País exótico, diarreia exótica, banheiro público inacreditável. Que começo de texto, hein. Mas se imagine na paradisíaca Polinésia Francesa (Taiti) onde você foi fazer uma corrida de aventura e no jantar de confraternização foi servido um belo filé de garoupa. Meses depois, você continua com um quadro muito estranho: febre, dores articulares que vão e voltam, enfim, se sente miserável.
O que ninguém te contou é que em certas épocas do ano, alguns peixes têm sua carne contaminada por um bicho enjoadíssimo e não adoecem. Mas quem come o peixe pode ficar muito mal. Esta doença se chama Ciguatera, pode durar até um ano (ou mais) e não tem tratamento específico, então imagine sua viagem chegando ao fim e sua carreira de esportista indo para o ralo por um bom tempo.
Ou na Tailândia, onde certa vez eu estava em um tour de bicicleta e senti a necessidade de visitar o toalete. Tudo que encontrei lá dentro foi um balde com água e uma pá. A partir daí, passei a carregar lenços umedecidos e gel em álcool nestes lugares diferentes.
O importante é se informar antes de viajar, além de adotar certas normas como costume. Por exemplo tentar evitar, se possível, aqueles buffets populares, onde todo mundo mete o nariz, as mãos sujas e muitas vezes a comida não é acondicionada corretamente. Além de procurar checar a reputação dos restaurantes locais, quando existe a opção.
Água de restaurante, quando você não viu o garçom abrir a garrafa, dependendo do local também pode ser um problema, assim como o gelo do drinque.
Certa vez, voltando de uma competição de caça submarina, um amigo parou em um restaurante tipo buffet (no Brasil) e se esbaldou na comida. Terminou com uma forte febre, diarreia e desidratação. Ele contraiu uma infecção por Shigella, uma bactéria enjoadíssima, chegou a ser internado e ficou alguns dias no soro. Tudo por um lindo prato de mariscos!
Evite maioneses e molhos prontos de saladas, frutos do mar expostos por algum tempo (têm que ser feitos na hora), pratos exóticos muito condimentados e fique de olho na higiene do local onde você vai comer. Uma boa passada na área da cozinha ajuda muito.
Outro aspecto importante é saber o que você está pedindo. Mesmo conhecendo o idioma local, cuidado com os pratos. Por exemplo, no Equador, aji é uma pimenta vermelha, enquanto ajo é o nosso alho.
Enquanto equipes profissionais podem levar para as competições cozinheiro, nutricionista e alimentos, atletas amadores e esportistas não podem levar sua equipe de apoio, mas podem seguir medidas de prevenção, como procurar informações (para quem tem domínio do inglês, o site do governo americano www.cdc.gov pode ajudar) e até consultar um médico especialista em expedições ou em viagens.
Além disso, certas doenças regionais podem ser prevenidas com vacinas tomadas antes da viagem. Por exemplo, contra a encefalite japonesa, já ouviu falar? Uma doença infecciosa aguda, causada pelo Flavivírus, capaz de acometer o sistema nervoso central, que ocorre principalmente na Ásia. Os hospedeiros naturais são pássaros selvagens e suínos, mas a transmissão acontece através da picada de mosquitos infectados. Esta doença pode matar, mas existe prevenção, como evitar exposição nos períodos de maior atividade do mosquito, ao amanhecer e ao entardecer, usar roupas compridas, usar calçado fechado, utilizar repelentes e tomar a vacina.
Atletas de endurance precisam se prevenir destas situações pois ficam mais suscetíveis a muitas infecções devido às grandes janelas imunológicas. Um coisa que é comum é o paciente maratonista com aquelas bolhinhas no lábio, conhecidas como herpes, alguns dias após a prova, resultado da queda da sua imunidade. Não estou dizendo que as provas de endurance fazem mal, mas geram a janela imunológica, à qual o atleta deverá estar muito atento.
Nas áreas com malária é importante decidir se você vai fazer profilaxia medicamentosa (lembre-se que no fundo não é profilaxia, é tratamento, e muitas medicações usadas para tal tem efeitos colaterais e podem afetar sua performance), além dos importantíssimos cuidados para evitar tomar picadas de insetos.
Uma pergunta que o esportista sempre faz é estou resfriado, mas já melhorei, posso treinar?. A resposta é não, sob o risco de uma recaída da condição ou de uma infecção por um bicho oportunista.
A alimentação saudável, o treinamento sem exageros, a imunização e a necessidade de muitas vezes abortarmos o treinamento, e eventualmente a prova, por um simples resfriado evitarão problemas maiores e permitirão que sua carreira de atleta ou esportista se prolongue.
Mais detalhes sobre algumas doenças no site: www.cve.saude.sp.gov.br
Este texto foi escrito por: Dr. Gabriel Ganme
Last modified: setembro 18, 2014