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Agricultor edita jornal independente no interior de Roraima


Jornal O Sucuri é editado na própria comunidade (foto: Alexandre Koda/ www.webventure.com.br)

Roraima, o estado mais setentrional do país, possui ótimos locais para a prática de esportes de aventura e ecoturismo, mas esconde também em meio à florestas e mata virgem, pequenas comunidades que sobrevivem graças à agricultura. Um dos exemplos é a região da Vicinal do Rio Branco, no município de Cantá, local onde o Sr. Jair Ribeiro edita um jornal independente com recursos próprios há dois anos, o informativo O Sucuri.

“Durante toda a minha vida eu trabalhei em jornais privados, como em Fortaleza (CE), depois no Diário do Amazonas, Folha de Boa Vista, entre outros. Com 60 anos eu cansei disso tudo e vim para o interior”, conta Ribeiro, que administra um sítio na região da Vicinal do Rio Branco, uma das estradas de terra que dá acesso à Serra Grande, ponto turístico procurado por aventureiros em busca de trilhas desafiadoras.

Depois que largou a cidade grande, ele teve que se adaptar ao estilo de vida no interior e inclusive aprender a dominar os percalços da agricultura para sobreviver. “Eu fiz praticamente tudo errado, tinha uma renda mensal na faixa dos três mil reais, deixei tudo para trás e tive muitos desafios. O problema é que a agricultura oscila muito”, desabafa.

Para melhorar as condições, hoje ele também tem uma pequena criação de gado e está modernizando a plantação, com um sistema de irrigação e o início do plantio de frutas como abacaxi, laranja, mamão e melancia.

O início – Apesar da vontade de levar uma vida longe dos jornais, a paixão pela arte de se produzir uma publicação falou mais alto e ele resolveu criar um informativo para as pessoas que moram e trabalham nas proximidades. “Quando circulei a primeira edição, logo começamos a ir atrás de assuntos do município e ir falar com as autoridades”, conta Ribeiro.

Segundo ele, na hora de batizar a publicação, ele pensava em dar o nome de Bandeira Branca, por se tratar de um veículo “nem lá nem cá, no meio tempo”, como ele mesmo define. Após algumas reflexões e votações, ganhou O Sucuri, para homenagear a serpente que habita a região. “Hoje ele circula em todo o município, inclusive nas comunidades indígenas e no Ministério do Turismo, em Brasília”.

Os assuntos são os mais variados, como eventos realizados no município, ações de deputados, vereadores e outros políticos, além de uma página social na qual constam entrevistas com moradores e uma lista de aniversariantes do mês. A distribuição é gratuita e os custos são pagos pelas páginas vendidas aos políticos. “Hoje tenho apenas uma página vendida a R$ 500. Teve mudança de prefeito em Cantá e o novo ainda não comprou nenhuma página. Ele disse que ia comprar duas, mas ainda estou esperando”, lamenta.

Sr. Ribeiro é o responsável pela pauta, execução das matérias, fotografia, edição e revisão, mas conta com a ajuda da família e amigos para auxiliar em alguns pontos. “O papel um amigo manda de Manaus, faço as matérias aqui, levo para minha filha em Boa Vista para diagramar e depois mando rodar na gráfica. Ele não dá lucro, mas graças a Deus está circulando”, comemora o agricultor. “Sempre que chego nos eventos o pessoal já me chama, quer conversar sobre a região, é muito gostoso. O povo dá valor”, enfatiza com orgulho.

Atualmente a tiragem está em 1.200 exemplares e a distribuição também é feita pelo próprio Sr. Ribeiro, que deixa 500 na Secretaria de Agricultura, que se encarrega de entregar nas comunidades e depois leva o resto para outras regiões. “Desde 2007, tive que interromper algumas edições por questões financeiras. Ele não me dá renda, pelo contrário, me tira algumas vezes, mas não penso em parar”. Sempre bem humorado, ele brinca: “O jornal é minha cachaça”.

Este texto foi escrito por: Alexandre Koda