Paulinho afirma que no MTB o mais caro é o melhor (foto: Divulgação)
Feras dos principais esportes de aventura do Brasil participaram de um debate virtual organizado durante a 2ª Semana de Segurança Webventure, que aconteceu entre 8 e 13 de julho. A divulgação da aventura como esporte de risco e a relação entre qualidade e preço de equipamentos de segurança foram os tópicos mais discutidos. Acompanhe abaixo os melhores momentos do bate-papo, divididos em assuntos e links. E lembre-se: não existe aventura sem segurança!
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Saiba quem é quem*:
(*) Os demais apelidos são de internautas do Webventure.
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Segurança no Brasil
WEBVENTURE pergunta a TODOS: A primeira pergunta para vocês: existe segurança nos esportes de aventura no Brasil?
joao roberto: Acredito que todo equipamento necessário já está a disposição dos brasileiros, é só criar o hábito de usá-los. Isso pode levar um pouco de tempo.
Esdras: Segurança está diretamente ligada a organização e ao respeito dos limites de cada um. Se são ultrapassados estes limites, a probabilidade de acontecer algo aumenta de forma geométrica…
Jean Claude Razel/Alpinismo: No Brasil as coisas andam muito rápido. Em Brotas, que é um verdadeiro laboratório de esporte aventura do país, as coisas passaram da Idade da Pedra ao século 21 em três anos. Mas ainda tem muito o que fazer. Segurança é a coisa mais ingrata do mundo: mesmo quando existe, pode ser melhorada…
WEBVENTURE pergunta para Jean Claude Razel/Alpinismo: Por que ingrata, Jean?
Jean Claude Razel/Alpinismo: Porque tanta coisa pode acontecer e fica quase impossível prever SEMPRE TUDO. Pode ser muito preparado, acidentes acontecem. Um minuto de falha e já era. Sempre uso a analogia do Senna: morreu dirigindo F1, isso significa que era um piloto ruim?
Brotas Aventura fala para Jean Claude Razel/Alpinismo: Quais são, no seu ponto de vista, os pontos ainda deficientes?
Jean Claude Razel/Alpinismo O que precisa melhorar ainda: formação de mão de obra; responsabilidade civil para profissionais; diploma federal para profissionais de esporte aventura.
SKG: concordo com o Esdras e Jean Claude; segurança está diretamente ligada ao planejamento e ao respeito aos limites individuais e coletivos; prever TUDO é impossível, porém podemos minimizar ao máximo o potencial de acidentes, usando bom senso, educação continuada, treinamento de qualidade e respeitando o meio ambiente e as pessoas.
exploranter: Segurança é uma questão de atitude.
WEBVENTURE pergunta: Como cada um aqui avalia a situação da segurança hoje, no Brasil, a atividade que pratica?
ismail: Pratico alpinismo e, como já falaram, é um segundo e já era. Às vezes as pessoas não têm idéia da importância de cada passo com atenção e consciência.
Cristiano – cicloturismo: falando sobre ciclismo: o respeito pelo ciclista é bem pequeno… no trânsito das cidades e nas rodovias principais… Agora, se você for para as cidades pequenas e estradas vicinais, a coisa muda de figura totalmente.
Paulinho Sampa Bikers: Para os ciclistas, praticamente não se tem respeito aqui no Brasil, pois tem-se um preconceito muito grande com a bicicleta – coisa de pobre.
Cristiano – cicloturismo: concordo com o Paulinho. O interessante é que, ao usar equipamentos de segurança, além de estar mais protegido, você também passa uma imagem mais séria e o respeito aumenta.
Esdras fala para WEBVENTURE: Bom, durante estes 10 anos tivemos poucos acidentes nas provas. Tivemos em Socorro um pé quebrado. O mais importante neste caso foi a rápido deslocamento do pessoal que chamamos de resgate na prova. A presença do pessoal da organização é fundamental, é óbvio que este pessoal deve ter preparo adequado.
JJ: Participo de rali de velocidade e a segurança é um quesito do qual eu e o meu amigo não abrimos mão.
Paulinho Sampa Bikers: Tenho visto nessas corridas de aventura o pessoal usando muitas drogas para ficar mais ligado, ter mais resistência ou coisa parecida. No ciclismo profissional acontece o mesmo e punições são dadas aos atletas. Que tipo de trabalho é feito contra isso nas corridas de aventura?
EdmilsonDesafioCostadoSol: Bem, até agora nenhuma prova usar antidoping. Nós tentamos fazer ano passado um teste mas nao deu certo devido ao laboratório.
Jean Claude Razel/Alpinismo: Em corridas de aventura o problema de doping nunca saiu, mas vai sair logo porque está ficando feio nas grande provas…
EdmilsonDesafioCostadoSol fala para Jean Claude Razel/Alpinismo: Sempre que organizamos uma corrida de aventura aqui na Paraiba levamos em consideração a segurança e qualidade do evento. Nesses três anos de provas temos trabalhado com o GABS – Grupo de Açoes em Busca e Salvamento -, um pessoal voluntário que trabalha sério.
WEBVENTURE pergunta para TODOS: E a questão do dinheiro? Quando segurança envolve uso de equipamentos específicos, tem gente que não tem como se bancar, não?
Jean Claude Razel/Alpinismo: Esporte de aventura é coisa de privilegiado… custa caro sim.
Paulinho Sampa Bikers: Na bicicleta, o pessoal que pratica mesmo está bem consciente e usa o capacete. Para aqueles que estão começando o difícil é convencer que, além de capacete, é importante ter uma boa bicicleta. Só que isso custa caro. Tem muita gente que quer praticar mountain bike, ciclismo ou cicloturismo com bicicletas vendidas em supermercados ou grandes magazines, tipo 150 a 300 reais. Isso, na minha opinião, é arriscar a vida. Uma boa bicicleta custa pelo menos mil reais.
WEBVENTURE fala para Paulinho Sampa Bikers: E agora tem equipamento pra bike vendido em supermercado também. Já vi capacete de 20 reais… dá pra confiar?
Paulinho Sampa Bikers: Claro que não. Um capacete razoável custa uns 80 reais.
EdmilsonDesafioCostadoSol: Um equipamento muito caro não significa que vai oferecer mais segurança.
Paulinho Sampa Bikers: Mas, normalmente, pelo menos no ciclismo, o equipamento mais caro sempre é o melhor.
EdmilsonDesafioCostadoSol: Pelo menos no alpinismo, por exemplo, um mosquetão da CAMP que for mais caro que um da PETZL não significa que é mais seguro.
SKG: Acho estranho falar em estar consciente, treinamento de qualidade, etc e questionar a importância da qualidade dos equipamentos. De que adianta conhecimento e tecnologia, se, na prática, é só discurso? Os melhores equipamentos AINDA são caros, porque o mercado (consumidores) ainda engole qualquer coisa. Como mudar esta realidade? Com informação, treinamento e qualificação dos profissionais e praticantes. Só sabendo o que e como usar, haverá critério para exigir qualidade e preços melhores.
joao roberto: O problema, além da conscientização, é o custo mesmo, tem muita gente que até gostaria de ter o melhor, mas grana que é preciso está em falta. Vai levar algum tempo ainda.
Leylouca fala para joao roberto: Mas é aí que entra o talento de marketing do cara ou da equipe. Tem muitas empresas investindo em patrocínios. Perigo sempre chama atenção da mídia e é isso que patrocinador gosta.
exploranter: Equipamentos de segurança na mão de quem não quer ou não sabe usar não adiantam nada.
SKG: A discussão em torno de custos é legítima, porém, vi na prática que muitas vezes é desculpa para justificar atitudes irresponsáveis e interesses financeiros em detrimento da segurança alheia. Já conversei com donos de operadoras, e fiquei assustada com a propaganda enganosa: muitos alardeiam que vendem segurança, mas na verdade vendem uma farsa; não investem em treinamentos de primeiros socorros de qualidade porque são caros. Acham mais importante investir em equipamentos visíveis.
exploranter: Eu odeio, e ódio é uma coisa muito forte, as pessoas que aliam os esportes de aventura ao risco. Isto espanta mais gente do que atrai. Assim não se forma mercado.
WEBVENTURE pergunta para exploranter: Mas você não acha importante alertar? O mercado está acima disso?
exploranter: Uma coisa é alertar. Outra é vender O Rally da Morte e coisas do gênero. Eu pratico esportes de aventura desde os anos 70 e nunca quebrei um osso. Será que eu não me diverti? Será que eu não testei os limites? Claro que sim, mas com consciência.
Brotas Aventura fala para WEBVENTURE: O legal é informar que tem um certo risco, mas que temos como prioridade a segurança de clientes.
WEBVENTURE responde para Brotas Aventura: Existe certo risco? Por que não dizer algo do tipo: Rafting é esporte de risco. Escolha com cuidado a operadora. Assim se assume que é arriscado, mas pode-se dizer como CONTROLAR mais este risco, como a SKG disse. Sem essa de dizer é meio ou é um pouco arriscado…
Brotas Aventura fala para WEBVENTURE: ë um ótimo slogan.
exploranter fala para WEBVENTURE: Sim, tenho certeza que essa imagem exacerbada do risco afasta novos praticantes. Eu sempre fui tachado de louco pelos esportes que fiz e eu sei que os meus esportes machucam menos do que vôlei e futebol. Eu tento atrair mais praticantes, mas todos acham perigoso.
SKG: Quem procura aventura quer adrenalina e emoção, mas o que tenho visto e percebido no contato com praticantes é um enorme amor pela vida. Quem vive ‘na’ ou ‘da’ aventura, quer morrer velhinho e praticando; por isso discordo totalmente de relacionar aventura com risco e morte. Existe o risco e o inesperado, porém o desafio é ser capaz de eliminar ao máximo os riscos para praticar sempre e cada vez melhor.
exploranter: Deveríamos alardear o prazer de estar na natureza, de estar explorando seus limites (não extrapolando!!!)
WEBVENTURE fala para SKG: Acredito que você esteja se referindo então àqueles que dizem: vamos lá, é demais ter a vida por um fio …
exploranter: É um amor incontido pela vida que move os verdadeiros aventureiros. Quem gosta de risco desmedido e morte é louco e suicida.
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: julho 31, 2001