Tudo pronto para a Expedição Mata Atlântica 1999. Em reunião ontem a noite com os representantes das 33 equipes participantes de prova, o criador e organizador geral da EMA, Alexandre Freitas foi enfático em preparar todos os competidores para uma competição com um grau de dificuldade redobrado em relação a prova do ano passado. “Agora estamos em outro patamar, no ano passado a EMA era apenas para introduzir o esporte no Brasil. Agora vai ser pra valer”, alertou. Alexandre faz questão de deixar claro que as expectativas para a prova deste ano são inteiramente distintas do que foi no ano passado, como explicou em entrevista a Webventure como vai ser a EMA 1999.
Webventure: Como você vê o crescimento da EMA em relação a prova do ano passado?
Alexandre Freitas: Não é que ela tenha duplicado, ela quintuplicou de tamanho, e não é só a distância, as dificuldades da prova este ano também são maiores. Em termos de esporte da aventura eu acho que ainda não aconteceu nada ainda, tem muito o que acontecer. A Expedição Mata Atlântica não está nem a 2% do que ela deve ser, eu digo até o esporte da aventura no geral. Então eu acho que fomos muito felizes com o tema. Fizemos uma prova que pegou na veia do que está para acontecer. Relacionado com os esportes de aventura, com ecologia, com romper dificuldades, desafios, superar limites, estratégia, equipes. Essa é a idéia.
Webventure: E como é está parceria da EMA com o ELF Adventure
Freitas: Estamos hoje anunciando essa parceria onde a primeira equipe totalmente brasileira que chegar melhor colocada na EMA vai ganhar uma vaga gratuita para o ELF Authentique Adventure. Veja bem, nós estamos mudando até de patamar. São provas grandes. A EMA hoje é a quarta prova do mundo em tamanho. Mas a ELF é a maior do mundo, são doze dias de prova. Quem faz uma Expedição Mata Atlântica, tem condições seguras de participar de uma ELF. Mas é uma tremenda estratégia, dobra o tempo, são 800 km de prova, bem maior do que a EMA. Mas eu estou satisfeito com a prova, acho que temos que ir com calma, sem ganância, e os nossos 400 km de EMA este ano já estão bem difíceis, bem legais.
Webventure: O que você diria para quem fez a EMA 98 e está se preparando para a EMA 99?
Freitas: Eu volto a falar sempre. No ano passado nós fizemos uma prova onde todo mundo no final vinha me dizer: “poxa você disse que ia estar muito difícil, e foi bem mais tranqüilo”. O que a gente queria é que todo mundo entrasse no esporte, aprendesse e ficasse contente, tivesse condições de terminar. Este ano nós estamos fazendo uma prova onde se o cara não estiver treinando estratégia, não só de força física, a própria documentação, a organização a equipe, o que vai levar, estudar todos os detalhes. Se não tiver tudo certinho não vai conseguir terminar a prova e a Expedição. Nós fizemos uma prova difícil, onde eu acredito que no máximo 10 equipes vão terminar, que é a Expedição, a prova com os 400 km. Só que para ter uma prova onde todo mundo comece e termine, nós colocamos uma prova chamada Expedição (a mais difícil com 400km), outra chamada Aventura (350km) e nós temos outra chamada Alternativa com 250km. Então todo mundo começa, a partir de um certo Posto de Controle (PC) se a equipe não chegou até uma determinada hora ali ela passa automaticamente para uma prova mais fácil, e assim vai indo. Neste momento nós vamos ter duas provas acontecendo: a Expedição e a Aventura, e ainda mais, o pessoal mais fraco já vai estar correndo na Alternativa. Com isso todo mundo começa, algumas equipes saem da prova principal para uma paralela, com menos atividades, e no final todo mundo se encontra de novo. Isso serve como um estimulo, porque quem cair para a Aventura ou para a Alternativa vai sentir a diferença entre o pessoal que terminou a Expedição e vai treinar mais forte para ter condições de terminar a principal no outro ano.
Webventure: Você tem acompanhado as equipes que estão treinando para a EMA deste ano? Você acha que o pessoal está se preparando bem ou vai ter gente que vai chegar lá na hora e vai tomar um susto com a dimensão da prova?
Freitas: Eu acho! Eu acredito que do ano passado para cá a prova está crescendo mais do que as equipes estão treinando. Por isso eu acho que se no ano passado 22 equipes conseguiram completar a prova, este ano somente dez equipes vão conseguir terminar a prova principal. A prova cresceu muito mais em dificuldade do que as equipes conseguiram absorver. Essa é a idéia que eu tenho hoje olhando pelo que eu conheço das equipes, eu estou em contato direto com muitas que estão treinando.
Webventure: Como está sendo montar a EMA 98? Deve ser uma logística complicada, manter o local em segredo e ao mesmo tempo fazer todo o levantamento.
Freitas: É muito complicado. Eu sou sócio de uma empresa financeira e de uns dois anos para cá larguei tudo para cuidar da EMA. O que eu posso lhe dizer é que é muito mais complexo do que cuidar de uma empresa. É preciso pensar em tudo: como vai ser o resgate, atendimento para a mídia, parte médica, documentação, e mais um monte de outras coisas. Fora montar a própria prova que é outra história. Isso de ficar escondendo o local é algo que hoje eu já não tenho mais muita certeza se isso vale a pena. Porque o que vale mesmo é o que está na minha cabeça: os PCs, as áreas de transição, tudo isso que está na minha cabeça. Então se fosse desse jeito como é que iriam fazer lá na Nova Zelândia, no Southern Traverse, onde eles fazem a prova todo o ano no mesmo lugar. Lá tem prova todo o ano e todo o ano é legal. Isso não pesa muito, o que vale mesmo é onde estão os PCs, que é o que determina como vai ser a estratégia. Isso é algo que eu fui pegar o know-how hoje em cima de outras provas. O próprio Eco-Challenge que vai ser lá na Argentina, todo mundo sabe onde vai ser, na região de Bariloche. A prova do ELF também, o local não tem muito mistério.
Webventure: Para uma próxima EMA pode não valer mais a pena esta tensão de manter o local em sigilo?
Freitas: Eu já estou convencido de que vale a pena falar e anunciar antes o local. Não muda nada. O que vale é saber onde são os PCs e isso só eu sei. Esse é o sigilo da EMA. Das 80 pessoas que vão trabalhar na EMA deste ano somente eu sei onde são estes pontos de controle. É claro que eu não sou tão burro de não passar isso para lugar algum, se acontecer alguma coisa comigo não tem mais a EMA!! (risos). Claro que eu deixei um documento guardado onde outras pessoas tem acesso. Mas até esse momento só eu sei, a prova está montada e quando chegar a hora certa eu passo para as pessoas.
Webventure: Para o próximo ano vocês estão pensando em montar algo mais do que a EMA?
Freitas: Este ano nós já fizemos dentro desta parceria da ELF, da Alaya, através do Jean-Claude, com que o Raid de Brotas sirva como um treinamento para a Expedição Mata Atlântica. Para 1999 nossa idéia é que a Sociedade Brasileira Multisport Adventure Race, que é a organizadora da EMA, nós vamos selecionar alguns lugares como Parati, o Petar, Bertioga, Campos do Jordão, e vamos criar três ou quatro provas de vinte horas aproximadamente que serviria como uma pontuação para dar vagas para a EMA 2000. A idéia é fazer mesmo um ranking brasileiro. Então um determinado número de vagas para a EMA já vai estar reservada para os melhores colocados neste ranking, outro número será sorteado, também um número para convidados e para os primeiros inscritos. Mas o objetivo é estimular os atletas a treinarem. O ranking também deve facilitar o contato com possíveis patrocinadores, já que o atleta na hora de procurar o patrocínio tem uma posição concreta para mostrar, ele passa a ter um valor real para negociar o patrocínio.
Outro projeto nosso é montar uma clínica de esporte de aventura em alguns finais de semana. Quem nunca fez esporte de aventura ou uma competição como a EMA pode ir lá e tomar contato com o esporte e com a prática destas modalidades com instrução adequada.
Este texto foi escrito por: Gustavo Mansur