Exclusivo – O Webventure ouviu o empresário Renato Scatolin, um dos sócios-fundadores da Mata ‘Dentro, a empresa envolvida no acidente que culminou com a morte da bancária Andréia Cristina da Silva, durante a prática de rapel em cachoeira, no último sábado, em Brotas (SP). A causa do acidente ainda não foi esclarecida: a polícia está investigando o caso e periciando os equipamentos usados pela vítima. Andréia teria caído durante a descida da cachoeira Figueira (40 metros) – uma das duas previstas naquela atividade – localizada no sítio Três Quedas, a 20 km de Brotas.
Scatolin não deu detalhes do acidente. Ele afirmou que a equipe que estava atendendo o grupo de 29 pessoas integrado por Andréia era formada por instrutores capacitados e treinados inclusive em primeiros socorros. Todos os clientes já haviam descido a primeira cachoeira, Andorinha (20 metros), e 24 desceram a Figueira antes de Andréia.
Atividades retomadas – As atividades na agência foram suspensas até o dia seguinte ao acidente. Durante esta semana, somente a prática de técnicas verticais não foi retomada, mas voltará a ser executada a partir do próximo sábado, em outra cachoeira. A empresa está acompanhando a investigação da polícia, prestando depoimentos, e Scatolin afirma estar em contato contínuo com a família da vítima.
Nascida em Brotas, a Mata ‘Dentro atua há 10 anos e segundo o sócio atende 10 mil clientes anualmente, sendo que metade deste público opta pela prática de técnicas verticais além do rapel em cachoeira, a empresa também oferece uma tirolesa. São quase 11 anos de trabalho e nunca tínhamos tido um acidente grave. Fazemos um trabalho sério, não somos negligentes. Ainda assim tivemos um fato lamentável, comenta. “Qualquer pessoa que trabalhe com esporte de aventura sabe que esta é uma possibilidade que existe.”
Confira nos links abaixo a entrevista na íntegra.
Webventure O que foi relatado a você sobre o acidente?
Renato Scatolin O que eu sei é o que eu vi, e não foi muito. No sábado, eu estava na minha casa, em Brotas (SP), e fui avisado de um acidente durante o canionismo na cachoeira Figueira, no sítio Três Quedas, a 20 km de Brotas. Me dirigi ao local e no caminho cruzei com a ambulância. Como nada poderíamos fazer no hospital, seguimos para o sítio para cuidar das pessoas que estavam no grupo. Não sabia da gravidade do acidente até então.
Quando chegamos lá soube que era um caso de extrema gravidade. Os guias que estavam com o grupo me passaram que a Andréia tinha saído dali viva, com batimento cardíaco, mas que seria muito difícil que ela sobrevivesse em virtude da gravidade do acidente. O coordenador da atividade tinha ido na ambulância com ela. O restante do grupo estava alojado numa pousada próxima da cidade. Fomos até lá.
Ao chegar na pousada fui informado do falecimento. A partir dali passamos a cuidar de receber a família da Andréia em Brotas, prestar assistência e amparar o grupo.
Webventure Mas o que lhe contaram sobre o que aconteceu na hora do acidente?
Scatolin Um acidente não ocorre por um único fato, mas uma conjuntura de fatores. Como eu não estava lá e tudo o que tenho é o que eu ouvi, não se sabe até onde é fato… Como envolve uma questão judicial, criminal, eu me reservo o direito de não falar no momento. O que posso dizer é que aquele grupo de instrutores estava preparado. Os menos experientes tinham um ano trabalhando com a gente. O coordenador está aqui há seis. Trabalhamos com ISO 14001, então temos procedimentos que estão escritos e arquivados, que são distribuídos a todos os instrutores, e os nossos treinamentos também são registrados. Existe uma carga-horária mínima que determina até onde cada um pode ir por conta de sua experiência. Ou seja, nossos instrutores são habilitados para isso. O que aconteceu a gente não sabe.
Webventure A mesma equipe trabalha durante todo o fim de semana ou há um revezamento?
Scatolin Dividimos a nossa equipe em Verticais, que é a área que inclui o canionismo, Águas brancas e Trekking. A equipe de Verticais atua em duas opções de rapel na cachoeira: o batismo, para iniciantes, e um mais avançado. Também atua com uma tirolesa. Dos 10 mil clientes que a Mata ‘Dentro tem anualmente, pelo menos cinco mil escolhem atividades verticais.
Webventure Esta equipe que atendeu o grupo da Andréia estava programada para trabalhar no dia seguinte ao acidente? Eles costumam trabalhar durante todo o fim de semana?
Scatolin Sim, eles tinham atividade no domingo e naquele sábado tinham outro grupo para atender na parte da tarde. Conforme a demanda, acontece de trabalharem durante todo o fim de semana.
Webventure Era um grupo de cinco instrutores para quantos clientes?
Scatolin Eram 29 clientes. Eles deveriam descer duas cachoeiras. A primeira, Andorinha (20 metros), eles já tinham descido. A Figueira (40m) 24 pessoas tinham descido antes da Andréia.
Webventure Vocês continuam com as atividades?
Scatolin – No sábado e no domingo passados, cancelamos as atividades por motivo psicológico e para fazer uma revisão de procedimentos. Durante a esta semana também não operamos o vertical. Neste fim de semana vamos fazer o rapel, mas em outra cachoeira. As atividades de canionismo naquele roteiro só devem ser retomadas em 25, 30 dias, só após o Carnaval. Isso porque vamos avaliar o acidente, os procedimentos, tentar descobrir o que podemos fazer a mais, no que poderíamos melhorar em termos de segurança. Vamos testar esses novos procedimentos, treinar a equipe com eles. Em relação ao acidente em si, o que nos resta é aguardar a apuração eu e outros dois guias já prestamos depoimento e dar amparo a todos os envolvidos.
Webventure A questão de Brotas não ter um posto dos Bombeiros na cidade preocupava a empresa?
Scatolin Não porque a nossa equipe é preparada para atendimento de emergência e primeiros socorros. Há pelo menos quatro anos temos uma parceria com o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, na qual trocamos tecnologia e know-how em treinamento. Demos a eles o treino em água, para resgate em enchentes, coisa que eles não tinham. E eles, em contra-partida, nos treinaram para resgate, primeiros socorros e manutenção da vida. No momento do acidente entendo que o profissional do esporte é o mais apto a fazer isso porque é ele que está no local do acidente.
Webventure A equipe que estava atuando no acidente do sábado era treinada para isso?
Scatolin Sim. A perda de uma vida é um fato triste, lamentável, irreparável, mas também já pudemos salvar vidas…
Webventure Já havia acontecido algum caso grave no canionismo?
Scatolin Na prática do canionismo tivemos apenas casos de mau-súbito, desmaio. Em águas brancas já houve caso de parada cardíaca, respiratória e os guias foram aptos a dar manutenção de vida durante todo o tempo necessário.
Webventure O que este acidente vai mudar na empresa?
Scatolin A gente tira muitas lições disso. Infelizmente às vezes temos que passar por algumas dificuldades, fatos irreparáveis, lamentáveis como este. Entendo a seriedade do nosso trabalho. Nós treinamos, capacitamos, temos os melhores equipamentos, não somos negligentes e ainda assim tivemos um fato lamentável. São quase 11 anos de trabalho e nunca tínhamos tido um acidente grave apenas cortes, fraturas, mesmo assim casos raros. Mas qualquer pessoa que trabalhe com esporte de aventura sabe que esta é uma possibilidade que existe. Tenho que aprender a conviver com o risco. Mesmo fazendo o possível, ele existe.
Vamos continuar trabalhando, daremos um salto de qualidade ainda maior. Afinal somos o referencial de Brotas e temos recebido muita solidariedade das empresas. Elas se uniram e não estão apontando culpados. Não é o momento disso. Afinal, aqueles profissionais são pessoas que estavam lá trabalhando, que já atenderam milhares de clientes com êxito e proporcionaram felicidade para muita gente.
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Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira