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Altruísmo


Figura 2 (foto: )

Formigas e abelhas são conhecidas pela sua organização social, com divisão em castas de trabalho (operárias e soldados) e casta reprodutiva (rainha e machos).

As operárias normalmente não se reproduzem, ou em alguns casos, se reproduzem apenas muito eventualmente. As rainhas geram a casta das operárias e também as futuras rainhas que voarão e se reproduzirão fora do ninho, formando novas colônias. As operárias não deixam descendentes.

Este estilo de vida altruísta das operárias, trabalhando para ‘o bem da colônia’, aparentemente vai contra a idéia de seleção natural. A seleção natural age selecionando o conjunto de genes mais adaptado e os genes estão dentro de cada indivíduo.

As abelhas e a idéia de um animal não se reproduzir já intrigava o próprio Darwin, em seu livro “A Origem das Espécies”. Se o indivíduo não deixa filhos, como a herança deste comportamento pode ser perpetuada? Porque comportamentos antagônicos e egoístas, como o de viver independentemente e por conta própria, deixando seus próprios filhos, não surgem e se fixam na população?

A resposta a esta pergunta é simples, agora que a conhecemos. As operárias não deixam filhas mas deixam irmãs. O gene é passado, não da mãe para uma filha, mas pela irmã reprodutiva, que virará rainha de uma futura colônia. Cooperando com a construção e manutenção da colônia, a operária aumenta a chance de uma de suas irmãs se reproduzir e deixar descendentes e com isto, parte de seus genes.

Além disso, na maioria dos animais, deixar irmãos é quase tão vantajoso quanto deixar filhos. Isto porque a semelhança entre pais e filhos é a mesma que entre irmãos, ou seja, 50%. O ‘quase’ sai do fato que pais e filhos são exatamente assemelhados em 50% dos genes enquanto entre irmãos esta semelhança é uma probabilidade estatística. Pode-se ser de 100 a 0 % assemelhado com um irmão, mas com a absurda quantidade de genes, a média é de 50% (veja a figura 1).

Só que isto ocorre apenas na maioria dos animais. As abelhas, formigas e vespas são diferentes no que diz respeito à semelhança entre pais, filhos e irmãos. Estes animais têm um sistema reprodutivo diferente. Enquanto nós e a maioria temos pares de cromossomos, as abelhas e as formigas têm pares de cromossomos nas fêmeas e apenas um conjunto de cromossomos nos machos. Esta pequena diferença muda completamente as proporções de genes passados de pais para filhos e também entre irmãs nestes animais.

Da mãe, as operárias herdam 50% dos seus genes, como nós. Mas como o pai tem apenas 1 conjunto de cromossomos, todos os seus genes são transmitidos para seus descendentes. Até ai tudo bem, afinal a colônia é formada por operárias e rainhas, e a questão é: porque as operárias não deixam filhas, futuras rainhas, com 50% dos seus genes?

A semelhança – A resposta está na semelhança entre as irmãs. Como cada irmã recebe 100% dos genes do mesmo pai, a semelhança entre elas é maior que de mãe para filha. As irmãs se assemelham em média em 75% dos seus genes, enquanto mãe e filha se assemelham em 50% (veja a figura 2).

Com isto, uma operária que coopera efetivamente com a sobrevivência e melhor preparo de futuras rainhas, irmãs com 75% de semelhança entre si, elas estarão colaborando mais para a transmissão de genes que deixando suas próprias filhas com 50% de semelhança.

Cuidar dos filhos ou dos irmãos? – Esta é uma visão simplificada do sistema de reprodução destes animais, que fica um pouco mais complicado quando há espécies cuja fêmea é fertilizada por mais de um macho. E também porque, para as operárias, cuidar de seus próprios filhos machos pode ser mais vantajoso que cuidar de um irmão. Por isto, há variações neste sistema. Algumas operárias realmente têm filhos machos que voarão e se reproduzirão.

Juntando a maior semelhança entre irmãs que entre filhas com a grande vantagem da vida em uma sociedade muito bem organizada e eficiente, as abelhas e formigas operárias vivem muito bem e contribuindo para o sucesso reprodutivo da sua colônia. Colônia esta que aliás costuma ser considerada um super-organismo, devido ao fato da unidade de seleção acabar sendo a colônia ao invés do indivíduo.


Nota do Autor: Agradeço ao amigo Bareta, apesar de ter me ligado às 2 da manhã e me acordado, me convencendo de que este texto não estava tão indigesto quanto eu pensava…

Este texto foi escrito por: Cláudio Patto