodrigo e Vitor, ele e seu irmão não conseguiram mandar a pala em um dia e também passaram uma noite terrível a 6.700m na parede sul, na base de uma pedra, ao lado do imenso serac. No dia seguinte, resolveram cortar para a direita, abrindo uma nova via. Ele é um dos melhores escaladores argentinos.
Este texto foi escrito por: Vítor Negrete
Last modified: julho 22, 2003