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Ambrósio ainda não acredita que completou Dakar

Redação Webventure/ Offroad

Ambrósio afirma ter caído umas 20 vezes durante a prova. (foto: Maindru/Divulgação)
Ambrósio afirma ter caído umas 20 vezes durante a prova. (foto: Maindru/Divulgação)

O Rally Dakar já acabou há quatro dias, mas o piloto Carlos Ambrósio ainda não consegue acreditar que realizou o sonho de completar a prova mais difícil do mundo. “Para falar bem a verdade, a ficha não caiu totalmente”, reconhece o paulista, que conquistou a 50ª colocação entre as motos.

Nem as mais de 68 horas que gastou para cumprir os 16 dias de especiais são suficientes para colocar Ambrósio na realidade. “É difícil acreditar que venci o maior objetivo da minha vida. Foi uma prova duríssima, pesada e pensei diversas vezes que não conseguiria chegar ao fim”, admite Ambrósio, que teve a companhia de Jean Azevedo na bandeirada final – Sylvio Barros e Dimas Mattos não foram capazes de completar o Dakar.

De volta à rotina de trabalho em São Paulo, Ambrósio diz ainda nesta entrevista ao Webventure que não pensa em voltar a encarar tanto sacrifício. “Sinceramente, não faz parte dos meus planos disputar de novo o Dakar. Embora ainda seja cedo para dizer”, conta o piloto, que fala também sobre as quase 20 quedas que teve na prova, os adversários, os medos…

Webventure – Qual a sensação de ter completado o Dakar em sua primeira participação?
Carlos Ambrósio – Para falar bem a verdade, a ficha não caiu ainda totalmente. Ela está caindo aos pouquinhos. Foi uma prova duríssima, pesada e pensei diversas vezes que não conseguiria chegar ao fim.

Mas foi mais difícil do que esperava?
Em termos de percurso, não. Já sabia que ia ser complicado. Fui pego de surpresa no que diz respeito ao resto da prova. Dormi muito pouco, passei frio demais, os horários eram extremamente rigorosos… Teve dia em que fui dormir às 23 horas e quando eram 3h30 já estava no deslocamento.

As dores no ombro foram seu grande adversário?
Principalmente nos primeiros dias. Pouca gente lembra que eu operei o ombro em 29 de novembro, e cheguei completamente fora de condição para o Dakar. O médico que eu havia consultado tinha até me proibido de disputar o rali, mas resolvi arriscar.

Mas quando encarou a maior dificuldade?
Na etapa de areia fofa de Portugal, logo na abertura do Dakar. Não conseguia nem levantar o braço, que doía demais. Por isso não sentia firmeza para segurar a moto e caí umas 11 vezes. Só fui entrar em ritmo de competição lá pelo segundo dia no Marrocos (quarto dia de Dakar).

Por conta dessa limitação, como avalia sua 50ª colocação no geral?
Eu não tinha expectativa nenhuma com relação a uma posição final. Só queria terminar o Dakar, ainda que fosse entre os últimos. Até por isso, ter completado em 50º foi uma surpresa muito boa.

E quantas posições poderia ter melhorado se corresse com 100% de condições físicas?
Não dá para dizer que teria sido bem melhor, que teria brigado por vitórias ou essas coisas. O pessoal da frente anda forte demais. Acho que ficaria lá pelo 40º lugar.

Já que tocou no assunto, o que achou dos pilotos de ponta como o Cyril Despres e o Marc Coma?
O Despres eu já conhecia, do Las Pampas e do Sertões. Mas, fora da prova, deu para perceber que tanto ele quanto os outros são bastante acessíveis e simpáticos. O Despres até chegou em nós, brasileiros, e falou que estava feliz por nos ver lá.

E como viu a tocada deles?
É um negócio impressionante. Eles andam forte demais, são muito bons e corajosos. Não dá nem para usar como desculpa a diferença de equipamento. Para completar, eles ainda são sempre os primeiros a abrir as trilhas, e andam sem qualquer rastro, a mais de 150km/h.

Qual foi seu maior medo durante o rali?
Foi numa etapa na Mauritânia, em que pegamos tempestade de areia, lama, pedra e, depois de tudo isso, ainda tinha uma especial de mais de 400 quilômetros. Estava morrendo de medo de ter que fechar a especial na escuridão. Quando cruzei a linha de chegada, montei minha barraca e um minuto depois caiu um breu total. Quem ficou para trás só conseguiu chegar de manhãzinha. No escuro, para as motos, é ruim demais. A velocidade cai para 30% por conta da luz fraca.

Você falou que caiu 11 vezes só numa etapa. Quantas quedas calcula que sofreu ao longo do Dakar?
Ah, deve ter chegado numas 20 quedas. Não tem como passar os 16 dias sem cair nenhuma vez. Mas é verdade que eu exagerei um pouquinho (risos). Acho que a média do pessoal é de cinco ou seis quedas.

Este texto foi escrito por: Jorge Nicola

Last modified: janeiro 25, 2007

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